Indo direto ao assunto, por questão de honestidade, sou obrigado a agradecer a um dos gênios da literatura universal, o florentino Dante Alighieri (1265 a 1321), que traduziu em palavras escritas os conceitos Cristãos da época de céu(paraíso), inferno e purgatório. Na obra fica bem claro que céu e inferno são antípodas, o caminho a ser trilhado entre eles é o purgatório.
Na minha opinião o purgatório no mundo real são os períodos de transição entre o ontem e o amanhã, o hoje sempre, afinal não conheço ninguém que tenha acordado amanhã, todos nós acordamos hoje e continuamos na construção de um amanhã melhor. A estrada do purgatório não é um caminho fácil. A humanidade enfrentou várias transições desde que surgiu na face do planeta, a mais decisiva, no passado distante, foi o surgimento da agricultura quando o ser humano deixou de ser nômade, percebam que foi o início do Agro.
Na história humana os períodos de transições evolutivos ocorreram em pequenos saltos. Houve transições com evolução quase imperceptível, outras mais palpáveis e em determinado momento chegaram a haver paradas e retrocessos. Sempre por trás dos saltos evolutivos havia um ser humano ou um grupo deles com mentes mais privilegiadas. A partir do final do século XVlll, com a revolução industrial, o aumento da produção, a melhoria da qualidade e o acesso mais fácil à alimentação humana foram surgindo mais e mais mentes privilegiadas que desenvolveram invenções fantásticas possibilitando uma enorme transição evolutiva que está, ainda, em pleno andamento e o mundo precisa entender isso. No Brasil não aconteceu diferente, com a chegada da internet e a globalização o mundo com as suas criações veio para o nosso quintal. As estradas do purgatório em direção a um mundo melhor se ampliaram.
Vivemos em nosso país a mesma transição do planeta inteiro. O grande óbice é que as populações aumentaram rapidamente e as economias em um ritmo menor, ou seja o bolo cresce pouco e as fatias aumentam cada vez mais rápidas, não vai haver bolo para todo o mundo. Os governos de todos os países não atentaram para o detalhe. Para completar chegou a pandemia do Covid e mais um crime contra a humanidade foi revelado – os governantes do passado negligenciaram a saúde pública e ninguém estava preparado para um desastre de tais proporções. Agora a conta está sendo cobrada, desonestamente, dos governantes atuais de todos os países.
No Brasil o mesmo ocorreu e alcançou dimensões politicas inimagináveis. Em um desastre dessas proporções o lógico seria a união, entretanto, alguns resolveram partir para a desunião crendo que tal comportamento lhes daria ganhos políticos, os resultados estamos testemunhando.
Surgiram alguns mandatários e outros não mandatários, apenas indicados e contratados, em todos os níveis de governo, dispostos, como forma de consolidação de seus poderes, a furtar evoluindo rapidamente para roubar (se alguém toma algo que pertence a outra pessoa sem estabelecer contato com ela, comete furto, se houver contato com a vítima através de violência ou ameaça, comete roubo) dos Cristãos o seu “livre arbítrio” e da população em geral os seus direitos constitucionais.
Trocou-se quaisquer campanhas de esclarecimentos e informações por violações dos direitos humanos, como se o Brasil fosse uma nação na qual todos precisam de “cabresto”, o que gerou uma enorme onda de desinformações confundindo a todos. Tais poderosos não perceberam ainda a fragilidade de seus poderes, são meia dúzia tiranizando 200 milhões, todavia, a necessidade de trabalhar para prover a alimentação de seus familiares provocará a derrocada das medidas restritivas. “A necessidade é a mãe de todas as virtudes”, uma frase que a maioria já ouviu. Não pretendo identificar quem é quem, cada leitor que faça a sua interpretação. O mais importante é que se precisa seguir o conselho que o sábio deu a um rei do oriente distante:
– Nunca comece nada se não souber como vai terminar.
Já que estamos tratando de resultados nunca devemos esquecer a Lei de Murphy. Recentemente li a coluna “Pergunta Pro Jokura”, publicada no UOL em 29/03/2021, onde ele traz uma inovação sobre a interpretação da dita lei, cujo texto transcrevo:
Em uma cena de “Interestelar” (2014), o ex-piloto da NASA Joseph Cooper ressignifica o postulado para a filha, que se chama, veja só, Murphy: “A Lei de Murphy não significa que algo errado vai acontecer. Significa que tudo o que pode acontecer, acontecerá”….
Voltemos à transição, o caminho do purgatório em direção ao paraíso, no Brasil. Creio que o Agro é um exemplo que deveria ser seguido por todos. No início da colonização vivíamos no inferno dos colonizadores e, ao longo da nossa história, com muito trabalho, inteligência e a colaboração de outros povos, começamos a transição trilhando o caminho do purgatório buscando o paraíso. Foram séculos de sofrimentos e muito trabalho. Aprendemos muito com os nossos irmãos indígenas, com os irmãos negros chegados à nossa pátria pelas mãos dos traficantes de escravos e com outros estrangeiros. Nos miscigenamos com todos eles e demos origem ao atual povo brasileiro, parte do paraíso foi conquistado criamos uma nação.
Com muita luta, sofrimentos e sacrifícios mostramos ao mundo uma nova face do Brasil, tornamos a nossa agropecuária campeã no mercado internacional, contribuímos decisivamente com o PIB nacional, alimentamos a todos amigos e inimigos, possibilitamos o crescimento e a sustentabilidade dos centros urbanos. Qualquer leitor que não conheça a realidade brasileira diria – essas mulheres e homens do Agro já devem ter chegado ao paraíso. Ledo engano, continuamos no purgatório graças a toda uma campanha dos ambientalistas europeus e seus colaboracionistas em franco desrespeito ao nosso Código Florestal, a legislações ultrapassadas, novas leis restritivas, políticos e autoridades que não conhecem o Agro e mesmo assim não gostam de nós, não sei se por temor ou inveja, talvez precisemos citar para eles a frase de alguém repetida pelo escritor Neil Gaiman: “aqueles que não entendem devem aprender ou ficar em silêncio”.
Uma coisa é certa somos resilientes, vamos continuar lutando, todavia se o Agro do planeta fracassar, deixar de lutar e desaparecer, todas as cidades e a atual civilização humana desaparecerão. Não se iludam achando que os produtos agropecuários fabricados em laboratório serão suficientes para alimentar a todos e manter o salto evolutivo que a humanidade atravessa hoje.