A megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro, provocou ampla repercussão internacional. Com 121 mortos, incluindo quatro policiais, a ação levou Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai a reforçarem a vigilância nas fronteiras, diante do risco de fuga de integrantes do Comando Vermelho (CV) e do Primeiro Comando da Capital (PCC).
O episódio também fez países vizinhos passarem a classificar as facções brasileiras como organizações terroristas. Além disso, o governo do Rio trabalha para que os Estados Unidos passem a reconhecer o CV como Organização Criminosa Transnacional (TCO), permitindo cooperação direta de agências norte-americanas.
Megaoperação no Rio
- A operação envolveu 2,5 mil agentes e resultou em 121 mortes, sendo quatro policiais.
- Entre os mortos, 78 tinham histórico criminal grave, 43 eram foragidos, 54 vieram de outros estados e 26 tinha antecedentes criminais, segundo as forças de segurança.
- Foram presos 113 integrantes, incluindo líderes de patrulheiros da Serra da Misericórdia, principal ponto de confronto.
- Segundo a Polícia Civil, pelo menos um terço dos presos são de outros estados, incluindo Pará, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Espírito Santo, Mato Grosso, São Paulo e Paraíba.
Argentina dispara alerta máximo nas fronteiras
A ministra da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, determinou na terça-feira (28/10) — mesmo dia da operação — alerta máximo nas fronteiras leste e noroeste, enviando de 150 a 200 militares especializados em operações de montanha à região de Bernardo de Irigoyen, na divisa com Santa Catarina e Paraná.
Bullrich informou que CV e PCC foram incluídos no Registro de Pessoas e Entidades Vinculadas a Atos de Terrorismo (Repet).
“Temos pessoas que são muito bem vigiadas entre si, para que não exerçam nenhum tipo de poder. Eles não conseguiram, nas prisões argentinas, o que conseguiram, infelizmente, em outros países — inclusive no Brasil e no Paraguai”, declarou.
“Facções como ameaça à soberania”, afirma Paraguai
O governo paraguaio reforçou patrulhas, controle migratório, operações de inteligência e vigilância estratégica na fronteira com o Brasil.
O presidente do Paraguai, Santiago Peña, assinará decreto que vai formalizar o CV e do PCC como organizações terroristas. A decisão a respeito das facções com origem no Brasil foi tomada em uma reunião conduzida por Peña que contou com a presença das mais altas autoridades do governo paraguaio.
“Todas as forças disponíveis serão mobilizadas para proteger cidadãos e instituições democráticas”, disse Peña.
Bolívia e Uruguai reforçam controle nas fronteiras
O presidente eleito da Bolívia, Rodrigo Paz, solicitou ao governo de Luis Arce aumento do controle nos departamentos de Pando, Beni e Santa Cruz, fronteiras com Acre, Rondônia e Mato Grosso.
Ele destacou que o país “não pode permitir que estruturas criminosas estrangeiras se infiltrem em seu território” e que a proteção da população e das fronteiras deve ser prioridade nacional. O Uruguai anunciou reforço da segurança fronteiriça, em coordenação com forças locais e agências internacionais, para impedir a entrada de integrantes das facções brasileiras.
Cooperação com os Estados Unidos
Segundo reportagem da CNN Brasil, o governo do Rio de Janeiro entregou ao Consulado dos Estados Unidos, há cerca de oito meses, um relatório detalhado sobre a atuação do Comando Vermelho no território nacional e em outros países. O documento aponta que a facção atua em rotas de tráfico de drogas internacionais, mantém conexões com cartéis da América do Sul e estaria recrutando integrantes nos Estados Unidos.
A iniciativa faz parte de uma estratégia do governo fluminense para ampliar a cooperação bilateral, incluindo a possibilidade de sanções financeiras contra lideranças do CV por meio do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac), ligado ao Departamento do Tesouro americano.
A medida, se aprovada, permitiria restringir recursos de bancos e empresas que eventualmente facilitem atividades da facção.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que mantém ações no Caribe sob a justificativa de combater narcotraficantes na Venezuela, não se pronunciou sobre a operação policial realizada no Rio de Janeiro.
O relatório gerou debate político interno. Autoridades brasileiras destacam que, embora o CV e o PCC sejam classificados no país como organizações criminosas, não se enquadram como terroristas, conceito que envolve motivação ideológica ou religiosa.
Expansão internacional do Comando Vermelho e PCC
O Comando Vermelho, fundado nos anos 1970 em presídios do Rio, consolidou-se controlando territórios, promovendo tráfico de drogas e estabelecendo alianças estratégicas. Após o rompimento com o PCC em 2016, expandiu operações internacionais, atuando com cartéis da Colômbia e Peru e enviando cocaína para Estados Unidos e Europa.
A facção também participa de mineração ilegal de ouro na Amazônia e exploração de rotas de contrabando de migrantes, agravando problemas ambientais e sociais na região. Relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) apontam que as facções brasileiras cresceram significativamente na “Amazônia Compartilhada”, entre Brasil e Colômbia, ao longo de sete anos, aproveitando lacunas estatais e a rentabilidade do narcotráfico.
Já o PCC está presente em pelo menos 28 países, expandindo o tráfico de drogas e armas e se infiltrando em presídios no exterior para recrutar novos membros e consolidar a estrutura transnacional.
Países da América do Sul, como Paraguai, Venezuela, Bolívia e Uruguai, concentram grande parte dos membros, enquanto Portugal se tornou o principal ponto de fixação na Europa, aproveitando laços culturais e linguísticos, o que tem levado a apreensões de drogas e prisões de traficantes ligados à facção.
PL Antifacção
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende endurecer o combate ao crime organizado com o envio ao Congresso do PL Antifacção, que cria o tipo penal “organização criminosa qualificada” e amplia as penas para integrantes, financiadores e servidores públicos ligados a facções criminosas.
O projeto prevê penas de até 30 anos para homicídios cometidos por ordens de facções criminosas e será enviado ao Congresso com pedido de urgência. Ele inclui afastamento de servidores suspeitos, restrições contratuais e monitoramento de empresas ligadas ao crime organizado, reforçando a prioridade do governo no combate às facções e na proteção da segurança pública.
Fonte: Metrópoles





