Ontem, novamente, acordei cedo, reguei minha alma com uma boa oração, assim como algumas rosas com água, tomei café com minha esposa e fui ler um pouco alguns poemas. Já vinha fazendo essa caminhada inspiradora há alguns dias, mas nunca imaginei que isto que eu vinha fazendo, tinha um nome especial e, menos ainda, que iria me enriquecer muito de conhecimento.
Ao sair de casa para a minha corrida por volta das 19h30min, em uma noite enluarada, presenciei uma cena inusitada, a qual chamou muito a minha atenção. Eu vi um cachorro bebendo água em uma poça exposta na rua. Olhei para o céu e vi a lua imóvel iluminando aquela cena, mas ao olhar para a poça, me veio a impressão que o animal estava lambendo aquela bela lua. Olhei para o lado e vi uns poemas sorrindo para mim. Não contei duas vezes, peguei o celular e o desenhei na tela. Comecei a pensar como seria o restante de minha caminhada.
Pela manhã, continuei com a minha atividade física, observando esses pequenos duendes ou fadas madrinhas em minha volta, não resistindo ao encanto da natureza que rodeava o meu caminho. Assim como o vaso na janela da casa da minha jovem e querida vizinha. Porém o mais curioso foi que olhei para a plantinha no vaso e vi que ela estava sorrindo e pegando aquele bronze, D. Jamila foi sábia em pedir para o Edson arredar o vaso.
Não tenho dúvidas que esses poemas estão sempre a serviço da poesia, muitas vezes com um espírito irreverente, bem humorado, criativo, inteligentíssimo e sem aquela obediência que o gênero nos obriga. Todas as vezes que abrimos a concha da poesia, encontramos essas pérolas, as quais não se constroem sobre regras, as quais se tornam “perfeitamente inúteis” quando em contraste com a criatividade e a liberdade, poéticas ou não.
Esses verdadeiros poemas duendes ou Fadas madrinhas dão sempre um verdadeiro show de rebeldia e irreverência, mas sempre com seriedade, competência e acima de tudo, beleza. Certa vez, me disseram que os espíritos estão por toda a parte, nós que não conseguimos vê-los. São esses espíritos poemas? Então os poetas são médiuns por conseguirem vê-los? Já gostei dessa brincadeira.
Lembro-me agora que certa vez, eu estava caminhando em uma praia e vi o mar acariciando a areia e assim que sua água voltou para ele, eu pude ver que ele tinha deixado um poema de água e sal. Achei o lindo e saboroso. Pela tarde, sentei com Leminski para ver o mar, mas o mar não parou para ser olhado, e foi mar para todo o lado. Esse mesmo mar, quando calmo, joguei uma pedra que quebrou seu espelho, e então eu vi a lua tremer. Que sensação incrível.
Certo dia, andando meio distraído pela rua quando de repente, alguém gritou:
- Cuidado! Concreto armado.
Tomei um susto e já acionei a policia achando se tratar de um assalto. Nesse momento, tentei avisar o amaciante, mas vi que ele estava concentrado. Que pena! Só sei que fui a delegacia registrar a ocorrência, mas sai de lá sem o bendito registro depois de ter tomado um chá horrível, o qual me causou raiva e dor de cabeça e no cóccix. Ah, essas cadeiras malditas.
Ao chegar em casa, fui direto para cozinha ajudar minha esposa a fazer o almoço. Olhei na pia e lembrei de Lú Moraes, pois vi um dente “d’alho” meio banguela, com apenas alguns poucos dentes. Então pensei: - Minha esposa arrancou-os porque eles estavam encavalados? Acredito que não, pois o feijão estava cheirando muito bem. Como eu iria temperar a carne, tratei de dar uma de dentista e arranquei sem boticão o restante dos dentes que lhe sobraram. Foi quando o pimentão, caindo na risada, gritou:
- Toma-te! Eu disse que seria batata.
A carne agradeceu, pois com purê, ela ficara mais gostosa. E alho triste, deu um sorriso vazio enquanto a outra cabeça, cheia de pensamento de cebola, fica pensando sobre todos esses duendes ou fadas Madrinhas que nos circundam em nosso dia a dia, no mesmo instante em que a panela, a todo vapor, com um fogo altíssimo, exalava um cheiro alucinante e convidativo.
Esses duendes ou Fadas Madrinhas, como as laranjas, podem ser doces ou azedas; consumidas em gomos ou pedaços, na poltrona de casa, ou virar suco, espremidas nas salas de aula. CABEÇA D’ALHO
Na sexta fui à feira por acaso
Piranguei três cabeças d’alho
cheias d’ideias de cebolas
N’ode de Neruda
Cebolas ascendem
A rosa d’água com
Escamas de cristal
Vislumbrar rosas em cebolas
É coisa de cozinheiro competente
Ou completamente distraído
Então
Fiquei olhando os dentes d’alho
Encavalados sorrindo
Tirando sarro de
Meu nariz de pimentão.
(Lu Moraes)
Arredei o vaso para a Jamila
Mais perto do sol
A planta sorriu.
(Edison Cardoso)
No sonho do sertão,
De gota a gota, a bela chuva
molhando o chão.
(Jorge A. M. Maia)