A guerra no leste europeu está causando enormes prejuízos aos dois adversários. Uma guerra que não está trazendo nenhum benefício aos países em guerra. Na minha modesta opinião é uma guerra que no final não haverá vencedores ou vencidos, os contendores serão derrotados, de uma forma ou de outra. Serão necessários investimentos de trilhões de euros ou dólares para recuperar as economias, porém, nada recuperará as vidas perdidas e famílias destruídas. As guerras que no passado foram bons negócios, hoje são péssimos.
A Reuters publicou, em 9 de outubro de 2025, uma longa matéria esmiuçando o que a guerra está causando à economia russa “Os titãs industriais da Rússia colocam trabalhadores em licença enquanto sua economia de guerra estagna”, assinada por Anastasia Lyrchikova e Gleb Stolyarov, que transcrevo trechos.
“De ferrovias e automóveis a metais, carvão, diamantes e cimento, algumas das maiores empresas industriais da Rússia estão colocando funcionários em licença remunerada ou cortando pessoal à medida que a economia de guerra desacelera, a demanda interna estagna e as exportações secam.
Os esforços para reduzir os custos trabalhistas mostram a pressão sobre a economia russa enquanto o presidente Vladimir Putin e a aliança militar OTAN liderada pelos EUA se enfrentam na Ucrânia, no conflito mais mortal da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
A Reuters identificou seis empresas nos setores de mineração e transporte da Rússia, muitas delas titãs industriais, que cortaram sua semana de trabalho em uma tentativa de reduzir os salários sem aumentar o desemprego, de acordo com fontes do setor.
A Cemros, maior fabricante de cimento da Rússia, adotou uma semana de trabalho de 4 dias até o final do ano para preservar funcionários em meio a uma forte crise no setor de construção e um aumento nas importações de cimento.
‘Esta é uma medida anticrise necessária’, disse o porta-voz da Cemros, Sergei Koshkin. ‘O objetivo é manter todos os nossos funcionários.’ A empresa tem 13.000 funcionários e 18 fábricas espalhadas pela Rússia. Koshkin afirmou que o aumento das importações de países como China, Irã e Bielorrússia, aliado à queda na construção de novas casas, reduziu a demanda por cimento. A Cemros prevê que a Rússia consumirá menos de 60 milhões de toneladas de cimento este ano, número registrado pela última vez durante a pandemia de COVID-19.
A pressão para reduzir os salários mostra o preço que o conflito na Ucrânia e as sanções ocidentais estão cobrando das empresas russas e dos trabalhadores de suas indústrias pesadas, muitas das quais foram fundadas durante a industrialização da Rússia Soviética por Josef Stalin, na década de 1930.
Durante os dois primeiros mandatos de Putin como presidente, de 2000 a 2008, a economia da Rússia disparou para US$ 1,7 trilhão, de menos de US$ 200 bilhões em 1999. Mas o PIB nominal da Rússia é agora de US$ 2,2 trilhões, aproximadamente o mesmo nível de 2013, um ano antes da Rússia anexar a Crimeia.
Em 2022, ano em que Putin ordenou a entrada de tropas na Ucrânia, a economia contraiu 1,4%, mas depois superou a média do G7, grupo das principais nações industriais, crescendo 4,1% em 2023 e 4,3% em 2024. O Ministério da Economia prevê que o crescimento deste ano cairá para apenas 1,0%.
Putin rejeitou publicamente os alertas de banqueiros seniores de que a economia russa está estagnada. Ele afirma que o governo está desacelerando a economia para manter o controle da inflação – prevista em 6,8% este ano. As empresas estão enfrentando uma lista crescente de problemas que vão desde altas taxas de juros e o rublo forte, queda na demanda interna, mercados de exportação fracos devido a sanções e importações chinesas baratas, de acordo com economistas.
A Russian Railways, que tem 700.000 funcionários, pediu aos funcionários de seu escritório central que tirassem três dias adicionais de folga por mês, às suas próprias custas, além dos feriados normais e dias não úteis, disseram duas fontes à Reuters. Os salários em atraso na Rússia no final de agosto somaram 1,64 bilhão de rublos, um aumento de 1,15 bilhão de rublos, ou 3,3 vezes, em comparação ao mesmo período do ano passado.
A geografia da indústria pesada russa — muitas vezes o empregador dominante em cidades e vilas por toda a Rússia europeia e os Urais — significa que cortes salariais podem ter um impacto significativo na prosperidade regional. Em crises anteriores, a Rússia socorreu grandes empregadores para conter o descontentamento em muitas cidades industriais que frequentemente dependem de uma grande empresa.
As Ferrovias Russas e as montadoras do país receberam apoio estatal durante a crise global de 2008-2009 para evitar demissões em massa. Em 2022, a Rússia ordenou que as montadoras dispensassem funcionários, e não os demitissem. As atuais tensões econômicas já forçaram o governo a intervir em toda a economia, desde fabricantes de calçados até carvão e metais, oferecendo descontos no transporte ferroviário, diferimento de impostos e apoio estatal direcionado.
O setor de carvão, que emprega cerca de 150.000 pessoas, foi duramente afetado pela queda nas exportações, de acordo com autoridades russas. O vice-primeiro-ministro Alexander Novak disse a Putin em abril que a saúde financeira do setor estava se deteriorando, com 30 empresas — empregando cerca de 15.000 pessoas e produzindo cerca de 30 milhões de toneladas métricas anualmente — correndo risco de falência.
Também há sinais de problemas na vasta indústria siderúrgica russa. A Rússia está considerando uma moratória sobre falências na indústria metalúrgica e uma série de outras medidas, de acordo com um protocolo da reunião da Comissão de Estabilidade Financeira do governo em 28 de agosto. A Rússia é o quinto maior produtor de aço do mundo, com uma produção de cerca de 71 milhões de toneladas em 2024.
‘Há uma redução silenciosa acontecendo na indústria de metais’, disse uma fonte próxima ao setor, culpando as altas taxas de juros, o rublo forte e a fraca demanda interna e externa.
Embora o setor ainda não estivesse adotando uma semana de quatro dias, disse a fonte, quase todas as usinas de processamento de metal estavam cortando funcionários auxiliares. Uma segunda fonte disse que o setor tinha muitos funcionários para o ambiente atual, mas queria evitar demissões em massa. ‘Eles prefeririam introduzir uma semana de 4 dias, mas até agora nenhuma das grandes empresas o fez’, disse a segunda fonte do setor.”
Este artigo traz apenas um lado da história – a Rússia. O outro lado que é a Ucrânia não é abordado. A economia ucraniana deve estar sofrendo forte impacto da guerra e creio que somente tem sobrevivido graças aos investimentos maciços dos membros da OTAN.
Uma coisa é certa o conflito do leste europeu está impactando fortemente na economia ocidental com a perda de dois grandes fornecedores e importadores.
“A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota.” Jean-Paul Sartre (1905-1980), filósofo e escritor francês.

