Oscar-Claude Monet (1840-1926) é um pintor francês considerado fundador do Impressionismo, escola de pintores dos séculos dezenove/vinte que, afastando-se da visão clássica como a de Leonardo da Vinci, renascentista italiano genial que usava as tintas para retratar o que via como verdade, produzindo telas e afrescos famosos, entre eles a Mona Lisa e a Última Ceia, os seguidores de Monet colocavam em sua pintura impressões que lhes sobrevinham do que sua visão registrava. O próprio nome do movimento – Impressionismo – é atribuído a um quadro de Monet que recebeu o título “Impressão nascer do sol”, que levou o crítico Louis Leroy a afirmar “impressão, nascer do sol; eu bem o sabia”.
O Impressionismo inclui gênios da pintura tais como, óbvio, o próprio Monet, mas também Édouard Manet, Pierre-Auguste Renoir (meu preferido com O Baile do Bougival, Le Moulin de La Galette e outros), Morissot, Pissaro, Bracquemonde, a americana que virou parisiense Mary Cassatt e seu grande amigo o pós-impressionista Edgar Degas, que nos legou a visão fantástica do Bebedor de Absinto e o torturado Van Gogh com seu Girassóis e a Noite Estrelada.
Nosso tema central é a exposição imersiva Monet à Beira d´agua. Por que imersiva? Porque, além do emprego de alta tecnologia, o expectador é levado a literalmente imergir, mergulhar na obra de Monet. Através de recursos óticos, passeia-se nos campos de nenúfares, que se refletem sutilmente no chão, enquanto nas paredes as telas ganham movimento e som. Isso mesmo. Movimento e som. Na série sobre a Estação de Saint Lazare, primeira das series em que o pintor se afasta das cenas campestres para registrar cenas urbanas, acompanha-se a movimentação dos passageiros na gare, percebe-se as diferentes nuances de luz e cor na fumaça que se evola dos trens, ouve-se nitidamente o resfolegar da locomotiva e o apito quando a composição avança sobre os trilhos e segue sua trajetória.
A série sobre a Catedral de Rouen começa com os esboços projetados nas paredes prologando-se no chão para depois mostrar aquilo que Manet nos faz sentir: as ambiências que sutilmente mudam, ainda que o foco central, a antiga igreja, não mude. Ao compor as trinta e uma peças que integram a série, o artista capturou com maestria as cambiantes de cor e luz das vetustas paredes do templo na medida em que se apresentavam diferentes ao longo dos dias e das estações do ano.
Não faltaram na formatação do ambiente dois lagos artificiais que contribuíam para compor os jogos de luz. Contornando os lagos e deles compondo as bordas, bancos nos quais se podia sentar e que permitiam com relativo conforto assistir o que era mostrado nas paredes em trezentos e sessenta graus. Um espetáculo!
Para completar o conjunto, não faltou réplica da famosa ponte em estilo japonês sobre a lagoa, a lembrar a que está nos jardins da propriedade rural de Manet em Giverny, destino obrigatório para os amantes da arte em visita à França.
O espaço cultural é de fácil acesso, montado no Bulevar Olímpico, no Centro da Cidade do Rio de Janeiro, na avenida Venezuela, 190.
Notável a presença de caravanas de estudantes, crianças e adolescentes, assim como constante a chegada de excursões em ônibus de turismo. Indicação de que, mesmo se esforçando para sair da pandemia, mesmo enfrentando a violência, mesmo lutando contra o desemprego e a cruel desigualdade na distribuição de renda, e apesar do desempenho do Flamengo estar longe de ser aquilo que a torcida rubro-negra tanto espera, esta Cidade Maravilhosa, por mais que não se possa contar com o Chacrinha balançando a pança, continua a merecer o que da urbe diz o famoso samba: o Rio de Janeiro continua lindo. E a mostra Monet à Beira d’Água é, com certeza e entre as muitas atrações cariocas, um momento imperdível de cultura e sensibilidade.