A imposição de tarifas pelo presidente Donald Trump sobre a China impactaram o mundo e transcendem a esfera econômica, revelando-se uma manobra econômica estratégica em uma guerra silenciosa que definirá o futuro da geopolítica global. Mais do que uma disputa comercial, este confronto expõe as entranhas de um modelo chinês predatório, sustentado por práticas desleais que corroem os alicerces do comércio internacional e ameaçam a soberania das nações.
Desde sua adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC), a China tem adotado práticas econômicas não mercadológicas que distorcem a competição global: subsídios estatais massivos, financiamentos subsidiados via bancos estatais, dumping de preços e barreiras não tarifárias protegem suas empresas estatais em setores estratégicos como semicondutores, veículos elétricos e aço. Essa política predatória, pouco transparente, mina a elasticidade‑preço da demanda dos concorrentes ocidentais e provoca desequilíbrios estruturais no comércio internacional
A reação de Washington quando o presidente Trump elevou tarifas mínimas de 10% sobre todas as importações e aplicou alíquotas entre 11% e 50% a 57 países, com foco especial na China que sofreu uma taxação que pode chegar a até 145% em certos bens.
Por sua vez, a China respondeu com tarifas de retaliação de 25% sobre US$ 44,9 bilhões em exportações americanas — sobretudo produtos agrícolas como soja e carnes, além de bens intermediários e veículos — em um movimento sincronizado com cada uma das tarifas de Trump, demonstrando a estratégia de “quem cede primeiro, torna‑se vítima” na guerra de atrito comercial
Sob o jugo do Partido Comunista da China (PCC), a China não apenas manipula mercados, mas também utiliza ferramentas como o TikTok para infiltrar-se nas mentes ocidentais, investe em uma máquina militar expansionista e perpetua um sistema de trabalho escravo que desafia os princípios éticos mais básicos. Vamos analisar os impactos profundos dessa guerra tarifária e os detalhes geopolíticos que escapam ao olhar comum.
TikTok: A arma invisível de Pequim
Por trás da fachada de vídeos curtos e danças virais inocentes, o TikTok, propriedade da chinesa ByteDance, emerge como um cavalo de Troia na guerra cultural e de inteligência travada pela China contra o Ocidente. Seus algoritmos, meticulosamente projetados, não se limitam a entreter; eles moldam percepções, priorizando conteúdos que diluem valores democráticos e glorificam narrativas alinhadas aos interesses do PCC. Basta ver que o TikTok chinês é totalmente diferente do TikTok ocidental. Enquanto idiotiza os jovens dos EUA afetando severamente a geração futura com ideologias nefastas e conteúdos que incentivam o “Brainrot”, ou “mente podre”, que é uma gíria que descreve um estado de confusão mental ou falta de clareza, causado por excesso de informações inúteis. É uma metáfora para a sensação de que a mente dos jovens ocidentais está “apodrecendo”, perdendo sua capacidade de funcionar de forma saudável e crítica. Já a versão Tik Tok chinesa ressalta a coragem, a capacidade criativa, o empreendedorismo do cidadão chinês, e a inteligência, eficiência e força do governo da China, criando uma geração cada vez mais forte e pujante.
Mais alarmante ainda é sua capacidade de coleta de dados: informações pessoais estratégicas de milhões de usuários americanos — localização, hábitos de consumo, preferências — são potencialmente canalizadas para os arquivos de Pequim, alimentando um aparato de vigilância que ameaça a segurança nacional. A resposta de Trump, com tarifas e tentativas de banir o aplicativo, reflete uma percepção aguda: conter essa influência é essencial para preservar a autonomia cultural e estratégica dos EUA.
O arsenal silencioso: A militarização chinesa em foco
Enquanto os holofotes se voltam para as tarifas, a China canaliza recursos colossais para sua estrutura militar, um movimento que vai além da autodefesa e sinaliza ambições imperialistas. Nos últimos anos, o orçamento militar de Pequim disparou, financiando a modernização de suas forças armadas, a expansão agressiva no Mar da China Meridional e o desenvolvimento de tecnologias de ponta, como armas hipersônicas e inteligência artificial bélica. Essa escalada não é fortuita: é uma aposta clara para desafiar a supremacia americana e impor uma nova ordem mundial. As tarifas de Trump, ao asfixiar economicamente a China, buscam desviar esses recursos, enfraquecendo a capacidade de Pequim de sustentar sua ascensão como potência militar global.
O preço humano: Trabalho escravo e a ditadura do PCC
O milagre econômico chinês, celebrado por muitos, esconde um custo humano inaceitável. Relatórios de organizações internacionais denunciam o uso sistemático de trabalho forçado, especialmente contra minorias como os uigures, em campos de “reeducação” que abastecem cadeias produtivas globais com bens a preços irrisoriamente baixos. Essa prática, aliada à repressão brutal da liberdade de expressão sob o regime comunista do PCC, não apenas viola direitos humanos fundamentais, mas também distorce a concorrência internacional. A censura implacável e o controle social — com firewalls digitais e punições a dissidentes — sustentam uma ditadura que prioriza o lucro e o poder acima de qualquer dignidade. As tarifas americanas surgem como um contrapeso, penalizando esse modelo exploratório e pressionando por reformas que o PCC resiste em adotar.
