Primeiramente, crianças abaixo de dois anos não devem ficar expostas a jogos, celulares, tablet e internet. Entre três a cinco anos, o uso deve ser restringido a uma hora por dia. Já na fase de seis a dezoito anos, a restrição deve ser de duas horas por dia.
Como uso excessivo de celular impacta cérebro da criança
43% dos jovens brasileiros já testemunharam episódios de discriminação online. E as meninas são as mais impactadas por conteúdos prejudiciais: 31% foram tratadas de forma ofensiva, 27% acabaram expostas à violência e 21% acessaram materiais sobre estratégias para ficar muito magra.
O levantamento ainda indica que um quarto dos jovens brasileiros consideram que ficam muito tempo conectados e não conseguem controlar muito bem esse período na frente das telas.
Por um lado, é preciso considerar que os celulares fazem parte da rotina e é muito difícil viver sem eles. Inclusive, quando utilizados na medida certa, esses dispositivos trazem mais benefícios que prejuízos.
“Nem tudo é ruim quando falamos dos smartphones. Eles também trazem coisas boas e fazem parte da vivência do que é ser jovem hoje em dia”, pondera o psicólogo Thiago Viola, do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul.
Por outro, o exagero faz mal à saúde da mente e do corpo — e os efeitos podem ser ainda mais danosos nas duas primeiras décadas de vida.
“Como tudo, o problema está no excesso e na falta de controle adequado”, complementa Viola, que também é professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Os especialistas alertam que exagerar nessa exposição às telas, ainda mais numa idade tão precoce, pode prejudicar o desenvolvimento do recém-nascido.
“Quando os pais fornecem à criança um vídeo no celular ou no tablet, isso ativa as vias de processamento cerebral que são predominantemente passivas”, explica o médico Rodrigo Machado, do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
“E esse tipo de atividade passiva ocupa um tempo em que o bebê poderia ser estimulado com atividades mais ativas, que aperfeiçoam a capacidade de coordenação motora e outras habilidades importantes nessa faixa etária.”
Mas o problema não se limita à primeira infância: mesmo crianças um pouco mais velhas precisam ter o acesso limitado e supervisionado ao mundo digital, garantem os especialistas.
E uma característica comum de todos os mamíferos, incluindo os seres humanos, é sempre querer mais. Quando somos expostos a uma fonte de prazer e sensações boas, vamos buscar aquilo de novo, numa frequência cada vez maior.
Ou seja: o retorno positivo que recebemos quando compartilhamos algo nas redes sociais é um incentivo para postarmos mais e mais, numa espécie de círculo vicioso marcado por uma busca constante por ser relevante e influente na internet.
E hoje em dia já é consenso entre especialistas de que é possível criar uma dependência não apenas de substâncias químicas, mas também de comportamentos, como os jogos de azar ou o uso de dispositivos eletrônicos.
Além desse balanço delicado entre estímulos positivos e negativos, o cérebro de crianças e adolescentes pode ser impactado pelo uso excessivo dos celulares por outros meios.
“A luz emitida pelas telas inibe a produção da melatonina, um hormônio essencial para a indução do sono”, exemplifica Eisenstein.
“E nós sabemos que os mais jovens precisam dormir, no mínimo, entre 9 e 10 horas por dia”, acrescenta.
Boas noites de sono são essenciais para o desenvolvimento do corpo e da mente. Se o descanso noturno não é adequado logo nesses primeiros anos de vida, as consequências à saúde podem perdurar por toda a vida.
“Quem não dorme bem têm mais transtornos de irritabilidade e de comportamento e pode apresentar dificuldades de aprendizagem”, lembra a pediatra.
A representante da SBP também chama a atenção para os efeitos que o uso prolongado desses aparelhos pode trazer para outras partes do corpo em desenvolvimento nas crianças e nos adolescentes.
“O excesso de telas pode levar à inatividade física, que está relacionada com sobrepeso e obesidade. Na direção oposta, o acesso a conteúdos sobre emagrecimento e a busca de um corpo idealizado aumenta o risco de transtornos alimentares”, lembra.
“Fora a maior frequência de problemas auditivos, pelo uso de fones de ouvido num volume alto, e de visão, pela falta de vivência em espaços abertos, que estimulam uma visão de longo alcance”, lista a pediatra.
Como desatar esse nó?
Considerando o fato de que os celulares são parte da rotina da vasta maioria das pessoas, será que é possível ter uma relação mais saudável com a tecnologia? E como identificar as situações em que o uso desses dispositivos ultrapassou os limites, especialmente na infância e na adolescência?
“A primeira coisa é estabelecer limites. A criança e o adolescente precisam saber que podem entrar na internet por um determinado número de horas por dia”, sugere Viola.
A recomendação de tempo varia de acordo com a faixa etária. Em diretrizes publicadas recentemente, a SBP indica que crianças menores de dois anos não tenham nenhum acesso às telas.
Dos três aos seis anos, é possível ofertar atividades em dispositivos eletrônicos por 30 minutos a uma hora, sempre com a supervisão de um adulto.
E, entre o sexto e o décimo ano de vida, é possível ampliar um pouquinho esse limite, desde que exista um acompanhamento de alguém responsável.
“É muito importante mesclar as atividades online com outros momentos de lazer, brincadeiras e conversas presenciais entre familiares e amigos”, continua o psicólogo.
“Já os pais de crianças menores não podem usar o celular ou o tablet como bengala, para deixar a criança entretida enquanto eles fazem outras atividades”, acrescenta.
