Acredito, que assim como eu, você já deve ter se perguntado, por que os piores quase sempre chegam ao poder. Será isso culpa nossa ou habilidade deles?
Em busca da resposta, encontrei alguém, com a mesma inquietação, mas diferente de mim, ele foi um dos maiores pensadores liberais do século XX, o nome dele é Friedrich August von Hayek. Nasceu em Viena, em 1899 e atravessou as tormentas de seu tempo e, talvez, as maiores de todas, me refiro a primeira e segunda guerras mundiais. Ainda, viu germinar e também eclodir o surgimento dos regimes totalitários e a expansão das ideias socialistas. Foi professor em importantes universidades, laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1974.
Entre suas obras, uma se destaca pelo tom sóbrio e pelo caráter profético, “The Road to Serfdom”, traduzindo: “O Caminho da Servidão”, publicado em 1944. Um livro que influenciou a imaginação politica de pensadores liberais conservadores. Escrito em plena Segunda Guerra Mundial, a obra é um alerta contra os perigos do planejamento centralizado, do coletivismo e da expansão ilimitada do Estado. Hayek sustentava que, quando a liberdade é sacrificada em nome de uma suposta justiça social ou de uma promessa de bem-estar coletivo, abre-se a porta para a tirania.
Embora esse livro tenha ficado na lista dos 100 livros mais influentes já escritos, segundo a lista de Martin Seymour-Smith e em primeiro lugar no top ten books Every Republican Congressian Should Read de 2006. Chamo a atenção de todos para capítulo 10, intitulado “Por que os piores chegam ao poder”. Hayek toca em um ponto crucial da degeneração política, que é a tendência natural dos regimes que concentram poder em atrair lideranças de caráter duvidoso, populistas ou corruptos. Em suas próprias palavras: “É quase inevitável que num sistema onde a direção de quase tudo depende de decisões políticas, as pessoas mais inescrupulosas se imponham sobre as demais”.
Essa observação nos ajuda a compreender fenômenos contemporâneos, inclusive no Brasil, onde a “lógica dos piores” parece imperar. Quando o Estado se torna o provedor absoluto, distribuindo favores, recursos e privilégios, cria-se um ambiente fértil para que políticos sem escrúpulos ascendam. Não é a virtude que os leva ao poder, mas a capacidade de manipular massas, dividir a sociedade e prometer aquilo que sabem ser impossível cumprir.
Para fundamentar sua tese, Hayek, destaca três mecanismos que explicam o porquê os piores prevalecem. O primeiro, está ligado ao apelo à maioria pela simplificação – As massas tendem a seguir líderes que reduzem problemas complexos a slogans fáceis, explorando ressentimentos e emoções; o segundo, diz respeito a necessidade de lealdade cega – Regimes centralizadores exigem obediência e eliminam as vozes dissonantes, favorecendo aqueles que não hesitam em agir de forma autoritária; terceiro, ele fala sobre a seleção dos mais radicais – Para consolidar poder, os líderes precisam radicalizar, atraindo sempre os que estão dispostos a ir mais longe na demagogia e na corrupção.
O retrato vívido das ideias de Hayek, nos dias atuais do Brasil, parece uma descrição perfeita do que vivemos. Chocante, mas real.
Todos devem lembrar, afinal foi há uma eleição atrás. Luiz Inácio Lula da Silva, atual presidente, foi condenado e preso por corrupção no maior escândalo político e financeiro da história nacional, a Operação Lava Jato. Na época a investigação revelou o desvio bilionário de recursos públicos, envolvendo empresas estatais, empreiteiras e partidos políticos. Ministros, senadores, deputados e empresários formavam uma rede de corrupção sistêmica.
E, no entanto, Lula voltou ao poder. A pergunta de Hayek encontra resposta em nossa realidade, os piores chegam ao topo porque a política, dominada por promessas fáceis e pela manipulação da narrativa, premia justamente os que se mostram mais aptos a jogar esse jogo.
A isto, Hayek advertia: “Se quisermos um sistema em que tudo seja dirigido por uma vontade coletiva, teremos de aceitar que a vontade que prevalecerá será a de um pequeno grupo de homens, os menos escrupulosos em recorrer a todos os meios necessários”.
A volta de Lula é a demonstração prática dessa tese. Mesmo após ser desmascarado, o sistema político e jurídico se reorganizou de tal forma que o possibilitou retornar. Como disse Alexis de Tocqueville em sua obra intitulada: A Democracia na América: “a democracia estende o campo da liberdade, mas pode entregar a soberania à mediocridade”.
George Orwell, na Revolução dos Bichos descreveu com ironia amarga a essência do poder corrompido: “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”.
Essas reflexões mostram que a corrupção não é um acidente, mas uma consequência natural de um sistema em que o Estado concentra poderes, recursos e privilégios.
Infelizmente, muitos brasileiros acreditaram que Lula representava o “povo contra as elites”. Mas, como advertiu Hayek, líderes populistas constroem sua narrativa explorando o ressentimento social. Ele também observa, que para conseguir o apoio das massas, um líder precisa apelar a sentimentos primários, aos instintos mais simples e menos nobres. Assim, o discurso da justiça social, do combate às elites e da defesa dos pobres serve como cortina para a perpetuação de esquemas de poder e corrupção.
Mesmo no Amapá, não estamos imunes a isso. Os piores chegam ao poder não apenas em Brasília, mas também nos municípios e nas pequenas instâncias do Estado. Nossa realidade mostra que, muitas vezes, a política premia os mais oportunistas, aqueles que sabem manipular discursos, distribuir favores e usar a máquina pública em benefício próprio. Tenho certeza que você conhece muitos casos. Eu, que sou de Oiapoque, já vi acontecer de perto.
Concluo o texto, não como alguém que teve a pretensão de abordar tecnicamente as ideias de Hayek, sintetizadas em sua obra o Caminho da Servidão, mas de levá-lo a saber que existem obras riquíssimas e ideias que, embora antigas, permanecem atuais. Por isso, minha advertência é um chamado à responsabilidade individual. O futuro da liberdade depende de escolhas conscientes.
O retorno de Lula e os tantos exemplos locais, nos faz refletir, se continuarmos a premiar os piores, não poderemos reclamar dos resultados. Cabe a cada um de nós, romper esse ciclo. A consciência política, a rejeição ao populismo barato e a valorização da honestidade são os únicos caminhos para que deixemos de repetir, geração após geração, a mesma história.