Cada vez mais isolado a nível internacional e sob pressão no próprio país, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, buscará defender sua estratégia de “terminar o trabalho” contra o Hamas, em Gaza, durante reunião com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta segunda-feira (29/9), em Washington (EUA).
Nos últimos dias, diversos países reconheceram o Estado da Palestina, acentuando o isolamento de Israel.
O encontro ocorre dias após o presidente americano apresentar um plano com 21 pontos para pôr fim à guerra na Faixa de Gaza, durante reuniões com líderes árabes e muçulmanos à margem da Assembleia Geral da ONU.
“Temos uma oportunidade real de alcançar algo grandioso no Oriente Médio. Todos a bordo para algo especial, pela primeira vez. Vamos conseguir!”, publicou Trump em sua plataforma Truth Social nesse domingo (28/9).
Na sexta-feira (26), ele havia dito que acreditava ter alcançado um “acordo” para pôr fim ao conflito, enquanto Netanyahu reafirmou perante a ONU sua vontade de “terminar o trabalho” no território palestino devastado pela guerra.
Pressão interna e externa
Especialistas consideram que Netanyahu está encurralado para encerrar a guerra, em meio a uma crescente pressão tanto a nível nacional quanto internacional.
“Não há outra opção senão aceitar o plano. Simplesmente porque os Estados Unidos, e Trump em particular, são quase os únicos aliados que ele (Netanyahu) ainda tem”, declarou Eytan Gilboa, especialista em relações israelense-americanas na Universidade Bar-Ilan.
Em Israel, milhares de pessoas têm saído às ruas repetidamente para pedir um cessar-fogo. Nesse sábado (27/9), manifestantes insistiram para que Trump usasse sua influência para alcançar o fim do conflito.
“A única coisa que pode impedir a queda no abismo é um acordo completo e abrangente que ponha fim à guerra e traga todos os reféns e os soldados de volta para casa”, declarou Lishay Miran-Lavi, esposa de Omri Miran, um dos reféns em Gaza.
O isolamento internacional de Israel se intensificou nos últimos dias, com vários países reconhecendo o Estado da Palestina, entre eles França, Canadá, Reino Unido e Austrália.
Plano de cessar-fogo
De acordo com uma fonte diplomática, o plano norte-americano de 21 pontos inclui um cessar-fogo permanente em Gaza, a libertação dos reféns israelenses detidos em território palestino, a retirada israelense do enclave e o futuro governo de Gaza sem o Hamas, cujo ataque de 7 de outubro de 2023 desencadeou a guerra.
Os líderes árabes e muçulmanos acolheram o plano favoravelmente e pediram que o exército israelense interrompa imediatamente sua ofensiva. No entanto, alguns aspectos podem parecer inaceitáveis para Netanyahu, que precisa do apoio da extrema direita em seu país para sustentar sua coalizão governamental.
Um dos pontos que podem gerar mais divergências é a participação da Autoridade Palestina na futura governança de Gaza.
Seu retorno ao enclave, governado pelo Hamas desde 2007, está condicionado a várias reformas internas, de acordo com o plano. Mas essa etapa “pode levar anos”, adverte Eytan Gilboa.
“Consenso global”?
Vários ministros de extrema direita de Netanyahu ameaçaram deixar o governo se o primeiro-ministro de Israel aceitar que a Autoridade Palestina assuma esse tipo de papel, ou se encerrar a guerra sem ter “destruído” o Hamas.
“Este tipo de plano abrangente exige um consenso também global”, considerou Ksenia Svetlova, ex-deputada e diretora da ONG Ropes para a cooperação regional.
Outro ponto de discórdia é sobre quem seria responsável pela segurança na Faixa de Gaza assim que Israel se retirasse e o Hamas fosse desarmado.
A iniciativa de Washington prevê uma força de segurança internacional composta por unidades palestinas e tropas de países árabes e muçulmanos. Mas nem a estrutura de comando, nem o controle operacional estão claros.
“Esse plano internacionaliza o conflito de Gaza de uma maneira inédita. Mas sem uma diretriz clara, nem objetivos finais definidos, nem uma liderança designada para concretizá-lo. O fator de imprevisibilidade é onipresente”, destaca Svetlova.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelo ataque de 7 de outubro de 2023 do Hamas no sul de Israel, que resultou na morte de 1.219 pessoas, em sua maioria civis, segundo um balanço baseado em dados oficiais.
A ofensiva israelense de retaliação no território palestino, que já dura quase dois anos, causou 66 mil mortes, em sua maioria civis, segundo números do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
Fonte: Metrópoles