Sou do signo de peixes, um para cada lado. Posso imaginar que esteja aí, meu particular enigma. Até hoje, não sei se nasci fora de época ou se errado em tempos errados.
Tal qual o signo, ainda me permito hesitar a quem culpar. Tempos trapalhões ou dificuldades de adaptações. Uma bela confusão, que minha inteligência tem tratado como insolúvel; isto se eu for inteligente, o que também tenho posto em dúvida.
Para começar, nasci em época da maior confusão que o homem arranjou para si. E isso, logo depois de uma primeira e até “poética” trapalhada, com aviões aprendendo a voar, ainda com duas asas e com cavalos no centro dos tiroteios. A maior dificuldade deles é que já existia a metralhadora, e a sem fumaça. O que fez com que apelidassem aquela contenda de “guerra das metralhadoras”. E elas não eram obedientes quanto a quem e o que acertavam, fossem homens ou cavalos; assim de cavalaria, hoje, só em desfiles ou especiais repressões.
A segunda polêmica armada começou antes de minha chegada, mas seu auge, bomba atômica à parte, foi para que eu não viesse sem festa. Ainda mais que há muito, meu pai voava bem “pra” cacete.
Mas, a ilustração ao começo de minha vida, era uma contenda até bacana. A ciência se desenvolvia rápido, comunicações, radares, navios, submarinos, canhões, aviões então uma festa. Chegando até ao computador, o mais formidável bebê da ocasião.
Lembranças de seu inventor deixaram maculada sua história. Por ser homossexual, algo inadmissível aos bretões, por isso levado ao cárcere e a castração química. Mas, seu legado vindo comigo, está aí e hoje dominando a humanidade.
Isto tudo aí era que eu pensava ser assim e a visão que me foi dada a conhecer. Inclusive o ensino de sempre procurar na história e na vida, as razões de tudo. Ainda mais que não só pai, mas também mãe, sempre diziam que a procura da verdade passa buscando ser justo, uma vez que feitos e acontecimentos discutíveis, sempre percorrem trilhas ditadas pelo poder vitorioso.
Quanto a mim, inocente expectador de tudo a minha volta, chegando à idade de início da memória humana, três anos, conhecimento não tomei, que uma ditadura que estaria naquele ano fazendo o “debut” no domínio, caíra.
Segundo consta, o dito caudilho, esmolambou toda uma Nação que pouquinho mais de século se formara e embora de tão díspares culturas, nunca se desestruturara. Ele abriu caminhos para isso e como se autointitulava “pai dos pobres”, inaugurou prática de um desenfreado populismo, que em pouquíssimos anos, o permitiu voltar, eleito, a ser novamente governo do Brasil, que eu já distinguia.
Só que, na ocasião, os homens eram tão outros, que deles, não aguentando a pressão, o ex-ditador saiu pela porta de traz da vida, fazendo acontecer a própria morte.
Aí eu já entendia bastante o que acontecia e muito percebia que não importava nada o lado e as verdades que defendiam, OS HOMENS TINHAM VERGONHA. E continuariam a tê-la por bons pares de anos. Até a própria juventude, bastante participativa, com sequestros, assaltos a bancos, cofres alheios, defendiam com vigor tudo aquilo que acreditavam.
E eu ali, não só notando, mas já formatando minhas razões e qualificando verdades.
Pois é, era assim… e deveria ter continuado assim, principalmente porque jamais faltara às estruturas da Nação Brasileira o essencial:- O RESPEITO. Éramos felizes e não sabíamos…
De repente os homens são as leis e as leis suas vontades. Se apoderaram de tudo, não só dos tesouros, mas da própria dignidade. A sociedade hoje tem abrigado, causos, narrativas, toadas políticas sem fim e sem finalidades, a não ser em benefícios políticos impróprios, buscando vantagens em tudo.
Antes as guerras, apesar de companheiras com muitas mortes, mas que construíram lideranças, conquistadores, valores e grandes culturas e por que não, verdadeiros heróis.
Eu sempre aí, acreditando ser apenas um vento ruim que sopra e que haveria de passar. Pode até ser, mas no momento não para, torna-se furacão.
Não, não queria ter assistido a muita coisa, ainda mais agora que ao findar dos anos, vivencio a maus gerenciamentos e comportamentos com o bem público tornando-me deles, apenas um tanto inútil, observador.
Em pouco o infinito toma nossa vida e apesar de tudo que vivemos e vivenciamos, toda uma existência, a minha no caso, se perderá nas brumas dolorosas dessas maldades humanas.
Rever fatos históricos sempre foi, não só minha mais fértil ocupação, e meu maior aprendizado, por isso ao longo dos arranjos humanos pude perceber que tudo e a tudo existe fácil conserto, menos quando se trata da justiça e do próprio judiciário. Ainda mais quando envolvidos na ambiguidade de decisões, com tantos escândalos e denegridos por tanta gente.
Muitos reis, quando também maus juízes, se tornaram tiranos. Sacerdotes em inquisições, buscando justiça aos Santos, se transformaram em demônios. Juristas aplicadores das leis que tantos levaram raivosamente a guilhotina, para lá também seguiram. O que dizer de Wiliam Linch, criador da instituição do linchamento, por isso o nome; só não era careca.
Mas, se aos daqui nada acontecer, como eles esperam, devo lembrar-lhes que o inferno é logo ali.
Em nosso país, embora em desacordo com o raios do Chanceler alemão, um paraíso, o que era bom, tornou-se ruim, o que era doce, amargou-se e o que era honesto se perdeu na falta de vergonha, caráter e decoro. O Brasil, como dizem, pode aguentar, mas gerações que também agora chegam, se perdem e muitas outras serão perdidas…ainda bem que na minha vez, metade foi guerra entre homens com pouco espaço a sacripantas.
Bem, todas estas estrumeiras em tempestades de maus comportamentos nos exercícios dos poderes, bem poderiam esperar que, de vez eu me fosse, seria melhor e mais confortável para eles, pelos silêncios de minhas palavras em jornais.
Poderia ter nascido bem antes ou bem depois dessas desrespeitosas desordens…e como o prazer da velhice são recordações, dessas não precisaria.
A culpa é mesmo do zodíaco e a piorar tudo, mesmo sendo pisciano, que nunca desiste de seus sonhos, paradoxalmente, nem gosto de pescar…
BH/GV/Macapá 14/12/2025
Jose Altino Machado