A China sob pressão: O contra-ataque e suas consequências
A guerra tarifária não passa incólume pelo território chinês. O fechamento de empresas e a desaceleração econômica, agravados pelas sanções de Trump, acenderam um rastilho de insatisfação interna. A população, que por décadas trocou liberdades por promessas de prosperidade, agora enfrenta desemprego e instabilidade, questionando a legitimidade do PCC. Em resposta, Pequim retaliou com tarifas próprias contra os EUA, uma jogada arriscada que eleva as tensões e ameaça desencadear uma crise econômica em escala global. Esse contra-ataque, longe de ser uma demonstração de força, pode revelar a fragilidade de um sistema rígido, incapaz de absorver os choques de uma guerra comercial prolongada. A pressão interna cresce, e o PCC enfrenta um teste de resiliência que pode abalar suas fundações.
Um mundo em transformação: A nova Geopolítica
Os desdobramentos dessa guerra tarifária reconfiguram o tabuleiro global de maneira irreversível. Nações são compelidas a realinhar suas alianças, enquanto a Europa, por exemplo, oscila entre a lealdade aos EUA e as oportunidades oferecidas pela China. Paradoxalmente, as tarifas de Trump, aplicadas inclusive a aliados, podem empurrar parceiros tradicionais para os braços de Pequim, que se posiciona como paladina do livre comércio — uma ironia, dado seu histórico de manipulação mercantil. Esse cenário pavimenta o caminho para um mundo multipolar, onde a hegemonia americana é contestada e a China se consolida como rival de peso. A longo prazo, o equilíbrio de poder dependerá da capacidade de cada lado em converter pressão econômica em influência política.
O despertar para uma realidade inquietante
No plano interno, o regime do Partido Comunista Chinês mantém um sistema de repressão que nega liberdades fundamentais: a pontuação de 9/100 no Freedom in the World 2024 classifica a China como “Não Livre”, refletindo uma censura generalizada, forte controle da vida dos seus cidadãos, ausência de eleições competitivas e transnacional repressão a dissidentes, inclusive em diásporas, por meio de estações de polícia extraterritoriais e vigilância digital intensa.
A “panela de pressão” social: o aumento da insatisfação da população
A crescente pressão social devido ao fechamento de pequenas e médias empresas, agravada pela desaceleração econômica e cortes de crédito após a guerra tarifária, alimentou um aumento de 21% nos protestos registrados neste mês, quase todos relacionados a salários atrasados, despejos e disputas de terra, evidenciando fissuras na “coerção consentida” do regime comunista chinês.
Frente a esse cenário, Pequim convocou um encontro de urgência de alto nível para definir medidas de estímulo econômico e estabilização dos mercados, sinalizando que o “contêiner vermelho” do PCC busca amortecer o choque tarifário e manter a coesão social, ao mesmo tempo em que prepara novas retaliações comerciais aos EUA, insistindo na estratégia do contra-ataque direto.
Essa escalada tarifária e informacional redesenha alianças e cadeias de valor: EUA e aliados aceleram a “decoupling” tecnológica, a formação de blocos como o QUAD e parcerias com a União Europeia, enquanto a China reforça sua estratégia de redirecionamento e busca de novos mercados na Ásia, África e América Latina. O resultado é a quebra de uma geopolítica multipolar, para uma geopolítica da guerra tarifária, em que a interdependência econômica se torna arma estratégica, e o equilíbrio de poder global se redefine entre tarifas, influência digital e capacidade militar.
À medida que o jogo de tarifas e contramedidas avança, a ordem internacional se fragmenta, exigindo vigilância crítica e respostas coordenadas para conter práticas predatórias, defender liberdades e preservar a estabilidade de um sistema global que se encontra na encruzilhada entre competição e cooperação.
A taxação imposta por Trump à China não é apenas uma redefinição da geopolítica econômica; é um grito de alerta contra um adversário que opera nas sombras da globalização e das regras do mercado global. Ao expor as táticas insidiosas do PCC, da espionagem via TikTok à militarização desenfreada, do trabalho escravo à repressão interna, os EUA forçam o mundo a encarar o custo real do modelo chinês. Contudo, a resposta de Pequim, com retaliações e resistência, sinaliza que essa batalha está longe do fim. O desfecho dessa guerra tarifária não determinará apenas o destino das relações sino-americanas, mas a própria reconfiguração da geopolítica do século XXI. Em um jogo de apostas altíssimas, a pergunta permanece: até onde a ambição chinesa prevalecerá antes que o seu preço se torne insustentável?
Gesiel Oliveira
