A gente insiste em opinar no preço das coisas. Falamos que tal serviço é caro, que os produtos de tal loja são caros e que tal marca é cara. Fazemos isso como quem se sente no direito de precificar o trabalho, o produto, o tempo, o conceito e a ideia dos outros. A questão é que vão existir todos os tipos de coisas para todos os públicos e, no fim, cada um vai comprar aquilo que pode ou aquilo que acredita poder.
A Rafa Kalimann recentemente gastou dez mil reais em livros decorativos para colocar na sua casa. A Vicky, filha do Robertos Justus e da Ana Paula Siebert, foi massacrada na internet, mesmo tendo apenas 5 anos, por ter aparecido usando uma bolsa de quatorze mil reais em uma foto de família.
É entendível que esse tipo de ostentação cause incômodo, especialmente em um país tão desigual como o nosso, mas criticar e quebrar a cabeça pensando se é certo, se é errado, não faz parte do nosso escopo de funções da vida. Por que alguns gastos chocam tanto enquanto outros passam despercebidos?
Nesses dias, uma publicação da Christiane Laclau trouxe à tona uma matéria da Superinteressante, de 2023, com título “Quanto custaria comprar o Louvre completo, com todas as obras dentro?”. Achei legal o questionamento, li a publicação no Instagram e, posteriormente, procurei a original na internet.
Na matéria, a conclusão óbvia é de que o preço dos 380 mil itens do Louvre é incalculável, principalmente se levarmos em conta que Salvator Mundi, de Leonardo da Vinci, em 2017, era avaliada em 2 bilhões de reais, enquanto a Monalisa, por sua vez, era avaliada em 5 bilhões de reais.
Estamos falando de bilhões em apenas duas obras, uma especulação, porque a verdade é que o valor dessas obras é incalculável. Elas não têm um valor de venda definido porque ultrapassam o conceito de preço com o qual lidamos no dia a dia. Aqui, pergunto: o que torna algo caro? Qual é o conceito do que entendemos como caro: o preço que se paga ou o valor que ele carrega para quem o deseja? Porque, no caso da Monalisa, por exemplo, ela é incalculável não só pela obra em si, mas pelo que representa ao mundo.
A gente pode questionar outras coisas também, pensar que tem pouca gente com muito e muita gente com pouco. Contudo, as realidades diferentes existem e fazem parte do sistema em que vivemos.
A partir disso, também me perguntei outras coisas e entendi que o que é essencial para um nem sempre vai ser para o outro e vice-versa. Para alguns, livros como decoração são acolhedores e, para outros, algo completamente sem sentido.
Consumo é uma construção simbólica e quem tem dinheiro tem mais liberdade para inventar novos símbolos e gastar mais. A bolsa da menininha, os livros ou um quadro que talvez nunca nem seja vendido valem mais pelo valor simbólico, conceitual e histórico que carregam, respectivamente.
Tem coisas que eu não posso pagar, mas não é por isso que devo julgar aqueles que podem. Tem coisas que eu não acho que faria sentido ter, mas também não devo julgar aqueles que acreditam que faz… É fácil julgar o outro, mas precisamos, também, olhar para os nossos próprios luxos. A crítica costuma vir de um lugar de comparação, às vezes de frustração, de incômodo, independentemente de qual seja a razão.
Não acho que cabe dizer que “cada um gasta com o que quer” porque não temos as mesmas condições. Por isso entendo aqueles que falam que alguns gastos não só são supérfluos, como são absurdos. Porém, a ideia é repensar sobre consumo. Vale lembrar que todos, em maior ou menor grau, atribuímos valor simbólico a algo: à unha em gel, ao café especial, ao celular de última geração, a roupas que vestimos, aos personagens do videogame, a festas, à itens colecionáveis ou até uma simples garrafinha.
Um livro bonito na mesa de centro ou uma bolsa de luxo nas mãos de uma criança não precisa virar assunto dessa maneira. A gente pode e deve debater desigualdade, mas talvez o foco deva estar menos no quanto algo custa e mais em por qual razão isso importa para alguém. A intenção de todos, no fim das contas, é ter pelo menos o básico e ser feliz.
Essas notícias sobre o preço de compras ou produtos de famosos me fizeram questionar em que momento esse tipo de coisa passou a ser relevante a ponto de ser noticiada. Digo: quando as pessoas passaram a se preocupar tanto com quanto custa o look, a bolsa, a joia, o carro, a casa, a compra de mercado dos famosos? Será que os veículos de comunicação precisam mesmo noticiar essas coisas e instigar polêmicas?
Em busca de engajamento, muitos jornais estão noticiando coisas que não fazem sentido nas nossas vidas, informações sobre gente que não nos interessa de verdade e, pior de tudo, entregando matérias sensacionalistas para ter mais visitas em seus sites.
Cada um sabe o que carrega na sacolinha da própria vida, o que valoriza, o que gosta e, por isso, não devemos julgar o outro por gostar e valorizar coisas diferentes, nem por poder gastar valores inimagináveis com coisas que nunca compraríamos. Talvez a gente deva se questionar muito mais sobre o que estamos consumindo enquanto informação.