“Quem lucra queimando a floresta não é desenvolvimentista, senão cúmplice de um sistema que devora o povo e assassina o futuro”
C. Lobato
A COP30, instalada em Belém e já em pleno andamento, confirma aquilo que muitos analistas vinham prevendo: a conferência transformou-se numa vitrine internacional onde os países ricos desfilam discursos lapidados, enquanto evitam encarar de frente as responsabilidades que lhes cabem na crise climática. Em meio a corredores lotados, estandes luminosos e slogans cuidadosamente ensaiados, repete-se o velho roteiro: promessas grandiloquentes, compromissos nebulosos e uma coreografia diplomática que privilegia a imagem sobre a ação.
No centro do pavilhão principal, as grandes potências exibem painéis futuristas sobre carros elétricos, hidrogênio verde e inteligência artificial aplicada ao clima. É uma estética impecável, mas que contrasta com a lentidão da descarbonização doméstica desses mesmos países. Embora defendam metas ambiciosas para 2050, seguem ampliando subsídios a combustíveis fósseis e empurrando decisões fundamentais para o futuro — como se a emergência climática fosse um problema que pudesse aguardar mais três décadas.
O ponto mais sensível, o financiamento climático, continua travado. As nações em desenvolvimento pedem previsibilidade e acesso real aos fundos prometidos, sobretudo para adaptação, mitigação e perdas e danos. Mas os países do Norte global seguem oferecendo recursos fragmentados, condicionados a exigências burocráticas, e frequentemente enviesados por interesses privados. O resultado é um impasse que ecoa pelos corredores da COP: “Quem paga a conta?” — uma pergunta que permanece sem resposta clara.
Enquanto isso, países africanos, latino-americanos e pequenas nações insulares se revezam em pronunciamentos que soam mais como alertas de sobrevivência do que como discursos políticos. A cada painel, surgem relatos de enchentes devastadoras, secas prolongadas, colheitas destruídas e comunidades inteiras deslocadas. Ainda assim, as potências preferem manter a conversa no terreno das “soluções de mercado”, blindando-se de compromissos vinculantes.
Belém, por sua vez, assume o papel paradoxal de palco e protagonista. A cidade respira a fervura dos debates, mas também exibe as feridas da Amazônia: áreas de desmatamento recente, rios pressionados pelo garimpo e comunidades que convivem com insegurança ambiental. A presença de líderes internacionais traz holofotes, mas não necessariamente ações proporcionais à urgência amazônica.
Com a COP30 acontecendo, o contraste nunca foi tão visível: de um lado, o show das delegações ricas — tecnologias reluzentes, discursos emocionados e acordos cuidadosamente embalados para a imprensa; do outro, a realidade dos países que vivem, neste instante, o impacto da crise.
A conferência ainda tem dias decisivos pela frente. Resta saber se o evento sairá da superfície do espetáculo e entrará, enfim, na substância: assumir responsabilidades históricas, garantir financiamento robusto e agir com a urgência que o planeta exige. Sem isso, a COP30 corre o risco de terminar como começou — como a mais cara e sofisticada passarela de vaidades do mundo

