A mão de pilão, seus ecos no chão.
O chão do pilão, escavado com talhas, facão e formão;
alisado, arredondado, com fogo do braseiro do chão do galpão.
Pilão de peroba ou de canela preta, guatambu, muirapiranga,
limoeiro, ipê, angico, angelim, sucupira, maçaranduba…
Pilão de memórias de mãos frágeis trabalhando o grão.
Histórias de braços franzinos a pilar sementes,
descascar o arroz, das gentes do sítio a refeição.
Pilão sagrado dos ritos ancestrais de purificação, consagração.
Haverá algo mais sublime neste solo sagrado do que alimentar
crianças e adultos prostrados, limitados, sob o fardo da inanição?
A Terra é um jardim com trampolins a ressoar cascatas,
serenatas de águas borbulhantes saciando a sede dos viajantes.
Jardim de diversidades e variedades sob o signo da abundância.
Até nos desertos há florações.
“A fome é produto de decisões políticas
que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade.” (1)
Nos corações desertificados há secura eterna, a ganância.
Contraponto odioso de distorções e malversações,
que espalham a carestia, a carência, a fome, a turbulência.
A minha mão de pilão, ora leve ora pesada, descasca palavras,
sementes da terra pura, in natura, em corações com conexões.
(1 ) Declaração do presidente do Brasil (Lula) no Lançamento da Aliança Global de Combate à Fome (novembro 2024).