As forças israelenses avançam em direção ao centro da Cidade de Gaza nesta quarta-feira (24), colocando em risco as vidas de palestinos que continuaram com a esperança de que a crescente pressão sobre Israel por um cessar-fogo os impedisse de perder suas casas, enquanto diferentes nações ocidentais reconhecem o Estado palestino na Assembleia Geral da ONU.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se encontrou com líderes de países muçulmanos nas Nações Unidas, em Nova York, na terça-feira (23), para conversas que, segundo a agência de notícias estatal dos Emirados Árabes, se concentraram em um cessar-fogo permanente na guerra, bem como na libertação de reféns israelenses e na crise humanitária em Gaza.
Trump, que anteriormente condenou as ações de diversos países ocidentais para pressionar Israel por meio do reconhecimento, falou que um encontro com Israel seria o próximo.
Israel prossegue a campanha militar na Cidade de Gaza, apesar dos repetidos apelos para recuar, instando a população a se deslocar para o sul.
Milhares de pessoas deixaram a cidade no norte do território, mas muitas outras hesitaram devido aos riscos à segurança e à fome generalizada.
“Nós fomos para a zona oeste, perto da praia, mas muitas famílias não tiveram tempo; os tanques foram apanhados de surpresa”, disse Thaer, um homem de 35 anos de Tel Al-Hawa, pai de um filho.
Ataques aéreos atingem abrigo
As forças israelenses começaram a cercar a cidade de mais de um milhão de habitantes em agosto, com Israel afirmando que pretendia destruir a última fortaleza dos militantes do Hamas, cujo ataque a Israel e a captura de reféns desencadearam a guerra há quase dois anos.
Nesta quarta-feira (24), médicos afirmaram que pelo menos 20 pessoas morreram e muitas outras ficaram feridas quando ataques aéreos israelenses atingiram um abrigo que acolhia famílias deslocadas perto de um mercado no centro da cidade.
Outras duas pessoas foram mortas em uma casa próxima, disseram.
O exército de Israel afirmou que o ataque teve como alvo dois militantes do Hamas e que suas forças tentaram reduzir os danos aos civis na área.
Imagens obtidas pela agência de notícias Reuters mostraram pessoas vasculhando os escombros.
“Estávamos dormindo sob os cuidados de Deus, não havia nada — eles não nos informaram, nem nos deram um sinal — foi uma surpresa”, falou Sami Hajjaj. “Há crianças e mulheres, cerca de 200 pessoas, talvez, de seis a sete famílias — esta praça está cheia de famílias”, acrescentou ele.
Hospital foi atingido
No subúrbio de Tel Al-Hawa, tanques entraram em áreas povoadas, prendendo pessoas dentro de casa, enquanto mais tanques foram vistos estacionados perto do Hospital Al-Quds, segundo testemunhas.
O Crescente Vermelho Palestino disse que uma estação de oxigênio foi danificada.
Tanques também avançaram para mais perto do maior hospital de Gaza, o Al Shifa, disseram testemunhas e a mídia do Hamas.
O exército israelense relatou que os militantes do grupo abriram fogo de dentro do complexo do hospital, o que o Hamas negou.
“Tememos que essas mentiras possam ser o prelúdio de outro ataque ao hospital”, afirmou Ismail Al-Thawabta, diretor do escritório de mídia do governo de Gaza, administrado pelo Hamas, em referência a vários ataques anteriores das forças israelenses.
O exército de Israel divulgou imagens aéreas granuladas que pareciam mostrar tiros vindos de duas janelas. Eles não responderam imediatamente às perguntas da Reuters sobre como e contra quem foi estabelecido que militantes do Hamas abriram fogo.
Um oficial de segurança do grupo palestino falou que “gangues criminosas” abriram fogo contra o hospital de fora do complexo.
A Reuters não conseguiu verificar de forma independente os relatos conflitantes.
Frustração internacional com a guerra em Gaza
No sul de Gaza, pelo menos sete pessoas foram mortas em Nuseirat e perto de Rafah, segundo médicos.
Não houve comentários imediatos do exército israelense, que insiste que as ofensivas visam pôr fim ao domínio do Hamas no território.
Israel recebeu ampla condenação pela conduta militar em Gaza, onde mais de 65 mil palestinos foram mortos, segundo autoridades de saúde locais, e a fome se espalhou.
A frustração internacional com a guerra em Gaza levou alguns aliados israelenses e dos EUA a reconhecerem um Estado palestino esta semana.
O apoio à guerra em Israel também oscilou, com 48 reféns, 20 dos quais se acredita estarem vivos, ainda mantidos pelo Hamas em Gaza, e 465 soldados mortos em combate.
O Hamas reconheceu a morte de alguns de seus líderes militares, mas não divulgou o número de combatentes mortos.
A guerra começou quando o Hamas invadiu Israel em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo 251 reféns, segundo dados israelenses.
Fonte: CNN
