Numa sociedade capitalista as pessoas correm em busca do dinheiro (des)necessário para suprir suas necessidades de consumo e passam para escola o papel que, de direito, lhes pertence: educar seus filhos para integrá-los a sociedade. Não se deve fechar os olhos para o papel social da escola, para a sua influência na vida do homem e na construção do meio social, pois a mesma deve estar contextualizada com a realidade.
O que não se pode, porém, é atribuir a ela o papel que é exclusivamente da família e do Estado. Educar é algo mais complexo do que ensinar a ler, a escrever e a contar. Na escola até se ensinam regras, mas ensinar a cumprir regras é papel da família. O papel da escola é aprimorar os conhecimentos e as regras que o aluno traz, organizá-las e sistematizá-las de forma que o aluno perceba a necessidade e o sentido das mesmas.
Gerar e fiscalizar o cumprimento delas é papel da família e da sociedade. A escola pode tratar a deficiência moral, estrutural ou familiar. Em ambos os casos, pode apenas ajudar a conviver com uma ou outra deficiência, ou em casos até com ambas. É obrigação do Estado oferecer e garantir segurança, saúde, educação, moradia, e tantas coisas mais ao cidadão, nada disso é obrigação da escola. Nisso tudo, o papel da escola é esclarecer, mostrar que o indivíduo tem direitos. A família e o Estado devem assumir seus papéis na formação do indivíduo social e não passar para a escola aquilo que lhes é de obrigação.
Ora! Se a família não está conseguindo cumprir seu papel social, se o Estado não está conseguindo cumprir esse mesmo papel e não tem mais ninguém a quem recorrer, é natural que sobre pra escola, mas é certo que a escola sozinha não conseguirá exercer esse papel, uma vez que, se Estado e família não cumprem seus papéis satisfatoriamente, por falta de preparo ou condições, como irão ajudar a escola? Que mecanismo ou recurso a escola poderá usar para alcançar esse objetivo? Que espécie de pedagogia ou metodologia a ajudará nessa missão tão complicada? A do amor? A quê?
É bem verdade que a escola não pode ser omissa a esse problema. A escola também falhou para que se chegasse a esse ponto. A família falhou. A igreja falhou. O Estado falhou. A sociedade falhou. Tudo falhou. Agora, se a falha é de todos, por que deixar o problema só com a escola? Será que a escola está preparada para resolver o problema sozinha? Será que o tempo que o aluno passa na escola é suficiente para que a escola intervenha? Será que os profissionais da educação estão preparados para resolver esse problema? Quem os preparou? Onde? Como?
Já é tempo de a sociedade repensar a escola; de observar e perceber que os professores também são pobres mortais, com limitações, medos, desejos, frustrações (inúmeras), sonhos, família… são simples seres viventes. Chega de achar que professor é super-herói. Chega de achar que professor bom é aquele que tem jeitinho de médico, psicólogo, analista, advogado… professor é professor e pronto.
O médico pra ser bom não alfabetiza, o psicólogo, o analista… nenhum outro profissional. Só o professor que tem que ser multiprofissional
Por quê? Por que a solução de todos os problemas da sociedade tem que vir da escola?
A solução virá muito mais fácil se a sociedade investir na reestruturação da família, na valorização dos princípios éticos, morais, sociais e cristãos e no reconhecimento da parcela de culpa de cada um de seus segmentos.
Adaptação do texto de Hélio Valerio da Silva.