Muitas pessoas querem adotar uma criança no Brasil, o problema é que a maioria busca por crianças recém-nascidas ou com até 04 anos de idade, de cor branca, sexo feminino, sem irmãos e sem nenhuma patologia ou deficiência. No entanto, o perfil dos que estão aguardando nas casas de acolhimento são majoritariamente crianças e adolescentes, de cor negra, sexo masculino, com irmãos, patologias e deficiência.
A sociedade brasileira desconhece as condições das crianças que aguardam a adoção em abrigos, especialmente as que têm perfis considerados indesejados. É importante que aqueles que desejam adotar alguém estejam abertos para adotar crianças que não sejam recém-nascidas e que considerem a adoção de grupos de irmãos ou ainda a adoção inter-racial.
A decisão de ter uma criança costuma ser uma das escolhas mais sérias e importantes na vida de qualquer pessoa, não é mesmo? Mas, quem disse que ter filhos é um desejo natural? E quem disse que engravidar é a primeira ou mesmo única via de se alcançar este objetivo?
É certo que a sociedade não tarda a cobrar os casais sobre a chegada do primeiro rebento, especialmente as mulheres solteiras em idade “de ter um filho”. Além disso, infelizmente, também é certo que quem escolhe não ter uma criança sofrerá uma série de julgamentos pela sua decisão. Muitas vezes, inclusive, essas pessoas se sentem obrigadas a justificar essa escolha por um bom tempo.
Gestar ou adotar?
Se gestar crianças não é um processo isento de muitas e, por vezes, difíceis escolhas, saiba que adotar também não é. Porém, uma vez que pensamos em ter filhos, será mesmo que a adoção surge no mesmo plano que a gestação?
Em episódio sobre adoção, as convidadas do Podcast Mamilos debatem como gestar e adotar são apenas diferenças “logísticas” na maneira de ter uma criança. Assim, esta colocação nos possibilita ver a adoção como ela realmente é. Sem que nossos preconceitos e pré-julgamentos nos afastem da ideia central: adotar uma criança é escolher ter um filho.
A adoção é sempre uma via de mão dupla
Vale lembrar que, quando a família escolhe adotar, a criança em situação de acolhimento institucional também tem direito de escolha. Por isso, talvez a diferença entre gestar e adotar esteja (em partes) justamente aí: a adoção é uma via de mão dupla.
Portanto, para além do desejo de uma pessoa ou de uma família em ter um filho ou filha por meio da adoção, está a questão central do direito da criança e do adolescente em ter uma família.
O maior objetivo da adoção é que ela traga benefícios ao desenvolvimento integral das crianças e adolescentes adotados. Ou seja, serão colocados em primeiro lugar a criança ou o adolescente, o seu desejo em ser adotado por aquela família e o seu bem-estar. Este deverá o foco de qualquer processo de adoção.
Além disso, quando a adoção se dá depois dos três anos de idade da criança, acontece a chamada adoção tardia. Neste caso, a opinião do pequeno ou pequena também será levada em consideração.
Os mitos sobre a adoção
A adoção é um processo cheio de mitos e tabus. Por isso, é preciso falar sobre ela, conversar com profissionais e também entre nossos pares, de modo a colocar luz sobre todas as dúvidas. E isso vale para todos nós, ainda que não se tenha a intenção de adotar! Afinal, todos podemos ser fonte de informação útil a alguém.
Quer saber mais sobre o processo de adotar uma criança? Então, saiba que a informação é a maior aliada! Mas lembre-se: se você está pensando em adotar, ou tem apenas um desejo, procure informações em sites confiáveis, ok?
No Conselho Nacional de Justiça, você pode ler notícias sempre atuais sobre adoção, além de legislações e referências dos órgãos responsáveis.
No Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), é possível ter acesso a informações sobre o Cadastro Nacional de Adoção, que deve ser preenchido após a habilitação na Vara da Infância e da Juventude, entre outras informações sobre os direitos da criança e do adolescente.
Na Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção, é possível verificar as entidades de apoio à adoção, os lugares que fazem grupos de apoio à família pretendente e à pós-adoção.
Dicas de filmes sobre adotar uma criança
De Repente Uma Família (2018), de direção de Sean Anders. Um filme muito realista, sobre um casal que adota três irmãos.
He Even Has Your Eyes (2016), filme francês, dirigido por Lucien Jean-Baptiste. Conta a história de um casal negro que adota um menino branco e enfrenta todo tipo de preconceito.
Referências
CORREA, Mariza (1982). Repensando a família patriarcal brasileira; notas para o estudo das formas de organização familiar no Brasil. In: ALMEIDA, Maria Suely Kofes et alii.
Colcha de retalhos; estudos sobre a família no Brasil. São Paulo, Brasiliense.
CORREIO BRAZILIENSE. Brasília.
COSTA, M.Cecília S. (1984). Um estudo da adoção: um parto às avessas. Rio, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. (Datil.)