Engana-se quem imagina que enveredarei por uma análise política-ideológica das manifestações até porque, como os que acompanham os meus artigos estão cansados de saber, este procedimento não é a minha praia. Já existem muitos analistas políticos em nosso país escrevendo sobre as suas interpretações pessoais. Volto a repetir: sou defensor do “livre arbítrio”, que permite que cada um acredite no que quiser. Aproveito também para concordar com o amigo Ibiapaba Neto, que afirma ser fã da coerência.
Estava em Brasília no dia das manifestações, que também ocorreram em outras cidades Brasil afora, e pude tomar conhecimento dos fatos, ou seja, as minhas afirmativas não são baseadas em versão sobre os atos, mas em observações feitas no próprio lugar onde se concentraram os brasileiros. Entendo, entretanto, que em um país extremamente partidarizado, tenhamos inúmeras versões dos fatos. Algumas verdadeiras; outras só versões.
A própria grande mídia teve sua narrativa dos acontecimentos, com a sua versão dos fatos. Mesmo assim, quando exibiu as imagens, os fatos “saltaram à vista” e apareceu a multidão captada pelas lentes de cinegrafistas, fotógrafos e participantes do evento. Ou seja, prevaleceu a máxima de que uma imagem vale mais do que mil palavras. Ou, como diz Fox Mulder na série Arquivo X: “A verdade está lá fora”.
As minhas análises, publicadas semanalmente neste espaço de A Gazeta, são voltadas ao agro e nunca à política. Seguindo a linha de sempre, que quero narrar o que assisti no dia 7 de setembro. O Brasil e o mundo assistiram espantados milhões de brasileiros irem às ruas de todo o país de forma ordeira, pacífica e educada para manifestar as suas insatisfações. A enorme multidão era composta pelos integrantes do agro aliados à sociedade civil.
O que espantou a todos foi a civilidade da manifestação que reuniu, de forma espontânea, milhões de pessoas da mor parte do país. Pessoas que não se conheciam, mas que tinham o objetivo de mostrar seu amor pelo Brasil e o fizeram sem quaisquer incidentes, violência, quebra-quebra e depredações, apesar de vozes extremistas, que acabaram sendo caladas pelos manifestantes. Aqueles que há muito denigrem a imagem dos brasileiros, afirmando que somos um povo “mal-educado”, foram forçados a calar a boca. Os brasileiros que se manifestaram na Esplanada dos Ministérios deram uma lição inconteste de civilidade e educação.
Não entrarei no debate de quem convocou quem ou sobre as bandeiras das manifestações. O que ficou bem claro é que a nação está insatisfeita por uma série de razões. As oportunidades criadas pelas manifestações envolvem efeitos colaterais imprevisíveis e indesejáveis. Para aqueles que desejam criticar a democracia aí está a chance. Confesso que nestes ¾ de século de vida jamais assisti tanta democracia em nosso país. Por favor não venham me dizer que algumas atitudes de exceção e abuso de autoridade descaracterizam a democracia. Como diz a sabedoria popular: “A exceção confirma a regra”.
Os que criticam as manifestações, alegando que não atingiram seus objetivos, cometem um grande engano. Na minha opinião, o objetivo foi totalmente atingido, porque o povo foi às ruas e deixou, de forma bem cristalina, que não está satisfeito com o “andar da carruagem”. A mensagem está aí para quem quiser entender. O povo quer paz e não pax.
Enquanto tudo acontece, o nosso planetinha continua a girar e o nosso agro tem muitas batalhas a enfrentar – marco legal, cuja alteração fragiliza e põe em risco a propriedade privada; reforma tributária, que se não for conduzida de forma coerente apenas servirá para aumentar a carga tributária atingindo frontalmente o agro, fragilizando-o; reforma do Imposto de Renda; CBS e mais uma série de percalços. Espero que as manifestações não nos desviem das nossas lutas em defesa do agro e do Brasil.
Paralelamente a tudo que acontece me chamou a atenção um artigo escrito por Priscilla Primi, em 02/09/2021, com o título “Pelo fim dos modismos na alimentação”, que é um alerta à produção agropecuária, que tomo a liberdade de transcrever trechos:
“A alimentação saudável é uma das áreas mais afetadas quando se fala em modismos. Assistimos ao ápice e à decadência dos vários tipos de dieta: da lua, da maçã, do astronauta, do sopão, do Dr. Atkins, Dunkan, e as mais recentes: sem glúten e sem lactose, detox, plant based, paleo, low fat, cetogênica e jejum intermitente, que prometem (ou prometeram) alcançar o peso desejado em pouco tempo. Todos os dias, nas mídias sociais, “brotam” influenciadores do estilo de vida saudável. Postagens e mais postagens com fotos da rotina alimentar e da dieta da vez: café da manhã com suco “detox”, almoço com proteína, saladinha e o jantar, claro, sem nenhum carbo. Outras postagens “ensinam” o que são alimentos “bons” e “ruins”. Nota-se, principalmente entre os jovens de maior poder aquisitivo, que ninguém mais come carne ou ovo. Come “proteína”. Chamam pão, farinha, macarrão e arroz de “carbos”. Alimentos sem glúten, sem lactose e sem açúcar parecem ter um lugar garantido no “olimpo” dos corpos perfeitos e saudáveis. Parece ser um símbolo de status chamar o alimento pelo nutriente. Não comemos mais comida, mas a classificação de um dos nutrientes que a compõem”.
Pois é, “assim caminha a humanidade”, com alguns seres humanos, extremamente criativos, tentando desmerecer as dietas alimentares que sustentaram e fizeram evoluir, ao longo da existência, esses pobres e frágeis animais, ditos racionais, que somos todos nós.
Por isso, só me resta afirmar que é lícito a qualquer um possuir e cultivar as suas próprias verdades desde que nunca esqueçam que “a verdade está lá fora”.