Por onde começa a assistência técnica? Pelo começo. E qual o começo em nosso país? O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Pelo andar da carruagem precisaremos de milagre.
O nosso Ministério da Agricultura está com orçamento reduzido e contingenciado. Os técnicos mais antigos e experientes em idade de aposentadoria. Não há concurso para contratações de novos técnicos e reposição dos que estão se aposentando. O governo delegou à Ministra, com meios limitados, a missão de manter o Ministério operando e de viabiliza-lo. A Ministra tem, como se diz, se virado nos 30 e cumprido muito bem a missão, todavia para tudo há limites que esgotados só milagre.
Acho maravilhoso o discurso de que a vocação do Brasil é rural. E daí? Gosto de citar as minhas experiências pessoais. Desde menino me senti vocacionado para a arqueologia, como percebi que não era rico e não havia recursos suficientes no Brasil para o desenvolvimento da atividade, meu bom senso me orientou para outra atividade.
Vocação é suficiente? Absolutamente não! É preciso que haja recursos para viabiliza-la. No passado os meus artigos apenas colocavam “o bode na sala” e apontavam os problemas. Um belo dia um político, que respeito muito, me chamou a atenção de que meus artigos apenas apontavam problemas e não tinham qualquer compromisso de apontar sugestões, a partir daí comecei a propor as soluções com sugestões pessoais.
As soluções voltadas para o Agro começam com o fim do contingenciamento e reforço do orçamento do Ministério da Agricultura para que a Ministra e os Ministros futuros possam cumprir a missão delegada levando o Agro ao novo patamar que o Brasil e o mundo precisam. O trabalho não se limita as contratações de novos técnicos. Precisamos voltar à época áurea do Agro quando o MAPA era uma instituição inteiramente fortalecida para enfrentar suas inúmeras atribuições. Na época possuía recursos para treinar seus técnicos no exterior absorvendo as experiências de outros países o que redundou na revolução do Agro tropical. Até quando ficaremos sentados festejando a vitória do novo Agro em um momento que precisamos de nova revolução? O Brasil precisa do Agro forte. O sucesso do Agro tropical e o nosso recente protagonismo no comércio internacional despertaram o mundo para a necessidade de desenvolver a Agropecuária sem o uso de grandes extensões de territórios, à semelhança de Israel e Holanda, com o emprego de novas técnicas e aprimoramento da tecnologia
O conhecimento e sua difusão são extremamente importantes para que possamos acompanhar a nova realidade. Precisamos voltar ao passado e devolver para a esfera do MAPA as faculdades de ciências agrárias, hoje jogadas na vala comum do Ministério da Educação. Criar no, âmbito do MAPA, escolas de técnicas agrícolas nos municípios “polo” do vasto “interland” brasileiro e não nas capitais, em parceria com universidades brasileiras e de outros países. Injetar mais recursos nas faculdades de ciências agrárias, hoje denominadas de faculdades de Agronomia e Veterinária para que, realmente, exerçam a contento os objetivos de ensino, pesquisa e extensão, em parceria e orientação do próprio Ministério da Agricultura. Em passado recente, no Pará, participei de uma missão junto à Universidade da Baviera onde tentamos a parceria para a implantação de escolas técnicas no interior com o estado, o projeto foi abortado pelo estado sem maiores explicações. No passado o MAPA exercia a maioria das atribuições que foram distribuídas para outros Ministério e dava conta do recado. Já o Ministério da Economia, a Receita Federal e o próprio Parlamento não tem que se preocupar em taxar o Agro e sim buscar soluções para fazê-lo crescer.
Existem algumas faculdades de ensino rural que, heroicamente e praticamente sem recursos, já vem desenvolvendo um bom trabalho nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, é preciso difundir para outras as experiências de sucesso. Também já existem algumas escolas técnicas que, nas mesmas bases, tem tido sucesso. Precisamos restaurar a Embrater e o belíssimo trabalho que as Emater desenvolviam.
São estas as bases da verdadeira “assistência técnica” para o desenvolvimento do Agro. Precisamos formar um verdadeiro exército de técnicos para viabilizar a vocação do Brasil. Não se trata de trabalho heroico e isolado de meninas e meninos pelo interior deste Brasilzão. Existe toda uma base sólida por trás de uma boa assistência técnica que não é barata ou simples. As faculdades e as escolas técnicas, além de ensino tem que disponibilizar para seus alunos preparo de como difundir as técnicas de acordo com a região do país. Não é correto deixar a critério da imaginação e criatividade desses grupos de abnegados as formas de difundir conhecimentos, acessar e mobilizar os produtores.
Precisamos mudar o foco da nossa luta e de nossos pleitos para pugnar pelo fortalecimento do Ministério da Agricultura que sempre foi o grande parceiro e continua sendo, nunca nos abandonou. Não o abandonemos! Temos que lembrar a todos os governantes um lema das forças armadas:
– Quem dá a missão fornece os meios para realiza-la!
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento precisa de recursos abundantes para alavancar o Agro brasileiro diante da nova realidade que se aproxima com a explosão do crescimento populacional do planeta.
Outro aspecto que tem que ser observado é o poder aquisitivo do nosso povo, principalmente após essa tragédia da pandemia, o Agro precisa de subsídios maiores. A retirada ou redução de subsídios é uma loucura suicida. Todos os nossos concorrentes no mercado internacional recebem altos subsídios, mesmo disfarçados. Sem subsídios o jogo fica desigual e desonesto.
Gil Reis
Consultor em Agronegócio