Sou feita de mil esboços.
Sou repleta de abraços.
Abraços selando laços.
Sou a ternura modulada
nas vozes enternecidas
dos eternizados afetos
entre filhas, neta e netos.
Aflorar é multiplicar afetos
em jardins pluridimensionais
onde as amizades em espirais
são bálsamo e salvo-conduto.
Sou chegada e sou partida.
Imagens perpetuadas nas retinas,
sem datação ou carimbos,
identifico-as por rupturas.
Sou tecida por tecidos.
Tecidos de múltiplas texturas,
(nem sempre leves,
nem sempre ásperos),
batidos na pedra e na tábua
pela lavadeira no riacho,
umedecidos de saudades,
alvejados de espantos,
coloridos pelos risos.
Sou a lavadeira, as vestes, o tecido,
a pedra, a tábua e o riacho.
O sabão feito no tacho.
Sou o varal, o vento e o sol.
Sou risos e estrepolias.
Risos do borbulhar dos regatos.
Estrepolias no resgate da inocência
ou da essência borrada pelas nódoas,
manchas das lidas das rimas.
Sou aquela que se importa.
Importa-me…
a floração em todos os rincões,
das gentes plenas de amor,
das gentes sufocadas pela dor.