Algumas pessoas seriam tiranos temíveis, tão cruéis quanto os grandes monstros da história, se apenas tivessem a oportunidade.
Quem nunca foi maltratado por agentes públicos assentados em minúsculos tronos? Nas esquinas das instituições, nas portarias das repartições, nos corredores das empresas e, por vezes, até nas igrejas, já provamos do poder do “pequeno poderoso”: aquele que recebeu uma fração de autoridade, mas age como soberano absoluto de um território que só ele reconhece como império.
É a chamada teoria dos pequenos poderes, o fenômeno que ocorre quando alguém, ao assumir uma função limitada, passa a exercê-la com ferro e fogo. O balcão, o crachá, a chave de acesso, qualquer símbolo de autoridade, tornam-se tronos de compensação para quem nunca se sentiu ouvido ou valorizado.
Nesses casos, não é o poder que corrompe, é o poder que revela.
O tom de voz imperativo, a necessidade de lembrar constantemente que está no comando, a pressa em corrigir, o prazer em negar e o desconforto em dialogar denunciam o tirano em miniatura.
Controlam detalhes irrelevantes como se fossem cláusulas de segurança nacional e transformam a rotina em campo de batalha pela manutenção da própria importância. São generais de uma geografia irrisória e sentinelas da própria vaidade.
É nesse terreno que o síndico autoritário, o chefe de corredor e o coordenador do nada se tornam versões modernas de Nabucodonosor em escala doméstica. A combinação entre insegurança pessoal e algum nível de autoridade é sempre explosiva.
O pequeno poder nasce da carência de reconhecimento e da insegurança emocional.
O microdéspota não busca servir, busca ser visto. Cada ordem é um pedido de validação, o grito de quem tenta provar valor por meio da submissão do outro.
O livro de Provérbios descreve esse fenômeno com precisão:
Sob três coisas estremece a terra, sim, sob quatro não pode subsistir: sob o servo, quando se torna rei. Provérbios 30:21–22a
O poder é sempre um teste moral. Alguns o usam para servir, outros para se vingar do mundo. O verdadeiro líder não intimida, inspira. Não oprime, ergue. Lidera pelo exemplo, não pelo medo.
Como escreveu Dostoiévski, “Todo homem tem dentro de si um tirano adormecido; o que o desperta é a ausência de amor.”
Na contramão disso tudo, Jesus ensinou que o poder é serviço: Quem quiser ser o maior, seja o servo de todos.