A linda e histórica campanha do Esporte Clube Macapá na Taça São Paulo, carrega, dentro de si, o simbolismo dos que acreditam no sucesso, mesmo não parecendo viável ou possível. O grupo de jogadores que está competindo é uma arca da esperança. São jovens jogadores que alimentam o sonho de ingressarem no milionário mercado da bola. É uma oportunidade de ouro, contudo, a chance de lograr êxito, sabe-se, é escassa, mesmo que, eventualmente, pela força da motivação, o otimismo abasteça suas mentes de provável sucesso. Não há espaço para choro nessa jornada competitiva. Então, como o novo Jeremias de Cassiano Ricardo, diferente do profeta chorão da bíblia, os jeremias da arca do Esporte Clube Macapá também não podem se dar o luxo de chorar diante das vicissitudes.
O quadro revelado da vida humilde do jogador Jeremias do Esporte Clube Macapá impõe uma séria reflexão sobre as políticas públicas para a periferia. Há nesse ecossistema problemas a serem resolvidos. Vão da insegurança alimentar, ou fome no sentido mais profundo dessa grave mazela social, à moradia digna, à superação da violência como gargalo crônico das comunidades pobres ou à oportunidade emprego. No meio de tudo isso há a insensibilidade do Leviatã, descrito por Thomas Hobbes. O futebol – com suas nuances especificas – foi capaz de trazer à tona o orgulho da vida na periferia, onde o calor humano e a solidariedade se traduzem em pilares de resistência, garantidores da sobrevivência, diante da indiferença das políticas púbicas.
O grito de Jeremias “é nós dos Congós” é um grito de alerta. Perpassa pelo orgulho do pertencimento ao aviso inocente e certeiro de que há seres humanos que precisam de ajuda. O Esporte Clube Macapá está no papel de veículo transmissor do grito dos necessitados que praticam futebol competitivo e que precisam da mão poderosa do estado para demonstrar que suas habilidades podem lhes garantir uma vida digna. Jeremias, com seu grito empolgante, faz uma denúncia do esquecimento dos meninos da periferia, que apesar da secura da vida, ainda resistem e demonstram que há esperança de uma virada de chave para um bem-estar social, bastando ouvir os seus gritos: “é nós dos Congós!”