Você já experimentou caminhar silenciosamente, corpo e mente, sobre a macia relva até pisar em um graveto de estalo seco – estampido?
Leio com encanto um texto de Paulo Mendes publicado no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, em 19.08.206, intitulado A Instigante e Bela Arte de Juntar Gravetos. Não é longo, mas vale por vários livros:
“… logo seguia a cumprir a tarefa mais instigante: catar gravetos para principiar o fogo do fogão a lenha na manhã seguinte […] Não sei se por isso, mas aprendi a reparar desde piá nas coisas pequenas, simples, na importância dos pedaços, daquilo que em princípio não tem mais serventia, mas faz uma falta danada …”
Gravetos lembram-me o estalido sob o pisar deslizante de um caminhar sobre o solo forrado com vegetação abundante ou sobre calçadas nos caminhos das selvas.
Selvas verdes e vibrantes, natureza luxuriante, ou selvas intoxicantes, extensões de cimento e vidro, plantadas por mãos de broxantes, onde a menina esgueira o olhar para avistar o visível oculto no risível.
Lembranças evocadas, fiquei no jardim a observar os gravetos, finos e relutantes, despidos de suas folhas no outono das estações que se anuncia sem cisma ou controvérsia a realizar devassas, espalhando, não fumaças, mas um tapete folhoso em tons laranjas, marrons, ocres…
Gravetos que colhi em trajetos e rotas em trajes de festa ou vestimenta rota. Gravetos para crepitar nas fogueiras do galpão serrano ou no forno de barro para assar quitutes de outrora, ou nos acampamentos de escoteiros, outrora bandeirantes, ou nas lareiras meditativas que aquecem as noites e os dias nos invernos públicos e nos invernos secretos.
O fato verdadeiro é que sem gravetos não se incendeiam as fogueiras da vida ou as fogueiras da alma abrindo lareiras sob as sombras escuras das árvores grandiloquentes a enganar transeuntes.
Há de se ter o cuidado de armazenar generosos feixes de gravetos ao longo da jornada na transformação instigante dos detalhes “insignificantes”, minúsculos, dos fatos usuais ou mirabolantes, enquanto se vence as distâncias da social intolerância – beligerância.