Perdido no breu dos descaminhos, mergulhando até a alma na fumaça tóxica – vício e sevícias de entorpecentes altares dos deuses retardatários ocultos na névoa permanente dos ganhos de “bezerros de ouro” forjados em lances sanguinários.
Perdido e aflito tu esperavas um Sol, um sol ensolarado, encharcado de brilhos de fontes e minérios, a galopar veloz, em seu cavalo dourado das histórias heroicas, por campos mitológicos, explodindo em raios por sobre todos os teares, céus e mares.
Oh, sonho, defraudado sonho…
Tu imaginavas um raiar de luzes, luzes escandalosas, por entre nuvens e caminhos a abrir clareiras, afastar as sombras, acabar com as noites das escuras geleiras… Imaginavas o soar de todos os clarins ao raiar do dia, o badalar de todos os sinos ao meio-dia para te acordar de tua hipnose antes que a noite caísse e restasse dos sonhos apenas trágicos pesadelos.
Oh, sonho, defraudado sonho…
A Luz, a Luz entra por uma fresta. Suave e gentil, sem “causar” ou buscar likes, entra sorrateiramente por uma fresta da consciência desperta. Penetra certeira e canta contigo, de si para consigo, um hino em tons indizíveis, que somente tu ouves: “Há uma falha, uma falha em tudo. É assim que a Luz entra” (1).
Nota: (1) verso da canção Anthem de Leonard Cohen