Venho das Mil e Uma Noites acender o Sol em milhões de amanhecer…
Sou o singular no universo plural da criação e da ação multifacetada dos viajores da Esperança. Esperança multiplicada em gestos de acolhida e de corajosas saídas emblemáticas dos altares e teares fibrosos, ardilosos e encardidos por preconceitos embrutecidos pela ignorância servida em taças de cristais ou em embalagens de pesticidas.
Sou aquela que é louvada como santa nas procissões, cantada como razão da vida, flor e perfume nas horas de conquistas dos Don Juan…
Não obstante, no dia a dia, muitas vezes sou apedrejada, esquartejada, vilipendiada, assediada, humilhada, rebaixada por conta do fato de que para muitos virei mercadoria, avaliada pelo peso em medidas de maior ou menor valia. Sou, por conseguinte, a que está permanentemente nas publicações e estatísticas nas versões mais tristes da condição humana, no pós século XX.
Notícias estampam em letras geométricas um verso sem métrica, onde se lê peripatético, cenas de filmes de terror: “Morreu pelo menos uma mulher por dia vítima de feminicídio no Brasil, em 2022”; “Das mulheres brasileiras 46% sofreram assédio sexual, em 2022”. E não bastasse isso, há o fator de mercado, onde a situação se agrava; pois, em pleno 2023, as mulheres, em média, ganham 20% a menos do que os homens nas mesmas funções, nesta nação futurista.
Sou aquela que sabe que amanhecer manhãs é libertar-se de medos e ódios;
é espalhar o amor de querer saber ver a cristalina face da verdade, destampar o oculto ou o secreto anteparo hipócrita que aterroriza cidades, vilarejos, florestas e fazendas sem vestígios do litígio.
Eu sou a mulher.