Seria o oposto à ideia do Monopólio. Este ocorre quando o vendedor domina determinado produto ou serviço, explorando-o sem concorrência e fixando o preço – por vezes, exorbitante.
No Monopsônio teríamos o sentido oposto, com o comprador sendo tão poderoso que passe a dar as cartas e fixar o preço a pagar.
A questão é que o conceito, em proporções globais, acaba sendo mais do que puro ato de mercado.
Quando um único e grande comprador adquire produtos de vários vendedores, por longo tempo, não domina só os preços, já que cria complexa cadeia de dependência. Esta acaba produzindo também ingerências políticas que retroalimentam o seu poder de compra.
A cadeia de fornecedores se torna tão dependente que começa a disputar entre si, como num leilão às avessas. Embora a história nos dê exemplos, nada se compara ao que ocorre, hoje, no mundo.
A China adquire imensas quantidades de diferentes produtos e, no mercado global, acumula cotas significativamente elevadas. Compra muitos recursos minerais e matéria prima de vários formatos, para alimentar a sua indústria de base e necessidade energética. Sua pujança é tamanha que já se criou a forte subordinação da cadeia produtiva e de suprimentos.
Em tão grande amplitude, a questão não é mais de natureza puramente mercantil. Há forte elemento político e de Soberania no contexto, já que controla o fluxo econômico do mercado presente e futuro.
A cadeia de sujeição política e econômica cresce cada vez mais e, com isso, fomentando o seu poder em cada relação negocial individualizada e, claro, no contexto regional e global.
Exemplo tivemos nesse período da Pandemia do Covid 19, com a diminuição no fluxo de mercadorias no porto de Xangai – o maior do mundo! Foram meses e meses de imenso congestionamento, afetando o comércio global. Os reflexos foram enormes. Esse contexto bem reflete a capacidade da China em interferir na circulação de mercadorias e de capital, com sua grande influência nos negócios e na política.
A espiral não se interrompe, muito ao contrário, aumenta constantemente. Como afluentes em direção ao grande rio e, este, rumo ao mar, a tendência é que tudo prossiga neste fluxo.
É como se um buraco negro espacial, com seu imenso campo gravitacional, atraísse e absorvesse tudo à sua volta.
Esse quadro é típico do Monopsônio mais evidente e contemporâneo. Estamos vendo-o ganhar corpo, em proporção gigantesca. E mais: parece estar longe da estagnação e do seu limite de compras e de crescimento!
Qual país fecharia as suas portas e cofres ao comprador de tal proporção, com a maior população do mundo e necessidades de permanente expansão e, mais ainda, com dinheiro operar?
Essa é a condição de guerra quase ideal: sem armas, sem mobilização de exércitos, sem questões diplomáticas e sem mortos e feridos pela ação direta de qualquer gestão.
Com isso, o mercado age como o aríete e lança as bombas simbólicas, capazes de fazer erodir os cofres nacionais, derrubar as bolsas e atingir as famílias – mesmo as mais desinteressadas em política e economia.
Noutra ponta, programas nacionais, alvitrando solução de problemas domésticos, acabam sendo engolidos naquela espiral e os governos acabam não conseguindo operar na pureza das suas intenções.
O que vimos nas dominações inglesa e norte-americana, nos últimos séculos, não encontra paradigma em velocidade e dimensão. Tudo hoje é muito ágil e gigantesco. Os produtos – todos, inclusive alimentos – afluem rumo ao grande comprador. Não interessa se haveria escassez ou dificuldades internas, pois os mercados internacionais ditam as regras, quantidades e preços. Tudo acontece como num turbilhão… Como as nações alimentam o livre mercado, este acaba criando embaraços à Soberania de cada uma.
Ademais, é crível que poderemos chegar a um momento em que apenas comprar produtos possa não mais interessar e que o fim da concorrência de compradores e a absoluta dependência dos mercados levem a uma política de aquisição industrial e das terras agricultáveis e hábeis à pecuária.
Aí, não se estará falando apenas na compra e venda de produtos, mas na aquisição das matrizes produtivas e das próprias terras. Nesse ponto, a fatura estaria liquidada, na sua plenitude. A dominação seria total. Ao ganhador caberia tudo!
Embora o cenário seja digno das imagens mais dramáticas dos filmes de ficção científica, não parece absolutamente utópico, na medida em que o mundo chega aos atuais níveis de população – que continua a crescer – poluição, demanda por energia e, sim, alimentos.
Uma coisa é ter a padaria e vender os pães. Outra é vender a padaria e depois ter que comprar os pães. Nem tudo se pode vender. Nem tudo é questão de preço. Há valores absolutos e estratégicos e devem existir governos altivos em sua defesa.
Já sabemos que empresas chinesas investem em empresas estratégicas de água, no Chile; em minas de Lítio, na Argentina; em minas de ferro, na Libéria, etc. Além disso, com voracidade, compram terras no exterior…
Sem o controle das águas e sem terras para produzir alimentos, os países que as perder ficariam na absoluta dependência de ter de comprar – pelo preço, que se lhes quiser vender – a água potável e os produtos alimentares mais básicos para a população. Quem não conseguir contornar a situação ficará com o caos.