Encanto-me com coisas tão simples que me encanto com o encanto.
É que o simples revela detalhes da criação ao configurar, ou desenhar,
com linhas da geometria do universo vários cenários ou dimensionar
em peso e gramatura os fios da tecelagem da vida para narrativas alinhavar.
Aqui, ou ali, uma folha caída no chão ou suspensa no ar vou admirar.
Cá, um botão se abrindo em flor, em delicado gesto, o seu aroma vou aspirar.
Lá, adiante, acompanho o voo de um pássaro com o olhar,
ele sacode as asas espalhando gotas, está as esborrifar,
chuvisco de água e luz que faz o espaço brilhar.
Acolá, pessoas correm apresadas para nenhum lugar.
Jovens desatentos aos fatos esquecem de sonhar.
O xadrez das potências faz o mundo desabar.
Dói ver as multidões sufocadas por ignorância ímpar,
esta multidão mutilada pela mentira e cobiça irá naufragar.
Assim, o simples transborda-se em complexo e planícies vai alagar.
Rios, lagos, sumidouros, córregos e riachos querem o mar encontrar.
Já o mar que busco é a canção de me encantar.
Explode dentro de mim e espalha-se por céu, terra, água, fogo e ar.
Fazendo um bailado gritante com mente, alma e corpo a girar.
Um bailado ininterrupto assoviando nos rasgos de fontes a reverberar,
arrastando mundos nos oceanos profundos da imaginação, vou poetar.
Encanto-me com coisas tão simples que me encanto com o encanto de respirar.
Obs. Trecho de Reflexões Estelares