Olha!!! Em muitas praças, podemos ver muitas coisas que poderiam dar um livro. Muitas histórias interessantes que poderíamos ficar o dia inteiro ouvindo-as, contadas pelos seus próprios personagens ou por alguns excelentes narradores. Desta forma, eu gosto de ir sempre àquela praça perto da minha casa para ver esses acontecimentos que passam despercebidos aos olhos de muitos.
Vi um homem com os seus 65 anos, meio cabisbaixo e olhando para o céu. Ele veio e sentou-se ao meu lado e eu fui logo perguntando a ele.
- Algum problema? Eu posso ajudar?
- Não, ninguém pode me ajudar, mas já que você falou em ajuda, acho que você pode me ajudar sim. Você pode ouvir o que eu tenho guardado aqui dentro há bastante tempo?
- Sim, claro que eu posso.
- Será um enorme prazer ouvir o que você tem para contar. Eu tenho o tempo que você precisar.
Na hora, eu pensei. Vou preparar a minha caneta, pois lá vem história. - Vou contar algo muito particular a você. Confesso que é algo que eu não gostaria de contar, pois sempre que eu penso nisso, um sentimento de pesar toma conta do meu ser. Mas eu preciso que você me ouça.
- Ok, pode começar. Estou aqui para lhe ouvir. Disse eu àquele homem sereno.
- Nós éramos amigos desde a infância, tínhamos sonhos juntos, almejávamos quase as mesmas coisas e olhávamos para a estrada da vida com muito entusiasmo e vontade de vencer. Aquele tipo de amizade que não se encontra em qualquer esquina, algo não muito comum de se encontrar.
- Amigo, eu quero estudar, me formar, me casar e ter a minha família. Educar meus filhos e vê-los traçando o mesmo caminho.
- Eu não poderia pensar diferente, é o que eu quero também. Dizia assim o meu amigo.
Porém as pessoas são diferentes umas das outras e assim, às vezes, escolhem caminhos contrários, caminhos que não foram planejados e que não faziam parte dos sonhos da juventude. - Isso mesmo, meu amigo embrenhou-se no vício do álcool e das drogas, decepcionando bastante a mim, pois esse não era o plano que tínhamos feito para o futuro.
- Meu amigo já não ficava muito tempo sóbrio, mas sempre doidão, ora pelo álcool, ora pelas drogas que ele usava. Eu via um futuro ser destruído no próprio presente e aquilo me trazia um sentimento de revolta e decepção muito grande. E assim avida foi transcorrendo em su curso.
- Um certo dia, toca a campainha da minha casa, justamente no dia do meu noivado, eu que sonhava em construir uma família. Minha noiva atende a porta e vê um sujeito sujo e com o semblante descaído.
- Eu gostaria de falar com o Renê(eu).
- Um momento.
- Oi meu amigo, poderíamos conversar um pouco.
- Não. Enquanto você estiver nestas condições e vivendo essa vida, não me procure, não te atenderei e nem falarei com você. Vá embora e só me procure quando você tiver largado esse vício. Disse eu.
Meu amigo foi embora com uma profunda tristeza no coração e sem acreditar que seu mlhor amigo pudesse lhe proferir palavras tão ruins e lhe virado as costas.
A vida passou, assim como os anos, e em uma manhã como outra qualquer, eu encontrei um senhor pela rua. Era o pai do meu amigo. - Bom dia, meu amigo. Que surpresa imensa é encontrar o senhor por aqui.
- Como vai o meu grande amigo? Por onde ele anda? Peguntou-lhe eu.
- O seu amigo não está mais entre nós, ele suicidou-se.
- No dia em que ele foi te procurar, ele estava afundado nas drogas. Ele saiu de casa dizendo que iria mudar e que iria te visitar, pois você saberia como ajudá-lo e ele sabia que podia contar com você e que você era a única pessoa que podia ajudá-lo.
- Mas como você o rejeitou e o expulsou da sua casa, ele voltou para casa e atirou contra a própria cabeça.
- Naquele momento, o tempo parou e um sentimento de pesar imenso pairou sobre mim. Não pude conter a vergonha e o pesar por ter virado as costas para um amigo tão amado por mim, mas que não foi olhado como deveria ter sido, ou não foi lido como deveria.
- Bem, isso já faz uns 40 anos e como eu daria tudo para voltar no tempo e poder abraçá-lo e dizer: entre, fique aqui comigo, eu vou ajudar você.
- Eu deveria ter feito com ele a mesma coisa que você fez hoje comigo. Você, pacientemente, me acolheu com um sorriso e deixou que eu sentasse ao seu lado, mesmo eu descabelado e com bafo de bebida. Você agiu como um verdadeiro amigo abrindo a porta para eu entrar e dizendo que me ouviria o tempo que eu precisasse.
- Tome a minha arma, não será preciso usá-la. Ainda bem que você estendeu a mão para mim. Obrigado por ter me ouvido e salvado a minha vida.
Muitas vezes salvamos vidas dedicando um pouco do nosso tempo para ouvir ou afagar com um abraço e um sorriso. Somos um texto que precisa ser lido com os olhos do amor para que as entrelinhas sejam sempre percebidas como deveriam ser.
Dedicado a Antônio Eduardo de Almeida Costa. Meu cunhado amado.
Jorge A. M. Maia