(20. 08. 1898 – 10.04.1985)
Longe tempos lá se vão
entre doces e palavras
cristalizadas ou destacadas
da menina Cora de coração.
Saiu de Goiás para o mundo
de mãos dadas com a paixão
recolhendo pedras e seixos
depositados na bateia em feixes.
LAPIDOU-OS NO ESMERIL DAS CAVAS DO CORAÇÃO.
FACETOU-OS com a mente.
Deu-lhes brilho e contínuo polimento.
Incrustou, qual gemas preciosas,
nas dobras dos lençóis e dos lenços,
no varal de panos de prato e toalhas
ao sabor do sol, da chuva e do vento.
Eixo de narrativas do cotidiano
desenhou-os nas folhas dos diários,
amarelecidas PÁGINAS dos tempos,
recriando no itinerário o seu catavento.
Atravessou águas rasas e
rios caudalosos e profundos
até encontrar o poeta
que não se chamava Raimundo.
E o que mais gosto em seus escritos
é que ela os cultiva em varandas e esquinas,
canteiros de hortas com hortaliças,
adubando-os com os risos, suores e lágrimas
dos dias de sol ou de preguiça.
Serve-os glaceados ou com caldas,
feitos em fogão a lenha.
Aroma de madeira queimando
e os constantes estalidos.
Nas suas obras a luxúria
dos sabores dos frutos da terra
e o brilho das pepitas diamantinas
confundem-se ou fundem-se com a vida vivida.