Nas águas de março flutua o barco do “ERRANTE NAVEGANTE” ( barco cantado em verso que é pura poesia do baiano Caetano Veloso) e leva em seu mastro a bandeira do Dia Mundial da Poesia. No entanto, aqui nestas plagas, no Brasil brasileiro, é em outubro que se faz a dança e se dá o ritmo, faz-se a apoteose da festa poética.
Dia 20 de outubro é o Dia do Poeta, rememorando o Movimento Poético Nacional (20. 10. 1926) criado em uma reunião na casa de Menotti del Picchia (jornalista, escritor, advogado e pintor).
Dia 31 de outubro , Dia da Poesia Brasileira, homenagem a Drummond. Aquele que nasceu em Itabira. Itabiranos têm oitenta por cento de ferro na alma, conforme resumiu o poeta “POR ISSO SOU TRISTE, ORGULHOSO: DE FERRO”.
SERÁ NOSSA POESIA DE FERRO?
Ferro aquecido no fogo das paixões, das emoções belas, sublimes, encantadoras e das doloridas – nas fornalhas da vida.
Ferro moldado nos mais diversos tablados, nos sonhos apoteóticos, nos desencantos traumáticos, na quentura dos extremos, no frescor das águas transparentes em borbulhas minúsculas no caldeirão maiúsculo – sorvedouro voraz.
Esta poesia que abre fendas e frestas nas quais a luz se insinua deixando a escuridão desnuda aos olhares do mundo.
A poesia pode ser homeopática, delicadamente curar feridas, com curativos plasmáticos. Não obstante, também pode ser um terremoto, abrir fendas no chão tragando a superfície e criando rasgos profundos para sacudir alicerces putrefatos e renovar o mundo.
Um fato é indiscutível, como nos ensinou o poeta e educador Rubem Alves, “SEM A EDUCAÇÃO DAS SENSIBILIDADES, TODAS AS HABILIDADES SÃO TOLAS E SEM SENTIDO”. E a poesia é a arte da sensibilidade, traduzir em palavras as diferentes nuances ou a nuance única de um único vivente frente ao que é comum, seja de assuntos triviais, científicos ou inéditos.
Alguns poetas escrevem, outros não, apenas sentem. Se algo posso dizer é que valorizem esse sentir diferenciado, exercitem no dia a dia.
Alguns escrevem, outros leem e seguem a linha , as cambalhotas, as curvas e passes de bailarinas ou saltos de atletas de olimpíadas.
Como observou Mia Couto, o escritor de Moçambique, “AFINAL, NÃO HÁ LUGAR ALGUM PARA CHEGAR, ALÉM DE MIM. EU SOU O VIAJANTE E TAMBÉM A VIAGEM…”
Seria, então, uma viagem em busca de novas paragens entrementes nos sulcos e precipícios quais cascatas cristalinas com véus de neblinas saltando das rochas basálticas para o leito calmo do regato entre paredões oculto em um culto à Natureza.
Nesse mergulho abissal, que a poesia oferece, como reza ou como prece, pode-se compreender e abraçar o rosário de esperança espalhado por Mario Quintana: “EXISTEM PESSOAS RARAS, SENTIMENTOS NOBRES E ALMAS PURAS. AINDA HÁ SORRISOS SINCEROS, PALAVRAS QUE CICATRIZAM. EXISTE QUEM AMA SEM FALAR EM AMOR… AH, EXISTE SIM.”

