O Brasil vive talvez uma das mais importantes viradas de página em sua política de energia e desenvolvimento regional. A faixa conhecida como Margem Equatorial, que se estende desde a foz do Rio Oiapoque, no extremo norte do Amapá, até o litoral norte do Rio Grande do Norte, recoloca o país no mapa mundial da exploração de petróleo e gás. Para o estado do Amapá, isso representa muito mais do que uma oportunidade, pode significar, enfim, o cumprimento de um ciclo de protagonismo econômico que vinha sendo adiado.
A história não começou ontem. Há décadas, o Brasil sabia da existência desse corredor marítimo riquíssimo em potencial. Todavia, durante muito tempo a tecnologia, os custos, e, sobretudo, o receio das repercussões ambientais retardaram a movimentação das grandes petroleiras e das decisões regulatórias.
Somente a partir da aceleração das descobertas vizinhas — na Republica Cooperativa da Guiana e no Suriname — e da modernização das plataformas de exploração em águas profundas, a Margem Equatorial ganhou força como o “novo pré-sal” brasileiro.
Finalmente, com a licença de pesquisa concedida e com estudos de impacto avançados, a autorização para iniciar levantamentos sísmicos e perfurações exploratórias abre a porta para uma nova trajetória. Confesso, que em particular, me mantive descrente que o IBAMA concederia a licença antes da realização da COP-30, prevista para acontecer no próximo mês em Belém do Pará.
Destaco, que essa oportunidade chega num momento simbólico para o Amapá, pois o Estado já demonstrou que sabe preservar seu patrimônio natural e por isso, não pode mais ficar à margem do seu próprio desenvolvimento. – Digo sempre, já cumprimos o nosso dever ambiental. Para se ter dimensão, segundo dados do governo, o Amapá possui cerca de 73% do seu território sob alguma forma de proteção (unidades de conservação, terras indígenas ou territórios tradicionais). Além disso, cerca de 95% dos ecossistemas naturais do Amapá permanecem intactos. Esses números demonstram que o Amapá não é apenas um território rico em recursos naturais, mas um exemplo de guarda responsável destes bens.
Quando se fala em “crescer sem destruir”, como se costuma garantir nos discursos de sustentabilidade, o Amapá já assumiu sua parte. Agora é preciso que o progresso chegue, com justiça, com governança, com aproveitamento das cadeias produtivas e com inclusão das comunidades locais — e que não seja impedido por bloqueios que o mantêm como passivo ambiental, quando ele já se transformou em proativo conservador. Não obstante, a Petrobras é uma grande expert mundial em exploração de petróleo em águas profundas, sem jamais ter protagonizado qualquer desastre ambiental.
Sob a perspectiva econômica, a Confederação Nacional da Industria (CNI), elaborou um estudo sobre o potencial da Margem Equatorial. Conforme os números, o Amapá poderá receber impacto extraordinário em seu Produto Interno Bruto (PIB) e na geração de empregos. Em uma das projeções, a CNI estima que, com exploração de um bloco no estado, haja um acréscimo de R$ 10,7 bilhões ao PIB estadual, o que corresponde a um crescimento de 61,2%. Ainda nessa projeção, seriam gerados aproximadamente 53.916 novos empregos. Esses dados não são meramente estatísticos. Significam, na prática, investimentos em infraestrutura portuária, rodoviária, logística marítima e diversificação econômica, com a criação de polos de serviços, tecnologia, manutenção e suporte à cadeia de óleo e gás.
Vale lembrar que o estudo da CNI aponta um efeito de multiplicador, ou seja, para cada poço explorado, considerou-se produção estimada de 100 mil barris por dia, cotação de US$ 80 por barril e câmbio de R$ 4,93. Quando adaptado ao cenário do Amapá, abre-se uma nova fronteira para a economia local. Municípios como Oiapoque, Calçoene, Macapá, Santana, entre outros, entram no roteiro direto da atividade econômica.
O Amapá não pode mais ser visto apenas como palco de preservação, com a economia refém dessa condição, como se a proteção ambiental e o desenvolvimento estivessem necessariamente em conflito. O modelo que se impõe é o de coexistência madura, onde o mundo reconhece que o estado amapaense fez sua parte na preservação e agora precisa que a nação reconheça que ele pode gerir o progresso.
É hora de dizer com clareza que a exuberância da natureza amapaense não é obstáculo, mas patrimônio e alavanca. A Margem Equatorial, nesse sentido, funciona como gatilho para uma virada estrutural. Ampliar a base econômica, gerar empregos que ficam no local, fortalecer as capacidades técnicas regionais, promover inovação e tecnologia, acelerar investimentos em educação, saúde e habitação. Não se trata de “explorar” sem responsabilidade, mas de “desenvolver” com inteligência e este é o grande desafio que o Amapá deverá abraçar.
Claro, não se pode ignorar que há desafios reais, qualificação da mão-de-obra, governança pública, infraestrutura adequada, e regras claras que assegurem que os benefícios cheguem à população. A CNI já ressalta que a produção petrolífera exige uma cadeia de máquinas, equipamentos e serviços de suporte, com impacto direto nas regiões Norte e Nordeste. Para o Amapá, isso significa que o Estado deve se preparar, de forma estratégica, para capturar este momento não apenas como coadjuvante, mas como protagonista.
Sob essa perspectiva, o desbloqueio da exploração na Margem Equatorial torna-se imperativo para o Brasil. Se o país pretende assumir protagonismo energético global, reduzir desigualdades regionais e ativar polos de crescimento no Norte profundo, não pode adiar mais. O Amapá já fez sua parte no capítulo ambiental, agora exige protagonismo no capítulo econômico.
Portanto, quando se fala “desenvolver com responsabilidade”, o Amapá não está pedindo licença para crescer, está mobilizando argumentos sólidos para que o país o deixe crescer. Que o momento histórico seja aproveitado com sabedoria, que os recursos sejam geridos com transparência, que a força-tarefa de desenvolvimento seja construída com participação local e que o “despertar econômico” do Amapá seja, enfim, uma realidade.
Esse é o grande chamado para o Amapá, a Margem Equatorial não é apenas promessa é frente de transformação. E para o Brasil, é uma chance de ouro de ativar uma região que por muito tempo ficou à margem do próprio destino. Se a nação quer uma virada de página, que ela olhe para o Norte, que ela invista no Amapá.

