A Azul, uma das três principais companhias aéreas do Brasil, anunciou nesta quarta-feira (28/5) que entrou com um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos.
A empresa recorreu ao “Chapter 11” – mecanismo jurídico nos EUA que permite a reorganização de dívidas de empresas em dificuldades financeiras. O instrumento é semelhante ao da recuperação judicial no Brasil.
De acordo com comunicado da Azul, o processo iniciado nos EUA “permite às empresas operar e atender seus públicos de interesse normalmente, enquanto trabalham nos bastidores para ajustar sua estrutura financeira”.
“A Azul pretende usar esse instrumento legal, comprovado e amplamente conhecido, para eliminar aproximadamente US$ 2 bilhões em dívida total financiada, reduzir obrigações de arrendamento e otimizar sua frota, permitindo que a companhia saia do processo com mais flexibilidade e uma estrutura de negócios e de capital mais sustentável”, diz a companhia aérea.
Ainda segundo a Azul, o processo envolve US$ 1,6 bilhão em financiamento e deve eliminar mais de US$ 2 bilhões em dívidas, o equivalente a cerca de R$ 11,2 bilhões, além de US$ 950 milhões em possíveis novos aportes de capital no momento de saída da recuperação judicial.
A empresa afirma também, que durante esse período, continuará operando normalmente, mantendo “compromissos com nossos públicos de interesse, incluindo continuar voando e fazendo reservas como de costume”.
“Com uma abordagem colaborativa e o apoio dos nossos parceiros, tomamos a decisão estratégica de iniciar uma reestruturação financeira voluntária com um movimento proativo para otimizar a nossa estrutura de capital – que foi sobrecarregada pela pandemia da Covid-19, turbulências macroeconômicas e por problemas na cadeia de suprimentos da aviação”, explicou o CEO da Azul, John Rodgerson.
Ações
A notícia de que a Azul entraria em recuperação judicial nos EUA não surpreendeu o mercado. Mesmo assim, a reação inicial foi negativa, com os papéis da empresa negociados na Bolsa de Nova York recuando quase 40% no pré-mercado desta quarta-feira.
Há cerca de 10 dias, as ações da companhia aérea na Bolsa de Valores do Brasil desabaram e lideraram as perdas do Ibovespa, após a empresa anunciar um prejuízo líquido ajustado de R$ 1,82 bilhão no primeiro trimestre de 2025.
O resultado representou um aumento de cerca de 460% em relação ao prejuízo do primeiro trimestre do ano passado, que foi de R$ 324 milhões. O resultado negativo aumentou em mais de 5 vezes em 1 ano.
Recuperação judicial
Com a decisão da Azul, as três principais companhias aéreas em operação no Brasil já recorreram à recuperação judicial. A Gol acionou o “Chapter 11” nos EUA em janeiro deste ano.
No caso da Gol, a empresa anunciou, no último dia 20, que o juiz da recuperação judicial nos EUA aprovou o plano de reestruturação financeira do grupo.
Com a decisão da Justiça norte-americana, a Gol finalmente deve concluir a saída do processo de recuperação judicial, possivelmente no mês de junho.
Fusão Azul-Gol
A Azul está negociando uma possível fusão com a Gol. Em janeiro, as companhias anunciaram um acordo para o início das tratativas.
Além da conclusão da recuperação judicial da Gol nos EUA, a fusão precisará ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Estimativas apontam que a empresa resultante da eventual fusão responderia por cerca de 60% do mercado de aviação comercial do Brasil e teria o controle de quase 100 rotas em todo o país, praticamente sem concorrência – o que suscita questionamentos acerca da formação de um duopólio, quando apenas duas empresas possuem quase todo o mercado.
Juntas, as duas companhias contam com mais de 300 aeronaves e tiveram um faturamento de R$ 25,3 bilhões entre janeiro e setembro do ano passado.
De acordo com o memorando de entendimento entre Azul e Gol, a futura companhia seguirá o modelo de “corporation” – empresa sem controlador definido, tendo o grupo Abra como maior acionista. Ainda não há definição sobre os percentuais de participação de cada empresa no negócio.
A ideia é a de que as marcas Azul e Gol continuem a existir de forma independente, mas as empresas compartilhem aeronaves. A fusão envolverá apenas ativos já disponíveis, sem previsão de novos investimentos.
A aposta das duas empresas é na “complementaridade” de suas malhas aéreas. Enquanto a Gol se concentra em grandes capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, a Azul conta com um leque mais amplo pelo país.
Fonte: Metrópoles