Essa questão do tempo, muitas vezes ou quase sempre nos tira o pouco do tempo que temos. Hoje eu, meio sem tempo, e indo para o trabalho de ônibus, resolvi dá uma pequena olhada no whatsapp, pois lembrei que hoje é sexta-feira e de acordo com Lú Moraes, toda ( C ) Sex(S)ta, tem poema, aqueles que o Colecionador de Pedras pega pelas feiras, supermercado ou indo para o trabalho, como vindo também.
Então, coloquei a mão na cesta, sabendo que hoje é sexta, e tirei um poema quentinho, acabado de sair do forno, feito aquele pão que está fumarando a espera de uma boa manteiga para ser comido. Não obstante, fui um tanto egoísta, pois não quis compartilhar com ninguém, igual a moleque que esconde o picolé para só depois de comê-lo, fala para alguém sobre ele. Como se diz na linguagem atual. Eu quis causar.
Antes de chegar à minha parada, eu dei uma olhada na de Lú Moraes, a famosa Parada-Frustração. Fiquei imaginando se as pessoas que estavam ali, próximas a mim, teriam pegado o ônibus nessa parada, pois muitos semblantes sentados ali,pareciam frustrados ou desapontados com alguma coisa.
“Cheguei cinco pras quatro
e já são quatro e vinte
e nada d’ônibus.Se chegasse quatro e cinco
Já teria passado
Já teria perdido
Já teria chegado.À conclusão de que
o mundo realmente
é potente em me desapontar e
quase sempre consegue”
Essa questão do tempo, às vezes ou por muitas vezes nos causa certas frustração. Esperamos, às vezes, por muito tempo, ora seja ônibus, ora seja um grande amor, ora seja algo que acreditamos estar perto u por perto. Damos essa credibilidade ao tempo, porém ele não nos paga com a mesma moeda. Ele passa e leva consigo as pessoas, ônibus, grandes amores e até mesmo o nosso próprio tempo. A verdade é que sempre estaremos à mercê do tempo do tempo. E o mundo? Como ele gira em torno do tempo e assim como o tempo, nos causa também certa frustrações ou desapontamentos. Veja só, há 30 minutos mandei uma mensagem à coordenadora da escola dizendo que em vinte minutos eu estaria na escola. Vinte minutos foi o tempo que esperei o ônibus chegar. Já estou frustrado e desapontado com o motorista pelo seu atraso.
Isso me faz correr contra o tempo. Opa! Eu não, o ônibus sob a batuta do motorista que também corre sob a batuta do tempo. Tentamos sempre explorar as facetas multifacetadas do tempo, seja como um fluxo inexorável que constrói e destrói, um conceito subjetivo que acelera com a idade, ou um momento presente que convida à reflexão sobre a finitude e o valor das experiências diárias.
Um rei que impera e transforma tudo: o tempo da construção de um ser humano, da uva em vinho e do vinho em vinagre, mas também o tempo que leva embora as ilusões, os amigos e até a vida e tudo que a ela pertence, e o faz no seu devido tempo.
Percebi que o tempo está sempre no “agora”, pois o passado e o futuro são construções da nossa mente, uma tentativa de lidar com os medos e anseios da alma. Cheguei à escola a tempo de pegar as minhas coisas e ir até a sala de aula para, pois os alunos estavam, há tempo, à minha espera para saberem sobre as suas notas e eu não poderia frustrá-los ou desapontá-los.
Mesmo sem tempo, encontrei um punhado de tempo e conversei com Rubens Alves e digo que concordo com ele quando ele diz: “Um calendário é coisa precisa: anos, meses, dias, horas, que são marcados com números. Esses números medem o tempo. Mas os pedaços de tempo são bolsos vazios: nada há dentro deles. O bolso vazio do tempo se torna parte do nosso corpo quando o enchemos com vida. Aí o tempo não mais pode ser representado por números. O tempo aparece como um fruto que vai sendo comido: é belo, é colorido, é perfumado. E, à medida que vai sendo comido, vai acabando. Vem a tristeza. O tempo da vida se marca por alegrias e tristezas. Há inícios e há fins.
O tempo é um velho, cada vez mais velho, sobre quem se acumulam os anos que passam e de quem a vida foge.
Essas (C)Sex(S)tas, que às sextas preenchem minhas (C)Sex(S)tas, me fazem encontrar tempo, e como um passatempo eu decorro sobre o meu próprio velho tempo.
Caramba! Quase passo do ponto…
Jorge A. M. Maia