Gosto de sentir a terra.
A maciez da terra, seu aroma único após as chuvas.
A leveza de suas partículas, o solo solto, inclusivo. Aquele que acolhe sementes, galhos e raízes para produzirem sombras, alimentos, flores…
A sua firmeza ou adensamento, a compactação que a torna sustentáculo de passos leves ou pesos pesados, de barreiras e estradas.
Gosto de ouvir o mar.
A soma de todas as vozes suprimidas, desviadas, ignoradas, esquecidas, ignoradas. Cantares de sonhos ou brados de indignações. Ou como escreveu Fernando Pessoa, “Ó mar salgado, quanto do teu sal. São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, quantos filhos em vão rezaram!”
E continuamos a salgar e tingir os mares com nossas lágrimas e sangue, como ora ocorre no Mar Mediterrâneo, em Gaza, ou no Mar de Azov , na Ucrânia e Rússia.
E os povos que não têm mar? Nós brasileiros, por um acaso do acaso do destino, não temos mar, salgamos e abastecemos Oceanos com nossas lágrimas e suor, desatinos.
Gosto de ouvir o vento.
Tem gemidos, mas também “play lists” e carícias. Oferece o frescor em dias de calor, solta o furor das indignações em razão dos gestos contidos diante dos secretos embates, dos flagelos dos ares e terras úmidas com árvores tombadas ou escavações desmedidas sem justa razão.
Amo a natureza, sou dela parte, ela é parte de mim, somos interconectadas na construção das densas matérias dos nossos corpos e nas vibrações sutis da mente e do coração.
Ela é equilíbrio e harmonia. É cultivo sustentável e colheita assegurada.
Concordamos estamos imersos em um ambiente “zureta”.
Tudo importa, desimporta, fecha a porta, compra a próxima tonelagem importada decomposta e sem bagagem, uma viagem sem nau e sem vela, rumo as brumas dos desequilíbrios, dos estresses coletivos em prol do comando subversivo dos donos do mundo – os tristes, os ceifadores de sonhos e vidas.
Vou ser óbvia e repetitiva, neste período que nos lembre o dia do meio ambiente e o dia dos oceanos – dia do ser humano é todo dia.