Meus amigos, eu estou para ver um lugar com tantas histórias e protagonismos como as praças. Vários livros passeiam pelos quatro cantos desse lugar tão maravilhoso. Livros esperando para serem escritos, pois ali passeiam contos, crônicas, romances etc.
Podemos entender que as praças nunca serão desertas, algumas vezes elas podem estar desertas, sem alguém passeando por lá, mas nunca estará vazia, sem nada em sua essência.
Mas o engraçado é que eu estava sentado em um banco em uma praça, quando alguém sentou-se ao meu lado, me olhou e logo desviou o olhar. Aquele gesto me intrigou, pois senti naquele cidadão o desejo de falar-me algo ou simplesmente de falar para alguém aquilo que lhe bagunçava o íntimo.
Pensei comigo mesmo:
- Estou vendo aqui um Forest Gump ou um alguém que gostaria de ficar em silêncio pensando na própria vida sem querer ser incomodado.
-Tudo bem, meu amigo? Perguntei àquele homem triste.
Ele balançou a cabeça em sinal positivo e não disse uma só palavra. Então, entendi que ele queria ficar sozinho sem querer que ninguém lhe perguntasse nada ou lhe dirigisse a palavra. Porém alguma coisa nele me intrigava (como os desertos), pois ele me olhava e ficava inquieto, mas de repente eu o ouço dizer: - Desculpe-me não ter respondido, educadamente, com palavras, a você.
- É que eu estou me sentindo um tanto quanto deserto, com um vazio imenso dentro de mim.
Quando ele pronunciou a palavra deserto, algo intrigante me veio à mente que me fez fazer a ele uma pergunta. - Um deserto? Por que um deserto? Vazio por quê?
- Ora, um deserto nada tem, é um lugar vazio e cheio de dor. Nada nasce ali, é um lugar inabitável e quente. Eu não gostaria de morar lá. Disse-me aquele homem deserto.
- Então, você se define assim? Vazio, inabitável, cheio de dor e que não tem nada a oferecer a alguém? É isso?
- Huumm, não tão assim. Quando eu digo deserto, quero dizer que não tenho nada para dizer.
- Você tem certeza disso? Perguntei a ele.
-Sim, tenho sim. - Não querendo ser presunçoso, mas quero te dizer que você está se definindo de forma equivocada, pois você já está falando várias coisas e nem se deu conta. Desta forma, você não está vazio.
- Muitas vezes conceituamos coisas de forma errada. Veja só, muita gente chama, aquelas pessoas que não sabem ou não entendem bem as coisas, de burras, mas não sabem que o burro é um dos animais mais inteligente que tem. Então esse adjetivo não cabe a essas pessoas. Conceito errado.
- Ou propriamente, quando achamos alguém feio, estamos esquecendo que a beleza está nos olhos de quem vê, pois o que pode ser bonito para mim, não pode ser para você e vice-versa. Concordas?
- Sim, concordo sim, e penso dessa mesma forma.
- Olha que legal. Já temos algo em comum.
- Sendo assim, já não és mais deserto, pois se temos algo em comum, somos em alguns pontos parecidos e eu não me sinto deserto.
- Na verdade eu acho que eu me expressei errado por conceituar algo de forma equivocada.
- Mas por que você me diz que eu não sou um deserto e que você não se sente um deserto.
- Vejamos o que realmente é um deserto, para que você possa saber se és ou não um deserto.
- Lógico que essa discussão deve acontecer de forma democrática, eu falarei do meu ponto de vista esperando que você fale do seu.
- Ok?
- Já estou ansioso. Pode dizer.
- Pois bem. Para mim, o deserto é um ser inimaginável, impossível de mapear. Vasto não por ser extenso, mas por ser incompreensível. Muito mais elaborado e difícil do que as versões simplificadas do espaço que criamos para nós mesmos vivermos, por exemplo, em mapas.
O deserto não permite distância, perspectiva ou descanso e, além disso, nos fere com todas as suas bordas imprevisíveis.
O deserto é um nada cheio de tudo. É um vazio completamente preenchido. É um mar imenso em sua própria dimensão. O deserto é algo desconhecido que poucos buscam compreender; é um ser subjetivo que nos leva a permanecer desertos quando a solidão nos abraça. O deserto é um lugar onde o silêncio faz barulho e os desejos são acesos. É uma grande poesia nas mãos de um poeta.
Um silêncio tomou as palavras daquele homem. Ele olhava para o céu, para frente, para baixo. - Eu nem sei o que dizer a você e isso não quer dizer que eu esteja deserto, aliás, jamais abrirei a boca para dizer isso quando eu não tiver nada para falar. É que eu tenho tanto para dizer agora, que nem sei por onde começar. Talvez eu esteja deserto, pois estou me sentindo grande, vasto e impossível de mapear.
Caímos na risada e quando olhamos para a praça, ela estava deserta. Não, não, não!!! Ainda permanecíamos lá.
Jorge A. M. Maia