Eisenstein também joga a responsabilidade no colo das grandes empresas de tecnologia. “Elas ganham bilhões todos os anos e querem justamente fisgar esse público mais jovem, para que eles se transformem em novos consumidores”, critica.
“É preciso pensar na responsabilidade social de companhias como Google, YouTube, Facebook, entre outras, que só estão começando a se preocupar com esse aspecto mais recentemente”, cita.
A pediatra também entende que os governos devem criar leis para proteger melhor a população mais jovem de todos os malefícios do abuso das plataformas digitais.
Por fim, vale reforçar que existem formas de identificar e tratar os quadros de vício no uso de celular e outros dispositivos eletrônicos.
“A primeira coisa é observar se a prática está prejudicando algum aspecto da vida daquele indivíduo. Se ele apresenta dificuldades nos âmbitos social, profissional, educacional ou familiar, é necessário buscar a avaliação de um profissional de saúde”, orienta Machado.
Alguns exemplos práticos desse prejuízo são a queda no rendimento escolar, a substituição do dia pela noite, a ausência do jovem nas refeições e a falta de uma rotina estabelecida.
Para os casos em que há diagnóstico de um transtorno, é possível intervir por meio da terapia cognitivo-comportamental, uma abordagem da psicologia que busca analisar, racionalizar e propor intervenções nos hábitos e nos pensamentos do paciente.
“Nesse contexto, a primeira intervenção é se desconectar aos poucos. De nada adianta castigar ou tirar o celular da criança ou do adolescente de forma brusca e definitiva”, aponta Eisenstein.
“E, claro, esse ato de se desconectar da internet precisa envolver todos os integrantes da família, não apenas os jovens”, destaca a pediatra.
Por quanto tempo posso permitir o uso das telinhas?
O primeiro ponto que os especialistas chamam a atenção envolve a quantidade de horas que crianças e adolescentes passam conectados.
No mundo ideal, o limite de tempo em contato com celulares, tablets e computadores é determinado pela faixa etária, como você confere a seguir:
Menores de 2 anos: nenhum contato com telas ou videogames;
Dos 2 aos 5 anos: até uma hora por dia;
Dos 6 aos 10 anos: entre uma e duas horas por dia;
Dos 11 aos 18 anos: entre duas e três horas por dia.
“Precisamos lembrar que o dia tem 24 horas. Se o jovem fica 4 ou 5 horas conectado, isso já representa 20% do tempo disponível”, calcula Eisenstein.
Outros sinais típicos de que o jovem está exagerando no tempo de telas é o abandono, parcial ou completo, de todas as atividades fora da internet, como as práticas esportivas, culturais e de lazer.
Outro sintoma preocupante é a substituição do convívio com amigos, pais ou familiares pelos jogos de videogame ou a interação pelas redes sociais.
Os especialistas dizem que a rotina e o estabelecimento de regras claras é fundamental nas primeiras décadas de vida e deve incluir aqueles que estão na primeira infância.
“Nesse contexto, os pais de crianças menores não podem usar o celular ou o tablet como uma ‘bengala’, para deixar a criança entretida enquanto eles fazem outras atividades”, destaca Viola.
Muitas vezes, esse acesso ilimitado às telas numa idade tão tenra é o início de um processo que vai desembocar no uso abusivo de dispositivos eletrônicos pelos anos que virão.
Dicas sobre uma preocupação presente na maioria das famílias de hoje: criança e celular.
Tente evitar a exposição passiva para crianças com menos de 2 anos
Mas o que é exposição passiva?
É quando o adulto coloca um celular na frente da criança para que ela fique atenta ao conteúdo e consiga comer ou pegar no sono, por exemplo. E, contraditoriamente, essas são exatamente as ocasiões nas quais elas mais deveriam ser evitadas durante a refeição e 1-2 horas antes de dormir.
Aprendizado que estão perdendo
Enquanto está olhando para o celular, a criança perde a oportunidade de aprender questões essenciais, como a discriminação atenta dos sabores, do paladar, de como é uma refeição feita em família, do que pode ou não conversar nesse momento etc.
Limitação das horas
Tente limitar o tempo de exposição ao celular para no máximo de 1h por dia para crianças de 2 a 5 anos de idade.
Durante a quarentena, é comum e, muitas vezes, necessário que as crianças utilizem tecnologias digitais para fazer tarefas ou mesmo exercícios físicos. Portanto, avalie a qualidade do conteúdo que a criança assiste e faça com que ela intercale o celular e as telas com uma rotina de atividades ao ar livre.
Celular e computador no quarto
Tente evitar que crianças entre 0 a 10 anos usem televisão, computadores ou celulares em seus próprios quartos, principalmente sem a mediação da família ou de adultos.
Sendo exemplo
Por fim, famílias, lembrem-se que os adultos responsáveis pelas crianças são exemplos fortes para elas. Dê atenção ao seu próprio uso de telas, principalmente quando está com as crianças.
Assim como o incentivo à leitura e aos estudos dos filhos é impulsionado com a prática de leitura e estudos dos pais, por exemplo, o incentivo ao uso frequente ou não de telas digitais também é. Então, dê o exemplo!
Para saber mais:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-60853962
https://www.bbc.com/portuguese/geral-61001786
https://escoladainteligencia.com.br/blog/crianca-e-celular/
Criança e celular: Como fazer um uso saudável
