Por muito tempo, eu venho escutando muitas pessoas reclamarem de falta de lealdade dentro dos relacionamentos. Alguns homens trazem a desculpa que não são compreendidos ou que falta algo em suas relações. Outros vão além, dizem que somos animais e que até mesmo eles (os animais) têm a liberdade de ficar com quem bem entender o tempo que for.
Eu, como de costume, fui àquela fantástica praça, a qual eu intitulei de Saramandaia, pois lá tudo acontece. Então, passei a observar alguns animais, como também algumas pessoas. Lógico, as cenas sempre muito interessantes e reflexivas. Vi um pastor alemão muito bem aparentado sendo segurado pelo seu dono, que assim como o seu cão estava à procura de alguém para uma boa paquera. Assim que avistou uma bela cadela, o cão, charmoso e bem cuidado, deu algumas latidas como que dissesse ao seu dono: – Me solte, preciso sair.
O seu dono entendeu o latido e soltou o belo animal, o qual logo em seguida, partiu para o ataque. Ele foi em cima não só de uma cadela, mas de todas que a ele desse confiança.
Eu pensei:
- Que cachorro safado.
Mas ele tinha um grande professor, pois o seu dono, como um bom caçador ou dizendo melhor, um bom pescador, jogava a sua rede em um mar de diferentes mulheres. O que cair na rede é peixe.
Mas o que me deixou intrigado foi a chegada de uma bela mulher e sua bela cadela. Elas entraram e alguns olhares se dirigiam a elas. Logo em seguida o garanhão e seu belo cão se chegaram a elas, todos Santos e com os seus rabinho entre as pernas. - Mas que bando de safados, enquanto sozinhos estavam como solteiros, agora são Santos.
Isso me fez lembrar alguns termos ou ditados que eu ouvia quando mais jovem. Aquelas coisas muito coerentes que os adultos falavam e não dávamos a devida atenção. - Aquele rapaz é como catapora, quer pegar a família inteira. Já namorou aquela moça, pegou a irmã dela e agora está com sua prima.
Eu chego a pensar que a natureza e suas companheiras (doenças) nunca se satisfazem com uma só pessoa.
O Sarampo nunca que ficar em um só corpo, pega quem chegar perto dele, assim como a catapora. E ainda tem aqueles, como o diabetes, que ficam passando de geração a geração.
E assim eu chego a pensar que a virose deveria arrumar um namorado, para ela deixar de sair pegando todo mundo. Eu já fui uma vítima de uma gripe insaciável e que por sinal quis pegar a família inteira.
Pois é, aquele jovem e seu insaciável cão ficou pianinhos juntos à bela moça e sua cadela. Quiseram dar uma de virose e pegar todas da praça, mas tiveram que se conter.
Mas percebi que o reino animal é assim mesmo, um reino cheio de liberdade e sem celas. Porém, o nosso reino é outro.
Todo ser tem o direito de amar. vejam só, até as moscas querem amar.
Ali mesmo, naquela linda praça, vi uma mosca cheia de amor e boas intenções, ela tentou uma tímida aproximação com um humano. Para que fosse vista, aproximou-se dos olhos do rapaz. Não soube por que, mas ele afastou-a com um gesto brusco. Talvez não estivesse acostumado com expressões de carinho. Talvez estivesse simplesmente assustado.
Talvez fosse melhor uma aproximação mais gentil. Na nova tentativa, pousou nos lábios do humano. Foi quase um beijo, uma expressão de “estou aqui se precisar”. Aquele foi seu último ato. Em um movimento rápido e certeiro, o humano se afastou e esmagou a mosca com as duas palmas. Ela só queria amar. Poderia ser ela uma mosca de um só homem.
Ela imaginava ser a única em busca de um objetivo na vida. Enganou-se. Morreu sem ao menos saber que outros milhares de sua espécie tiveram (e ainda teriam) o mesmo fim, ao tentar consolar aqueles seres que estavam mortos, apesar de ainda respirarem.
Será que o homem não acredita mais na lealdade de alguém? É necessário sermos como virose, sair pegando todo mundo para sermos notados?
Eu preferi ter uma namorada e com ela casar. Ela continua me notando a cada dia.
Sinto meu corpo meio dolorido, nariz escorrendo e a cabeça pesada. Já sei, alguma gripe insaciável quer me pegar. Elas deveriam também arrumar alguém e deixar de sair por aí tentando pegar todo mundo.
Jorge A. M. Maia