Nascido nas Minas Gerais levou em sua fuga da ditadura militar brasileira (1964-1985) para o seu refúgio em Paris as memórias dos céus e montanhas de sua infância raiz.
E foi lá que descobriu um mundo amplo, “mundo, mundo vasto mundo”, do conterrâneo Drummond, que poderia ser descoberto pela lente de sua máquina e registrado pelas lentes de sua humanidade.
Embrenhou-se em florestas e savanas da África, em territórios da Ásia e da Mesoamérica em meio a turbilhões sociais e climáticos, denunciando as atrocidades cometidas sobre povos pela ganância e maldade de diferentes instâncias, as externas e as internas – a constante beligerância.
FOTOGRAFOU ALEGRIAS E TRISTEZAS, AS DORES, OS OLHARES DE DESESPERO DAS “GENTES INVISÍVEIS”. DEU-LHES VISIBILIDADE E DIGNIDADE.
Nossas “gentes invisíveis”. As famintas, as dizimadas pelas guerras , as abandonadas ao relento nas ruas, as encurraladas nas armadilhas das drogas e nos crimes de prostituição e sevícia.
Registrou a dignidade, a humanidade, dos habitantes das américas. Os brasileiros das selvas, dos quilombos, dos acampamentos de Sem Terra. Não são apenas fotos, são memórias de olhares intensos, brilho de vida em meio às condições de invasões, de contaminação do habitat, de mercúrio nas águas – herança das grilagens de terras e minerações clandestinas.
Seu périplo humanitário fez-se por algo em torno de 120 países e pode concluir com testemunho de sensibilidade e saber que “Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes. Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas…” (Êxodo, 2000).
Ele partiu (2025) vítima de uma doença contraída no Congo, faz 15 anos, em sua longa jornada pelo resgate dos invisíveis. E estes ficaram para sempre nos olhando nos olhos direto de suas fotos ,talvez buscando entender o que nos faz tão estúpidos, nós os “seres inteligentes”.
Estúpidos , sim, pois enquanto ouço um vídeo publicado no Instagram, no qual um coro de 830 crianças cantam encantadoramente “Va,pensiero”, uma agência de notícias divulga que milhares de crianças estão sendo exterminadas em Gaza sob o olhar complacente dos habitantes do planeta.