Eis que chega ao final a COP30 que deixou a cidade de Belém em polvorosa. As elites do mundo festejam ou choram. Os cidadãos comuns, meros mortais, continuam a trabalhar alheios a qualquer COP para sustentar as famílias e alimentar os filhos. No final qual o nível de satisfação do povo?
Leiamos o que resume a Reuters na matéria publicada, em 18 de novembro de 2025, “Clamor por mudanças nas negociações climáticas da COP30”, assinada por Kate Abnett, Simon Jessop e Lisandra Paraguassu e que transcrevo trechos para que leitor não envolvido no processo entenda o que ocorreu realmente.
“Uma questão existencial paira sobre a COP30 deste ano no Brasil: qual é o verdadeiro propósito das negociações climáticas anuais da ONU?
Mais de 30 anos de discussões sobre ações globais para combater as mudanças climáticas resultaram em avanços, incluindo a expansão acelerada de energias renováveis e o aumento dos fundos climáticos — mas não o suficiente. As emissões continuam aumentando. As temperaturas ainda estão subindo. Isso gerou crescentes apelos por uma reforma das cúpulas da Conferência das Partes, especialmente porque as negociações climáticas globais foram concebidas para acordar metas globais e avaliar o progresso alcançado, mas não para intervir e acelerar os esforços no terreno.
A Reuters entrevistou mais de 30 especialistas no assunto, incluindo diplomatas, ex-negociadores da ONU, ministros de governo, ativistas, investidores e executivos de bancos de desenvolvimento de países ricos e em desenvolvimento. Muitos descreveram o processo liderado pela ONU como necessitando de uma atualização para se tornar adequado à tarefa que tem pela frente: transformar anos de promessas da COP em ações concretas no mundo real. ‘Precisamos deixar de lado as comemorações informais em torno das negociações e nos concentrar em esforços realmente focados para acelerar a implementação’, disse um negociador europeu. ‘Esta é provavelmente a última das antigas COPs e o começo de uma nova era.’
Mas mesmo aqueles que concordam que as COPs precisam de uma reformulação discordam sobre como essa reformulação deveria ser. Aqueles que temem a reforma dizem que ela não poderia acontecer em pior momento. Com a política anti-clima ganhando força nos Estados Unidos e outros países enfraquecendo as políticas ambientais, eles temem que uma reforma possa ser contraproducente e levar a algo pior. ‘Num momento em que o debate climático está tão vulnerável, iniciar um processo de reforma pode significar que podemos ser capturados pelos negacionistas climáticos’, disse o ex-ministro do Meio Ambiente do Peru, Manuel Pulgar Vidal.
A ONU está entre aqueles que buscam uma mudança. O chefe do secretariado climático da ONU, Simon Stiell, criou um grupo de 15 ex-líderes mundiais, diplomatas, ministros, representantes empresariais e indígenas para aconselhar sobre como adequar as COPs para a próxima década. O grupo apresentará suas recomendações nas próximas semanas, disseram dois membros à Reuters. Stiell disse à Reuters que o processo da COP trouxe progresso real, observando que os compromissos climáticos mais recentes dos países reduziriam as emissões globais em 12% em relação aos níveis de 2019 até 2035, marcando o primeiro declínio constante. ‘Mas nesta nova era, precisamos evoluir e melhorar para acelerar… Mas também precisamos ter clareza sobre quem pode mudar o quê’, disse ele. Um dos membros do grupo consultivo, o cientista climático Johan Rockstroem, afirmou que “nada estava descartado” durante o debate sobre opções que iam desde permitir decisões por maioria de votos até reestruturar o formato da cúpula anual. ‘No final das contas, o que importa é começar a cumprir os acordos’, disse Rockstroem à Reuters. Para aqueles que buscam mudanças, uma das principais frustrações é a exigência da COP de que as decisões sejam tomadas por consenso total dos quase 200 países envolvidos, um modelo que muitas vezes permitiu que iniciativas mais ambiciosas fossem bloqueadas. Um acordo firmado na COP26 em Glasgow, em 2021, para ‘eliminar gradualmente’ o uso global de carvão foi diluído gradualmente após uma objeção de última hora da Índia.
Uma solução seria a mudança para um modelo de votação por maioria. Mas essa mudança exigiria um consenso total, o que demonstra que o maior obstáculo para grandes mudanças nas negociações climáticas globais é a necessidade de aprovação de todos os países. Alguns governos sugeriram ideias como realizar a COP a cada dois anos ou dividir partes dela em encontros menores focados em ações concretas, disseram diplomatas à Reuters. Avinash Persaud, assessor especial do presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, alertou contra a redução da frequência das cúpulas. ‘Receio que, se tivermos uma COP a cada dois anos, perderemos parte desse ímpeto’, disse ele.
A presença de dezenas de milhares de delegados nas cúpulas – incluindo grandes contingentes empresariais – fez com que algumas COPs recentes se assemelhassem mais a uma feira comercial do que a negociações sobre políticas climáticas. Enquanto alguns aplaudem essa abordagem por conectar governos com os bancos e empresas necessários para concretizar as promessas climáticas, outros querem uma redução de escala.
‘Há pessoas que se beneficiam literalmente apenas de ir de COP em COP, de coquetel em coquetel, de evento paralelo em evento paralelo, enquanto o mundo continua em chamas’, disse o negociador panamenho da COP, Juan Carlos Monterrey. Um documento vazado da ONU, visto pela Reuters, mostra que uma força-tarefa interna da ONU propôs este ano a incorporação do órgão climático da ONU em outro departamento e questionou ‘se a COP, em seu formato atual, deveria ser descontinuada’. ‘O sistema não está funcionando. Estamos literalmente afogados em papelada’, disse Monterrey, do Panamá, à Reuters.
Ativistas também criticaram os defensores dos combustíveis fósseis que atuam como países anfitriões da COP e instaram esses países a bloquear a entrada de delegados da cúpula com conflitos de interesse, como executivos de empresas petrolíferas que buscam expandir o uso de combustíveis fósseis. Reconhecendo a frustração com o ritmo lento do progresso, o Brasil, país anfitrião, pediu às partes da COP30 que evitem novos compromissos este ano e, em vez disso, trabalhem em como cumprir as promessas antigas. O Brasil propôs a criação de um conselho apoiado pela ONU para visitar e verificar se os países estão cumprindo seus compromissos assumidos na COP.
Os governos envolvidos nas negociações da COP30 também estão debatendo como desenvolver a diplomacia climática global. Pela primeira vez, os países estão considerando um acordo final da COP que definiria a intenção da diplomacia climática mundial de ‘transitar das negociações para a implementação’, de acordo com uma nota publicada no domingo pelo presidente da COP30 do Brasil.”
Pois é, entenderam alguma coisa? Consultado um anônimo sobre a COP30 ele respondeu:
“Não deu em nada, apenas uma oportunidade para marcar a data da próxima reunião. O Brasil com a velha e conhecida mania de fiscalização e controle. Os cidadãos trabalhadores comuns perderam os seus direitos constitucionais de ir e vir, as crianças perderam dias de aula. Os que contestam as teses estapafúrdias da ONU são chamados de negacionistas.”
Os caminhos da COP30.
COP que te quiero COP.

