A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum. Ela pode ser transmitida por contato sexual, de mãe para filho durante a gestação (sífilis congênita) ou, raramente, por via parenteral (infectando com instrumentos contaminados). Ao contrário do que muitos pensam, não é uma “doença do passado” — ela continua presente e desafiadora nos dias de hoje.
Uma doença antiga — e famosa
Embora o surto mais conhecido na Europa tenha ocorrido no final do século XV (1494–1495, em Nápoles, durante campanhas militares), há indícios de que formações de sífilis ou doenças relacionadas já existiam muito antes disso. Estudos arqueológicos identificaram vestígios de uma possível sífilis congênita com cerca de 9,4 mil anos de idade em ossadas humanas no continente americano. Na Europa medieval, a sífilis era chamada de “mal francês” ou “morbo gálico”. Em 1530, o médico-poeta italiano Girolamo Fracastoro cunhou o termo “sífilis” para designar essa enfermidade.
Durante séculos, antes da descoberta de tratamentos eficazes, a sífilis causou sofrimento extremo: lesões que destruíam a pele e ossos, danos neurológicos e cardiovasculares, deformidades e dor. Foi somente no século XX que se avançou de fato: em 1905, os cientistas Fritz Schaudinn e Erich Hoffmann identificaram a Treponema pallidum como agente causador da doença. Após a descoberta da penicilina, em 1943, o tratamento eficaz tornou-se possível.
A sífilis hoje: um problema real e crescente no Brasil
Ao contrário da crença de que “isso não acontece mais”, a sífilis está longe de ser erradicada. Dados recentes apontam para um aumento sustentado de casos no Brasil. Em 2023 foram notificados 242.826 casos de sífilis adquirida, 86.111 casos em gestantes e 25.002 casos de sífilis congênita, com 196 óbitos associados. Entre 2010 e 2024, houve mais de 1,5 milhão de casos notificados no país — um problema de saúde pública que exige atenção constante.
Por que “imita” outras doenças — especialmente no campo da reumatologia
A sífilis é conhecida entre os médicos como uma “grande imitadora”, porque pode simular, em seus diferentes estágios, várias doenças reumáticas ou autoimunes, tanto pelos sintomas clínicos quanto pelos exames laboratoriais. Em alguns casos, o paciente pode apresentar artrite semelhante à artrite reumatoide, rash cutâneo parecido com lúpus, vasculites, dores ósseas ou até sintomas neurológicos confundidos com doenças autoimunes.
Um exemplo real: uma mulher de 33 anos, no pós-parto, apresentou poliartrite e erupções nas palmas das mãos e plantas dos pés, com FAN positivo. Após exames, confirmou-se sífilis secundária. O tratamento com penicilina resultou em melhora completa e normalização dos exames.
Diagnóstico e tratamento
Os testes laboratoriais incluem VDRL e RPR (não treponêmicos) e FTA-ABS e TPHA (treponêmicos). O tratamento depende da fase da doença e é feito com penicilina benzatina — uma medicação segura, acessível e altamente eficaz. Na sífilis recente, usa-se uma dose semanal por três semanas; nos casos tardios, três doses consecutivas; na neurossífilis, penicilina cristalina em ambiente hospitalar.
Um diagnóstico correto é fundamental: a sífilis responde ao antibiótico, ao contrário das doenças autoimunes, que exigem imunossupressores. O tratamento correto evita complicações graves e garante cura completa.
Um alerta aos leitores
A sífilis pode passar despercebida por muito tempo, por isso é essencial incluir o teste de sífilis nos exames de rotina. Em pessoas sexualmente ativas, em gestantes e em quem apresenta sintomas atípicos — como dores articulares, manchas pelo corpo ou fadiga persistente — a testagem deve ser lembrada.
A prevenção é simples, basta usar preservativo , o diagnóstico é rápido e o tratamento é eficaz. A sífilis é antiga, mas continua atual — e conhecer seus disfarces pode salvar vidas.
