Política energética Alemã um tiro que saiu pela culatra
A Alemanha que foi, até passado recente, um exemplo de recuperação e líder das indústrias mundiais está mergulhando em um poço sem fundo em razão de conceitos errôneos e políticas energéticas erradas. Começou a trilhar um caminho errado e, mais, na contramão ao desativar suas centrais nucleares um exemplo que não foi seguido pela França cujo governante passou a latir mais alto e mais grosso. Mas, o mais grave é que o mundo enveredou, também, por um caminho incoerente e incongruente.
Hoje é pública e notória a crise energética que o nosso planeta atravessa e mesmo assim continuamos a desenvolver produtos dependentes de energia elétrica, nem vou citar os veículos elétricos, pois seria covardia. Paralelamente assistimos ativistas ambientais impedindo a construção de hidroelétricas e usinas nucleares, também seria uma covardia citar o Brasil com a sua política nuclear, ou melhor com a falta dela.
O site RealClear Energy publicou, em 03 de março de 2025, o artigo de Nick Loris, vice-presidente executivo de políticas públicas da Conservative Coalition for Climate Solutions – “Não deixe que este seja o ‘momento Alemanha’ da América em matéria de energia”, que transcrevo trechos.
“O rápido colapso da coalizão de governo de Olaf Scholz e a vitória decisiva dos partidos de direita sinalizam um claro repúdio à Energiewende (transição energética) em troca do pragmatismo da política energética. A tentativa de forçar uma transição energética economicamente tola sobre seu povo transformou a Alemanha de inveja global em um conto de advertência. Os EUA devem prestar atenção ao aviso — se o Congresso e a administração não consertarem o processo regulatório quebrado da América, o domínio energético e a proeza econômica da América podem sofrer um destino semelhante, com consequências políticas semelhantes.
Os alemães forneceram um estudo de caso sobre o que não fazer em política energética. Eliminar agressivamente a energia nuclear e expandir a energia renovável saiu pela culatra em todas as frentes. As ações do governo levaram a custos de energia disparados, prejudicaram o setor de manufatura e aumentaram a dependência da energia russa. Os contribuintes alemães pagaram centenas de bilhões de dólares em subsídios e custos de energia mais altos. No ano passado, o governo teve que dobrar seus subsídios para garantir que os produtores de energia eólica e solar recebessem seu requisito de preço mínimo. Levar adiante o plano custará cerca de meio trilhão de dólares nas próximas duas décadas, a serem pagos por famílias e empresas alemãs na forma de custos de energia mais altos.
Os fabricantes e montadoras de veículos alemães há muito alardeados como intensivos em energia, como a BASF e a Volkswagen, fecharam fábricas e se comprometeram a investir em outros países. Torcendo ainda mais a faca está o fato de que a desindustrialização de fato da Alemanha não produziu nenhum benefício climático, mas sim uma dependência estendida do carvão subsidiado pelo estado. Quando as empresas têm oportunidades de melhorar a eficiência, isso as incentiva a produzir mais com menos, impulsionando o crescimento e minimizando sua pegada ambiental. A política desastrada da Alemanha teve o efeito oposto, com seu setor industrial emitindo mais, mas produzindo menos. Um relatório recente do think tank alemão Agora Energiewend descobriu que as emissões industriais aumentaram 2%, apesar do setor ter encolhido sua produção.
Um futuro econômico incerto cria ansiedade e apreensão entre os empresários alemães, diminuindo a tomada de riscos e o empreendedorismo. Uma pesquisa recente da Associação das Câmaras Alemãs de Indústria e Comércio descobriu que quase quatro em cada dez fabricantes e grandes empresas estão considerando reduzir a produção ou se mudar. A burocracia e a falta de informação e certeza sobre o futuro do fornecimento de energia foram os principais riscos econômicos citados pelas empresas na pesquisa. A palavra-chave mais frequentemente mencionada na mesma pesquisa de fevereiro de 2025? ‘Burocracia’.
Assim como para seus equivalentes alemães, ‘burocracia’ é muito familiar para os desenvolvedores de energia americanos. Burocracia e ativistas litigiosos paralisaram ou cancelaram muitos projetos de energia. Tudo, de painéis solares a minas de minerais essenciais, oleodutos, pequenos reatores nucleares modulares e projetos de transmissão, foi retido por papelada desnecessária ou processos judiciais infundados.
A recente abundância e dominância energética experimentada nos EUA deveu-se principalmente à revolução do xisto, que aumentou o fornecimento de petróleo e gás natural enquanto a demanda estava relativamente estável. O gás natural de baixo custo economizou dinheiro para as famílias e tem sido uma das vantagens econômicas recentes mais significativas da América, atraindo muitos novos fabricantes para os Estados Unidos.
O ‘momento Alemanha’ dos Estados Unidos pode ser mais definido pelo que o governo não faz para atender às necessidades da expansão energética iminente. Com as demandas de energia projetadas aumentando substancialmente pela primeira vez em décadas, impulsionadas pela construção de data centers de IA e pelo aumento da indústria doméstica, os EUA logo precisarão de mais energia. O fracasso em reformar os estatutos ambientais desatualizados dos Estados Unidos pode colocar em risco o domínio energético de longa data dos Estados Unidos e deixar de capitalizar totalmente a revolução da inteligência artificial.
Melhorias regulatórias e de licenciamento nos próximos quatro anos devem estabelecer as bases para certeza e confiança em investimentos em energia, manufatura e data center pelos próximos 40 anos. Mudanças políticas ousadas garantirão que os americanos tenham energia acessível e confiável e fornecerão caminhos para implantar e exportar tecnologias inovadoras e mais limpas.
Em Washington, as conversas sobre política energética no Capitólio se concentraram em usar um bisturi ou uma marreta para fazer as correções necessárias. Não se engane. O Congresso e a administração devem pegar uma marreta e derrubar a burocracia que atrofiou o investimento em energia, a produtividade econômica e o progresso ambiental. Não fazer isso será a última Chance da América: oportunidade perdida.”
Nick Loris em seu artigo fala de ‘boca cheia’ sobre burocracia e como brasileiro confesso que me senti assustado, porquanto vivo no Brasil que há muito deixou de ser ‘país do carnaval’ e tornou-se ‘país da burocracia’, mais grave ainda, da burocracia ambiental que entrava o empreendedorismo desde a fabricação de um tijolinho de barro, passando pela produção rural, indústria automobilística, aeronáutica e, provavelmente, centenas de iniciativas privadas.
Há muito deixamos de ter políticas de estado, substituída por políticas de governos que dependem das ideias dos governantes da hora e de seus assessores. O único conselho que posso dar ao empreendedor brasileiro é parafrasear Winston Churchill:
“Se você está atravessando o inferno, bem, continue atravessando”