Donald Trump volta a encenar o velho roteiro de Hollywood: o xerife americano que, armado até os dentes, invade o território alheio em nome da “liberdade” e do “combate ao mal”. Desta vez, o palco é a Venezuela, e o pretexto é o narcotráfico. Mas sob o verniz moralista, está o velho apetite imperialista pelo ouro negro. Como denunciava Noam Chomsky em Hegemony or Survival, os Estados Unidos jamais deixaram de exercer uma política externa baseada na “doutrina do domínio permanente”, uma diplomacia de destruição disfarçada de missão civilizatória. Na prática, o que se vê é o declínio de uma potência em busca desesperada por reafirmar sua relevância global.
A ofensiva contra o governo de Nicolás Maduro tem pouco a ver com drogas e muito com petróleo. Trump tenta reeditar o manual da Guerra Fria, escolhendo um inimigo latino para justificar seu fracasso interno. A economia americana cambaleia sob déficits, desigualdades e uma bolha produtiva insustentável. Ao mesmo tempo, China e Rússia ganham protagonismo, consolidando novos polos de poder. Como observa o geógrafo David Harvey, o imperialismo contemporâneo é antes de tudo uma “fuga para frente”: quando o sistema capitalista entra em crise, ele exporta seus problemas pela força. E é exatamente isso que Trump faz — transforma o colapso interno dos EUA em guerra externa para distrair o público e alimentar o fetiche patriótico.
Ironia das ironias: o mesmo país que se proclama defensor da democracia financia golpes, fomenta bloqueios e sabota governos eleitos, como fez com Allende no Chile, com Arbenz na Guatemala e com tantos outros. A Venezuela é apenas mais um episódio dessa longa história de pilhagem com verniz moral. Trump não quer salvar o povo venezuelano — quer apenas garantir acesso às maiores reservas de petróleo do planeta. Como diria Eduardo Galeano, “as veias abertas da América Latina” continuam a sangrar, agora sob o bisturi do populismo bilionário de um magnata que faz da política um espetáculo e da guerra, um negócio.
O gesto imperialista de Trump é, na verdade, o retrato de um império em decadência. Como afirmou Immanuel Wallerstein, “toda hegemonia declinante recorre à força quando já perdeu a legitimidade”. O mundo assiste à decomposição do poder americano, que ainda ruge, mas já não inspira respeito — apenas temor. E enquanto o planeta tenta reconstruir uma ordem multipolar baseada na cooperação, o velho cowboy insiste em cavalgar sozinho rumo ao abismo, disparando bombas e bravatas. A América Latina, tantas vezes saqueada, observa com amargura e sarcasmo o teatro de um império que, para se sentir vivo, precisa continuar matando.
O império em decadência e o novo faroeste de Trump na Venezuela

