Eis que chega o tão esperado Natal e por uma feliz coincidência este artigo sobre o evento está sendo publicado no dia em que todos o festejam. Não é fácil escrever sobre um evento cujas ações e sentimentos se repetem anualmente. Tudo o que possa dizer sobre o Natal já foi dito ou está sendo escrito hoje. A inspiração sobre esta festa religiosa é enorme, todavia o risco de ser repetitivo é imenso, principalmente pra mim que escrevo semanalmente 3 artigos/crônicas inéditos para três veículos de comunicação com abordagens diferentes. A alternativa que encontrei foi transcrever o artigo natalino do passado de outro autor. O site JM, em 01/12/2018, publicou a crónica da jornalista Joana Gonçalves – “Enfim, é Natal”, que vale a pena ser lida:
“Há certos sentimentos nesta vida que são inexplicáveis. Na verdade, se pararmos para refletir um bocadinho, podemos ser adeptos da vivência pessoal – todos os sentimentos são vividos de forma pessoal e intransmissível. Isso é a realidade, mas há certos sentimentos que conseguimos transcrever em palavras. Eu, geralmente, não tenho problemas em expressar em palavras aquilo que alimenta a minha alma. No entanto, nesta altura do ano é complicado, para mim, conseguir transmitir o sentimento que me aquece o coração.
As ruas enchem-se de luz. O som característico das músicas natalícias invadem o ambiente. As pessoas parecem mais felizes – em paz. As crianças saltitam e escrevem cartas a um senhor de barbas brancas. De repente, as casas camuflam-se de decorações natalinas, cobrem-se de mangueiras de luz (como se diz na minha terra). As árvores, que começam a ficar nuas, com sorte ganham algum brilho e fazem daquele momento seu. O frio começa a instalar-se. As pontinhas do nariz ficam gélidas, as bochechas vermelhas e as mãos mais frias do que a própria neve. Mas, é o que dizem, não é? Mãos frias, coração quente.
E é exatamente esse o auge do sentimento que o Natal me transmite. A mim. Há pessoas que defendem que o Natal só se vive em Dezembro. Outros que já em Outubro ganham o espírito natalino. Eu sou intermédia. Basta chegar o frio a valer que fico em êxtase por saber o que por aí se adivinha. Mais feliz que o normal, na verdade. Não sei muito bem porquê, mas o Natal tem um cantinho especial na minha vida. Pudesse viver-se este espírito o ano inteiro e seriamos melhores.
O Natal representa mais do que presentes e bem mais do que o significado religioso que a ele está agregado. Não quero entrar por esses caminhos apertados. Para mim, é no Natal que as pessoas dão de si o melhor que têm. Conseguem ser melhores e experienciar a vida de uma outra forma. Claro que o Natal não tem o mesmo significado para a toda a gente – e isso é totalmente válido. Em outros textos, já falei muito sobre sermos sempre a nossa melhor versão, mas é muito mais fácil falar teoricamente do que ver em prática aquilo que escrevo nestas páginas. Acredito que as pessoas contagiam-se umas às outras e a boa energia que o Natal emana, conquista toda a gente.
Basta olharmos à nossa volta, atentamente – como as famílias que não se vêm todos as semanas se reúnem como se estivessem sempre juntos, como montar uma árvore de Natal se torna a tarefa mais especial daquele momento, como as pessoas vão, animadas, comprar uma prenda a uma pessoa amada para a fazer sentir especial, não pelo sentido material do ato, mas pela lembrança e pelo gesto.
É claro. Num mundo ideal, o Natal seria sinónimo de positividade para todos no mundo. A generosidade, a benevolência, o espírito solidário são alguns dos sentimentos que sinto a pairar no ambiente quando chega esta altura no ano. Embora seja da opinião de que isso deveria ser uma constante – durante o ano inteiro – é nesta altura que o sinto mais presente. De certa forma, o Natal também serve para nos lembrarmos do quanto afortunados somos por ter um lar. Daí podermos usar a nossa energia para fazer o bem a quem não levou uma pedrada da vida.
A solidariedade, que deveria fazer parte do nosso quotidiano, vincula-se ao Natal e a todos os que dão um pouco de si e muito do seu tempo para ajudar (e presentear) quem precisa, a minha eterna gratidão. Que possamos todos fazer do Natal das pessoas menos afortunadas do que quem o é um bocadinho melhor – seja com uma conversa, um abraço ou um sorriso. Basta pouco para fazermos os outros felizes.
Já ouvi diversas opiniões sobre o Natal. Sobre o seu verdadeiro significado, sobre o capitalismo envolvido, sobre o quão ingénuos conseguimos ser nesta época, mas apesar de ouvir as diversas opiniões sobre o Natal, acredito que podemos usar estar altura para sermos melhores. E aprendermos que esse melhor deveria existir o ano inteiro.
Que possamos sempre lembrar-nos da nossa família, dos nossos amigos e essencialmente das pessoas que, apesar de estarem sozinhas, merecem também atenção. Que possamos sempre estar presentes, mesmo quando o tempo não nos permite. Que possamos esquecer o capitalismo envolvido em épocas comemorativas e nos relembremos que a vida passa depressa. E propagar o ódio e o rancor não deveria ser prioridade de ninguém, em nenhuma altura da vida. Que possamos ser mais felizes, acreditar nos sonhos mais puros das crianças e vivermos, com toda a magia, esta época natalícia.”
A jornalista Joana Gonçalves nos brinda com um belo texto onde desnuda os seus sentimentos pelo Natal de forma, que acredito, deveria ser um exemplo para muitos. Infelizmente no Brasil tenho testemunhado o desaparecimento gradativo do espírito natalino. Algumas pessoas alegam que é por causa da crise mundial e porque não temos o que festejar. Tais pessoas estão erradas, a festividade tem sobrevivido ao longo dos séculos apesar das guerras e crises, temos sim o que festejar o próprio Natal. Aos que se sentem desestimulados vai um conselho, se apeguem ao bom velhinho de barbas brancas, afinal “Ninguém atira em Papai Noel” — Alfred Emanuel Smith, 1873 a 1944, foi o 42º Governador de Nova Iorque.
Hoje é Natal
