Eu sempre digo e continuarei dizendo que: as praças são excelentes lugares para se sentar e ver muitas coisas legais acontecerem. Eu já vi cachorros vira-latas com síndrome de vira-lata, pode? Coisas que nos intrigam, tais como: pessoas querendo liberdade pedindo ditadura, cristãos exaltando crenças não cristãs ou até mesmo pedindo pena de morte em nome de Deus. Inclusive, outro dia, vi um homem falando, sem pausa, por um bom tempo, mal de todo o mundo, e depois colocar esparadrapo na boca para dizer que ele não tem liberdade para se expressar. Eu fico só de longe observando neste imenso globo terrestre que para muitos, é plano.
Pois bem! Hoje foi mais um dia daqueles memoráveis, o qual eu tirei para sentar na praça e apreciar as maravilhas daquele dia e, não demorou muito para esta fértil terra dar os seus frutos.
Eu ouvi alguém dizer assim:
- Fala meu brother! Qual é a news?
- Brother, eu acabei de vir de um workshop, onde todos estavam numa viber imensa. Sabe aquele feeling como se estivéssemos em um happy hour. Falou o outro amigo.
- Bro, eu participei de um Meeting, onde o coach era um expert em autoajuda. Fiquei um pouco chateado, pois o meu notebook não funcionou muito bem. Acho que ele precisa de um upgrade.
- Acho melhor você consertá-lo, pois para quem trabalha em home office como você, é bom fazê-lo logo.
- Sim, eu farei isso.
- Foste ver aquele filme?
- Fui sim. O filme é…
- Calma aí, não vale dar spoiler. Vamos comer algo. Eu tenho app do IFood e podemos pedir um delivery.
- Allright, my brother.
Eu confesso que partes da conversa não seriam entendidas facilmente por aqueles que não fazem parte do nicho do estrangeirismo. Palavras como: coach, home office, upgrade, delivery, spoiler etc. Me deslocaram do assunto. Isso me fez pensar se eles eram brasileiros ou gringos aprendendo o português.
Lembro da minha infância quando a mãe dizia: - Vou te dar uma cipoada.
Eu já sabia que o cipó iria cantar nas costas, e isso, quando não era o galho de goiabeira, o qual funcionava como a “vara da infância e da juventude”. E se corresse, a peia seria dobrada. Todas as vezes que meu pai ouvia um vizinho dando peia em seus filhos, ele ria e dizia assim: - Esse já está sendo batizado.
Sem dizer o terror que eu tinha da “Jandira” e da “Jiboia”. Não pensem que é a empregada ou que ele criava cobra, ela eram, respectivamente, a palmatória e um cinturão de couro. Essa linguagem nós entendíamos.
Bem, voltando aos amigos da praça, nenhum dos dois eram loiros de olhos azuis ou verdes (não quero dizer que somente essa é a configuração de gringo) eles não estavam usando Nike ou New balance e muito mesmo, uma camisa do Chicago Bulls.
Uma moça que estava sentada ao lado deles, levantou-se e veio para o meu lado e resmungou para mim: - Por que eles não usam expressões da própria língua portuguesa? Por que eles não falam: Treinador e não coach; atualização no lugar de Upgrade; reunião no lugar de Meeting; revelação e não spoiler; trabalho remoto e não home office. Para mim é perda de identidade.
Eu tive que concordar com ela e lhe disse: - O brasileiro é quase um estrangeiro em sua própria terra.
É para a minha surpresa quando os dois amigos se levantaram, tiraram da mochila um boné vermelho, no qual estava estampado as iniciais MAGA.
Quando eu vejo alguém usando palavras ou expressões em inglês, eu fico sem acreditar. Aprendi que cada palavra é alguma coisa profunda e fluida, que vem desde a infância, que faz parte da nossa própria vida, que tem cheiro; tem sabor e é vivida a cada dia. É uma longa experiência sensorial, emocional e intelectual. É necessário viver as palavras, ouvir o seu eco e saber a sua substância.
Há palavras que nos remetem à infância tais como: “Picolé”, “pirão”, “torrada”. Outras ao fim do curso primário como: “aliás” ou “adversário”.
Percebo que a sociedade de hoje tem um vocabulário muito diferente da época em que eu era criança, pois aprendem muita coisa na linguagem quase sempre pernóstica da internet. Quando eu ouço palavras como estas proferidas pelos dois amigos, eu penso ouvir alguém ladrar: Make América Great Again, e parece como se os Ingleses (donos da língua) a cada dia, a perdem um pouco.
Não sou contrário ao uso de empréstimos linguísticos, acredito que alguns são necessários e outros desnecessários como as listadas acima. Afinal a democracia deve também estar na forma que usamos a língua, mas precisamos atender aos nossos interlocutores.
Jorge A. M. Maia