Mas de tudo se pode tirar uma lição. A pandemia veio como mais um sinal de alerta, pedindo socorro, mostrando que a saúde do Amapá precisa ser cuidada de forma emergencial. Como Warren Buffett, mega investidor americano, costuma dizer: “Você só descobre quem está nadando pelado quando a maré baixa”. A maré baixou como nunca visto na história desde a gripe espanhola de 1918, e a COVID 19 veio para escancarar os problemas e desafios da saúde do Amapá, colocando no chão qualquer tipo de máscara que objetivasse a camuflagem do sistema.
O problema da saúde é bastante amplo. Passa não somente pela construção de novos hospitais, educação, qualidade e quantidade de médicos, enfermeiros e profissionais da saúde em geral, mas, também, por questões sanitárias, e nesse último ponto, diga-se de passagem, o Amapá também vai muito mal. É o pior estado da região norte em número de domicílios ligados a rede de esgoto e o segundo pior do Brasil, perdendo apenas para o Piauí.
Como o assunto é muito vasto e complexo, faremos um recorte a partir deste ponto focando na necessidade de formação de profissionais médicos no Amapá. Saúde definitivamente não se faz sem médico.
Inacreditavelmente o estado do Amapá é o ÚNICO do Brasil que não possui nenhuma faculdade de Medicina particular. Se comparado aos outros ex-Territórios Federais, o estado de Rondônia possui 05 faculdades de medicina e Roraima 02 faculdades.
Se compararmos o número de vagas anuais ofertados para cursos de medicina entre os ex-Territórios Federais, as faculdades de Rondônia ofertam quase sete vezes mais vagas que a única ofertante no estado do Amapá, Universidade Federal do Amapá. 400 vagas contra 60 vagas. Uma enorme diferença.
O mais grave vem agora. O Brasil possui uma média de 2,1 médicos para cada mil habitantes, enquanto Rondônia possui 1,52 médicos, Roraima possui 1,56 médicos e o Amapá possui 1,05 médicos. A diferença parece pouca, mas não é. Em outras palavras, o Brasil possui o dobro de médicos para atender a cada mil habitantes que o Amapá. O detalhe é que a média do Brasil já é baixa. Estamos comparando o ruim com o muito ruim. Em países como a Noruega há 5,1 médicos para cada mil habitantes, mais que o dobro do Brasil.
Contra dados não há argumentos. Podemos concluir facilmente que há uma necessidade urgente da ampliação do número de vagas para o curso de medicina no Amapá, seja por via das instituições de ensino públicas e/ou privadas. O recado foi dado, não esperemos a próxima maré baixar para percebemos o quão deficientes estamos. Com vidas não se brinca.
Cuidem-se!
Gestor e professor graduado pela Universidade Estadual do Ceará e Mestre em Administração pela Universidade Federal do Ceará. Possui formação na área de liderança pela Fundação Dom Cabral e pela ESADE Businnes School.