“Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão”,
canta Umberto Gessinger em SOMOS QUEM PODEMOS SER.
Desde então olho os céus em constante atenção,
na busca por indícios, na terra, dessa afirmação.
Um dia me disseram que eu era o predomínio da emoção.
Outro dia me disseram que eu era frio raciocínio e razão.
Alguém em alguma via olhou em triangulação.
Outros em esquinas dispersas olharam em círculos inversos, outros, em viés expresso, navegaram em múltiplas direções…
Um dia me disseram que meu sorriso era sol e luar a iluminar;
outros afirmaram que eu era silêncio nebuloso, esconderijo ímpar,
escondendo o brilho mágico e liberto de meu dourado olhar.
Alguns disseram que voo com pés no chão,
outros reclamam que ando com pés e cabeça nas nuvens.
Abusivos falares e impulsivos pensares de “gentes” e pares
tentaram me desfocar, dispersar, dispensar, arrasar, deslegitimar…
Fez-se isso sobre o solo de Palmares, sob a aflição dos desencantos soprados pelos ventos e enredos e/ou cantos
nos jardins da Babilônia, nos terraços das serras dos guascas,
nos solares de Curitiba em estratagemas das manhãs subvertidas.
Um dia me disseram que o Amor não põe a mesa,
invadiram-me com suas incertezas e fraquezas.
Outro dia me disseram que o Saber não ocupa espaço,
o que importa é o valor que se encontra na conta e o status,
invadiram-me com seus preconceitos e fracassos.
Um dia me disseram para calar a boca,
porque em boca fechada não entra mosca.
Não obstante frisaram que quem tem boca vai a Roma.
E, se eu não quiser ir a Roma o que farei com minha boca?
Um dia me disseram para desabafar, falar faz bem para a saúde.
Amiúde, repetidamente, digo que serei eu tão eu somente,
eternamente em frenética frequência de buscas e essências.