Hoje no #vemcomigofalardesaúde recebemos o Dr. Rafael Luna, que vai nos falar sobre a epidemia do uso de Zolpidem
Convidado da coluna
Dr. Rafael Luna
Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Amapá. Residência Médica em Psiquiatria pela Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Viana. Residência Médica em Psicoterapia pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo. Professor substituto da Universidade Federal do Amapá CRM-AP 1439 / RQE 946/ RQE 981
O que é Zolpidem?
Trata-se de um medicamento desenvolvido para tratamento da insônia de curta duração, quer dizer, com duração inferior há 30 dias. Quando lançado, acreditava-se que não teria potencial de causar dependência ou pelo menos não o teria de maneira mais significativa. Porém com os anos no mercado observou-se que o Zolpidem, tem sim, um potencial de abuso e dependência que não pode ser desconsiderado.
2) Inicialmente qual era a proposta da medicação?
Em princípio, a idéia era que fosse mais um medicamento possível de ser usado no tratamento da insônia de curta duração, isto é, com tempo inferior a 30 dias. Não sendo indicada para tratamento de insônias de longa duração.
3) Como a medicação foi desvirtuada?
Ao longo dos anos no mercado, quer por ter efetividade razoável para induzir sono em boa parte das pessoas que sofrem com insônia e ainda sob a crença de que não teria grandes riscos de causar dependência, o medicamento acabou sendo amplamente utilizado, não raramente fora da sua indicação adequada. Pessoas com padrões de insônia que mereciam uma investigação mais aprofundada e que potencialmente teriam outras melhores indicações de tratamento, recebiam prescrições do Zolpidem e sustentavam o uso prolongadamente. Em outras palavras, uma forma de uso amplamente em desconformidade com o que seria recomendado.
4) Quais complicações apareceram?
A maior complicação consiste em que um número importante de pessoas passou a fazer uso nocivo ou tornou-se efetivamente dependente do uso de Zolpidem. Algumas usam quantidades menores da medicação, 01 a 02 comprimidos por noite, porém não conseguem dormir sem fazer o uso. Outras chegam a padrões de uso muito mais compulsivos, não são raros relatos de pessoas usando 20 ou mais comprimidos por dia.
5) Como evitar o uso inadequado e se livrar da medicação?
Sobretudo é fundamental que, caso você apresente um quadro de insônia, realize uma investigação rigorosa para se estabelecer o diagnóstico e consequentemente o tratamento mais adequado. Importante destacar que a insônia pode ter condições diversas, pode ter curta ou longa duração, apresentar-se como dificuldade para iniciar o sono, manter o sono ou despertar precoce, sensação de sono não restaurador, ser sintoma de um outro adoecimento ou ser um adoecimento por si só. Toda essa complexidade demanda uma avaliação cuidadosa para indicação de um tratamento mais bem ajustado possível. Alguns profissionais que podem ajudar nessa investigação são os Médicos do Sono, Pneumologistas, Otorrinolaringologistas, Neurologistas, Psiquiatras, entre outros. Para quem já usa o Zolpidem de maneira crônica seria recomendável procurar um profissional para auxiliar na investigação da causa da insônia para a indicação e um tratamento ajustado ao diagnóstico e desmame do Zolpidem.
6) Considerações Finais.
Tão importante quanto tratarmos uma insônia já estabelecida é tentar evitar que ela se instale. Para tanto e mesmo em auxílio ao tratamento quando a pessoa já apresenta o quadro instalado, cumpre importante papel a realização do que chamamos de Higiene do Sono, quer dizer , uma série de comportamentos que auxiliam a manter um sono de melhor qualidade, entre as principais recomendações temos: Evitar o uso de telas (celular, notebook, etc) próximo ao horário de dormir, evitar refeições volumosas e consumo excessivo de líquidos próximo ao horário ir para a cama, evitar consumo de substâncias estimulantes à noite (café, energéticos, bebidas a base de cola, etc..), ter uma rotina de sono (deitar para dormir e despertar em um horário razoavelmente regular), evitar atividades excessivamente estimulantes no período noturno.