Quando David Nasser e Guio de Morais escreveram a letra da composição “Baião da Penha”( gravada em 1951 por Luiz Gonzaga) expressão genuína das crenças e cultura brasileira , não imaginaram que neste ano de 2025 fosse uma prece ensanguentada, no cenário criado por ações violentas, e abruptamente embaralhada pelos ecos dos lamentos das mães da Penha (RJ) e de outros arrabaldes do estado fluminense.
“Demonstrando a minha fé
Vou subir a Penha a pé
Pra fazer minha oração”.
O fato é que a literatura fez do espaço de nosso cancioneiro uma estrada longa para gravar com pegadas marcantes a expressão da profunda sensibilidade e acuidade de nossos escritores/compositores a ecoar nas vozes, muitas vezes silenciadas, de cantores e cantoras. Não obstante os obstáculos as vozes permaneceram, eternizaram as alegrias e dores da sociedade.
Fez das canções o registro épico e poético da brasilidade, do estado de humanidade embrenhado no “estado de poesia”, com a devida licença poética ao Chico César, autor que canta, especialmente nesta canção, o amor em encantamento da vida e da arte a respirar em sustenido, a desvendar o sentir dos liames profundos da alma frente à brisa ou aos furacões sociais que tragam ensandecidos o bailado da vida.
Ouço, neste ínterim, na voz cantante, a continuidade do baião que faz a súplica a Nossa Senhora da Penha. Minhas mãos e minha mente automaticamente se unem em prece com toda a gente do Norte, do Sul, do Centro, do Leste e do Oeste do país embrutecido:
“Nossa senhora da Penha
Minha voz talvez não tenha
O poder de te exaltar
Mas dê benção padroeira
Pra essa gente brasileira
Que quer paz pra trabalhar”.
As décadas se escalonaram em séculos, in saecula saeculorum”.
Novos traços, novos desígnios, e o povo padece da crueldade dos desatinos entregues ao desalento, sem apreço, sem autoestima agarram-se a boias furadas e são tragados pelas tormentas.
Quantas escadarias ainda precisam de joelhos escalar? Quantos rosários e preces irão recitar até que a escuridão desapareça e consigam navegar?
Vários mantos e vários nomes dignificam Maria e é em seu amor e consolo que a esperança habita. Há sábios entre os humanos, embora não pareça, pessoas que perceberam que no ódio não há solução e buscam em Nossa Senhora da Conceição, da Assunção, das Dores, dos Milagres, da Ajuda, do Alívio, dos Anjos, da Misericórdia… Em todas elas, que uma só são, buscam a inspiração para uma ação e vida digna.
Nossa Senhora da Conceição Aparecida…
Diante de tudo que assisto não posso me furtar de lhe fazer um pedido:
Dê sua benção padroeira para esta gente brasileira que quer paz. Quer paz para seguir seu curso, cultivar jardins, abençoar os frutos, abraçar os próximos pertos e distantes em um cântico de alegria e esperança, como Renato Teixeira poetou em “Romaria”:
“Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura
E funda o trem da minha vida”.
Uma sociedade com menos fuzis e fakes News e mais sorrisos e mãos estendidas. Isso é humanizar-se, é poetar, é brasilidade raiz.

