Quando li esta frase de Charlie Kirk, senti meu coração bater mais forte, meus olhos lacrimejaram e um misto de tristeza e raiva surgiu em meus pensamentos pelo que tinha acontecido. Orei em silêncio, pedi por sua esposa e filhos. Após minha prece, refleti sobre a dimensão trágica e definitiva de acontecimentos que ultrapassam debates ou divergências ideológicas, atingindo o âmago de nossa civilidade.
Charlie Kirk tinha apenas 31 anos quando foi morto covardemente, no ultimo dia 10 de setembro, em Utah, nos Estados Unidos, só 4 anos mais jovem do que eu. Desde muito cedo, tornou-se uma voz marcante no cenário político norte americano, apoiador de Donald Trump, crítico das políticas progressistas em temas como aborto, identidade de gênero, imigração. Ainda, foi co-fundador da Turning Point USA (Ponto de Virada), organização voltada à mobilização política conservadora — especialmente entre estudantes universitários.
Ele falava confrontando o “politicamente correto”, desafiando adversários ideológicos, clamando pela liberdade de expressão, pela defesa de valores que via como tradicionais. Seus livros, suas palestras, sua presença digital fez dessa militância sua forma de vida.
É neste contexto que sua morte ganhou proporções simbólicas enormes, não apenas como o fim de uma vida, mas como o ponto de inflexão convulsivo para discussões políticas que já vinham se deteriorando, transformadas por rancores, desumanização e intolerância.
Recentemente, escrevi sobre a polarização visceral na politica brasileira, de adversários a inimigos. Naquela oportunidade, defendi que a visceralidade da polarização não se manifesta apenas no discurso, ela transborda para o comportamento social, em que famílias se dividem, amizades são rompidas e a demonização “do outro” ganha contornos reais de violência.
John Stuart Mill, em sua Obra: A Liberdade, de 1859, sustentava que silenciar uma opinião é roubar a humanidade, pois se priva a sociedade da verdade ou, ao menos, da oportunidade de confrontar o erro. E, que quando a divergência é tratada como ameaça existencial, abre-se espaço para a violência.
O caso de Charlie Kirk expõe essa realidade. Ele foi morto não por ter cometido um crime, mas por falar. É o retrato daquilo que Hannah Arendt chamava de “banalidade do mal”, quando o ódio político se torna tão comum, tão incorporado, que a morte do outro parece aceitável, quase banal.
Vivemos um momento em que o embate de ideias, antes regido por regras de civilidade, agora, parece consumir-se em espectros sombrios de agressão verbal, “cancelamento”, intimidação, ameaças, ódio e assassinato.
Diante disso, o aspecto mais alarmante do caso não é apenas o assassinato em si, mas a reação daqueles que festejaram sua morte nas redes sociais. Riram, ironizaram, disseram que “era menos um conservador”. Aqui, chegamos ao fundo do poço da desumanização.
George Orwell, no livro 1984, descreve um mundo em que o inimigo político não é apenas contestado, mas apagado de sua condição de ser humano. Essa mesma lógica, em escala real, se manifesta quando pessoas celebram a execução de alguém por suas ideias. É a negação do princípio democrático mais básico, a coexistência de diferenças.
Não se trata de concordar ou discordar de Kirk. Trata-se de reconhecer que ninguém deve ser limitado por suas convicções. Sejam ideias de Direita ou de Esquerda. Quando aceitamos — ou pior, festejamos — que isso aconteça, legitimamos a violência política como método.
Lembrei-me de uma conversa que tive com um colega advogado, quando eu falava sobre o ponto de inflexão histórica, na aceitação das ideias divergentes, na aceitação das diferenças. Há uma tendência tribalista, onde cada grupo cerca-se de seus “iguais” e eliminam os “diferentes”.
A celebração da morte de uma pessoa por questões de opinião, gosto, raça, credo ou ideologia, abre uma porteira perigosa para o extremismo. Assim, pelas palavras, pelos memes, pelos discursos que tornam “o outro” um monstro. Vamos dando espaço também para o totalitarismo.
Nas palavras do filosofo alemão, Friedrich Nietzsche, em sua obra: Além do Bem e do Mal, “quem luta contra monstros deve cuidar para não se tornar um”. Ao tratar o outro como inimigo absoluto, todos corremos o risco de nos transformar naquilo que condenamos. Por isso, devemos manter constante vigilância de nós mesmos.
Defendo, que esse momento exige de nós uma capacidade de entender que tolerar convicções diferentes não é fraqueza. É fundamento de democracia. Discordância não é hostilidade. Que toda violência política, seja física ou simbólica, precisa ser condenada sem distinção ideológica, pois ela destrói a confiança social, intensifica a polarização e corrói direitos. E que a cobrança ética deve valer para todos — militantes, líderes, mídia e redes sociais — já que todos participam da cultura política que pode tanto normalizar quanto rejeitar o desprezo pelo outro.
Concluo, com as palavras de Charlie Kirk: “Se eu morrer, quero ser lembrado pela minha coragem e pela minha fé”. Essas palavras não soam mais como uma frase, mas como um testamento. Ele morreu justamente por viver aquilo em que acreditava, a coragem de falar, de contrapor, mesmo quando o preço parecia alto demais, e a fé que o sustentava em meio ao confronto constante, que o movia e lhe dava a força necessária para continuar.
Hoje, diante de sua morte, a pergunta que fica não é apenas como ele será lembrado, mas como nós, enquanto sociedade, vamos agir. Teremos a coragem de recusar a violência como linguagem da política? Teremos a fé de acreditar que a democracia ainda pode ser construída sobre o respeito ao diferente? Reflita.