Quando já do meio para o final da década de 1980 visitei minha vizinha, lá na rua Deputado Mario de Barros, levando um abraço de gratidão, não poderia imaginar que ali nasceria uma amizade que nem o tempo nem a Geografia poderiam abalar ou descartar no esquecimento das memórias sem sentido.
Duas de minhas filhas eram suas alunas de piano, a caçula era colega de sua filha no Colégio Novo Ateneu (Integral), seus meninos uns queridos geniais. Era tudo tão normal, quase banal. Mas nada é banal quando verdadeiros sentimentos e a bondade estão instrumentalizados no ritmo sonoro e pictórico da vida vivida com empatia.
As conversas se aprofundaram na observação filosófica do pôr do sol, em inúmeros dias, isso em plena Curitiba, em um diapasão de sonhos desenhados para transmutar o peso e o legado fantasmagórico de pesadelos tormentosos vindos dos respectivos maridos.
Não falávamos das pessoas cujas vozes destoantes tumultuaram nossas jornadas. Aquelas que foram dissonantes em nossas orquestrações, desafinando os sopranos e contraltos, os tenores e baixos, sem respeitar as partituras.
Falávamos dos ciclos, dos movimentos dos astros. Do Sol que se punham em um show variado de cores em direção ao Centro Cívico, embrenhando-se misterioso no escuro da noite, sons desconhecidos, para ressurgir no outro dia no esplendor do azul, mesmo que sobre a cidade, muitas vezes, um manto de nuvens cinzas se estendesse sem rima.
Aprendíamos com o Sol que tudo é cíclico. Há dias em que se jogam pinceladas, pegadas, para desfraldar ao anoitecer uma tela multicolorida que é encoberta pelo negrume ou se dispersa nos mistérios das noites sem lume. Há dias em que os jatos de tinta deixam os muros espinafrados com rabiscos sem cor – um cenário desolador.
Em ambos os casos, ao amanhecer, o Sol novamente irá brilhar, pupilas iluminar… E ao toque de seus raios pássaros irão cantar para lhe saudar, as plantas irão vicejar em verdes tons infindáveis, as pétalas das onze horas irão se abrir em multicoloridos tons a sorrir.
Milhões de acordes minha emoção ao receber desta amiga um calendário artesanal, feito por ela, com fotografias de pôr do sol (verdadeiras obras de arte), atividade a que se dedicou nos últimos 20 anos (fotografar o pôr do sol) , com esta dedicatória: “… Que você marque muitos momentos felizes neste ano…”
Izabel, emocionada, só posso desejar que toda a humanidade aprenda com o SOL e marque também momentos felizes no ano/calendário de 2025.