O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, não informou a Casa Branca que autorizou uma pausa nos envios de armas para a Ucrânia na semana passada, segundo com cinco fontes familiarizadas com o assunto.
A medida desencadeou uma disputa na administração americana para entender por que a interrupção foi implementada e explicá-la ao Congresso e ao governo ucraniano.
O presidente Donald Trump sugeriu na terça-feira (8) que não era responsável pela medida.
Questionado, durante uma reunião de gabinete, se aprovava a pausa nos envios, o republicano hesitou, dizendo somente que os EUA continuariam a enviar armas defensivas para a Ucrânia.
Pressionado novamente sobre quem autorizou a pausa, ele respondeu: “Não sei, por que você não me diz?”.
O episódio ressalta o processo de formulação de políticas frequentemente desorganizado no governo Trump, particularmente sob Hegseth no Departamento de Defesa.
A pausa foi a segunda vez neste ano que Hegseth decidiu interromper o fluxo de armas de Washington para a Ucrânia, pegando altos funcionários da segurança nacional desprevenidos, disseram fontes.
A decisão aconteceu pela primeira vez em fevereiro e foi rapidamente revertida, relataram três das fontes — espelhando o que aconteceu na noite de segunda-feira (7), quando Trump anunciou que os envios de armas continuariam, apesar do secretário ter aprovado a pausa.
O enviado especial americano para a Ucrânia, o general aposentado Keith Kellogg, e o secretário de Estado Marco Rubio, também conselheiro de segurança nacional do presidente, também não foram informados sobre a pausa com antecedência e souberam dela por meio de reportagens da imprensa, segundo um alto funcionário do governo e fontes.
O secretário de imprensa do Pentágono, Kingsley Wilson, falou em um comunicado que dizia, em parte: “O secretário Hegseth forneceu uma estrutura para o presidente avaliar os envios de ajuda militar e os estoques existentes. Esse esforço foi coordenado por todo o governo.”
Questionada se o secretário da Defesa informou a Casa Branca antes de aprovar a suspensão dos envios, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou em comunicado que o Pentágono realizou uma revisão “para garantir que todo o apoio destinado a todas as nações estrangeiras esteja alinhado com os interesses dos Estados Unidos” e acrescentou que Trump “tomou a decisão de continuar fornecendo armas defensivas à Ucrânia para interromper a matança nesta guerra brutal, na qual o Pentágono afirmou estar trabalhando ativamente”.
Ela acrescentou que “o presidente tem total confiança no secretário de Defesa”.
Duas das fontes atribuíram a ausência de Hegseth na informação ao governo ao fato de ele não ter um chefe de gabinete ou conselheiros de confiança ao seu redor que pudessem incentivá-lo a coordenar melhor as principais decisões políticas com os parceiros inter agências.
Trump instruiu Hegseth a reiniciar alguns envios
Logo após tomar conhecimento da pausa na semana passada, Trump instruiu Hegseth a reiniciar o envio de pelo menos parte das munições — especificamente, mísseis interceptores para os sistemas de defesa aérea Patriot, que têm sido essenciais para proteger civis ucranianos de ataques implacáveis de mísseis e drones da Rússia.
Muitas das munições já estão na Polônia e podem ser transferidas para Kiev rapidamente, relatou o alto funcionário do governo.
O pacote de armas havia sido alocado pelo governo anterior e já estava a caminho da Ucrânia quando foi interrompido.
Em uma ligação com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na sexta-feira (4), Trump minimizou seu papel na decisão de interromper o fluxo de armas, informou.
O Pentágono só anunciou na noite de segunda-feira (7) que reiniciaria os envios sob orientação do presidente — após Trump ter afirmado publicamente no início da noite que os ucranianos precisavam das armas defensivas para se protegerem.
Trump reiterou essa posição na terça-feira (8) na Casa Branca.
“Eu vou dizer o seguinte: os ucranianos, quer você ache injusto que tenhamos dado todo aquele dinheiro ou não, eles foram muito corajosos, porque alguém tinha que operar aquilo”, expressou ele. “E muitas pessoas que eu conheço não estariam operando aquilo, não teriam coragem de fazer isso.”
Trump solicitou avaliação dos estoques de armas dos EUA, mas não interrompeu os envios para a Ucrânia
A decisão do Pentágono de suspender os envios de armas — incluindo mísseis interceptores Patriot e munição de artilharia — ocorreu depois que Trump solicitou a Hegseth, no mês passado, durante sua viagem à cúpula da OTAN, uma avaliação dos estoques de armas dos EUA, disse uma das fontes.
Irã e Israel estavam bombardeando um ao outro, e o líder republicano queria garantir que as tropas americanas na região tivessem munição suficiente para se defender, se necessário.
O porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, confirmou na semana passada que o departamento estava conduzindo “uma revisão de capacidade… para garantir que a ajuda militar dos EUA esteja alinhada com nossas prioridades de defesa”.
Mas Trump não instruiu especificamente Hegseth a interromper os envios de armas para a Ucrânia como parte dessa revisão, disseram três das fontes.
A recomendação veio da subsecretária de Defesa para Políticas, Elbridge Colby, confirmaram todas as cinco fontes, que há muito tempo se mostra cética em relação ao envio de grandes quantidades de ajuda militar de Washington para a Ucrânia.
“Uma política que priorize a Europa não é o que os Estados Unidos precisam neste momento excepcionalmente perigoso. Precisamos nos concentrar na China e na Ásia — claramente”, escreveu Colby no X no ano passado.
Fonte: CNN Brasil