Minha infância foi marcada por histórias. Algumas delas moldaram minha imaginação e formaram meu caráter. Entre fábulas, contos e parábolas, uma sempre me acompanhou: a história do coelho e da tartaruga.
O coelho, veloz e autoconfiante, desafia a tartaruga. Ela aceita o desafio. Ele dispara na frente, seguro de que a vitória era inevitável. No meio do percurso, decide cochilar. Quando desperta, descobre que perdeu. A tartaruga, passo após passo, sem pressa e sem interrupções, cruza a linha de chegada.
A moral da fábula é simples: o êxito espera sempre ao trabalhador que age com zelo, constância e persistência. Hoje, porém, vemos uma geração regida pela pressa.
Vivemos cansados, pilhados, hiperestimulados, sempre correndo, sem saber exatamente para onde. A correria é um estilo de vida. A palavra pressa está ligada a pressão, compressão, precipitação. Vemos um esforço desenfreado: pessoas que fazem muito, mas são incapazes de estar inteiras em algo. O mundo moderno não apenas acelerou. Ele entrou em combustão. Estamos ocupados ao ponto de nos tornarmos emocionalmente analfabetos, espiritualmente superficiais e relacionalmente ausentes.
Byung-Chul Han, filósofo que analisou nossa cultura do desempenho e excesso, afirma que o homem contemporâneo vive exausto:
“Vivos demais para morrer e mortos demais para viver.”
Gilles Lipovetsky chamou isso de hipermodernidade, essa era em que nada é profundo, tudo é urgente e nós vivemos em modo sobrevivência.
O problema não é fazer muitas coisas. O problema é fazer coisas demais. Nenhuma vida espiritual amadurece na pressa. A pressa é inimiga da profundidade.
“Deus não criou a pressa.”
Provérbio finlandês
Desde o Gênesis, Deus estabelece um ritmo: Trabalhe seis dias. Descanse um. Descansar não é sugestão; é mandamento. O sistema operacional da alma não funciona em alta rotação.
“Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus.”
(Salmo 46:10)
Pessoas cansadas enxergam mal. Quando a alma está exausta: problemas parecem montanhas, decisões simples viram dilemas, oportunidades passam despercebidas.
T. D. Jakes resume perfeitamente:
“A fadiga rouba das pessoas a capacidade de julgar com equilíbrio.”
Por isso, decisão importante nunca deve ser tomada quando estamos exaustos. Porque o cansaço distorce tudo.
UM MANIFESTO ANTIPRESSA
1. Redefina sucesso: mais do que aonde vou, importa quem estou me tornando.
2. Viver desacelerado não é viver menos, é viver melhor.
3. O que você conquista com pressa, mantém com ansiedade.
4. O que é guiado por Deus não precisa ser empurrado, precisa ser obedecido.
A tartaruga não venceu porque era rápida. Ela venceu porque foi constante;
No reino de Deus, permanência vale mais que velocidade e descanso é estratégia.
Corrie ten Boom: “Se o diabo não puder fazê-lo pecar, ele vai mantê-lo ocupado.”

